Boato tóxico espalha informação falsa sobre máscara tornar o sangue ácido

Grupos negacionistas e que não têm mais o que fazer da vida buscam desestimular uso de proteção comprovadamente efetiva contra coronavírus

É falsa a afirmação de que máscaras de proteção individual podem fazer com que as pessoas respirem gás carbônico, o que deixaria o sangue ácido e causaria câncer ou outras doenças. O boato é de 2020 e voltou a circular nas redes sociais  através de uma peça gráfica. Especialistas consultados pelo Estadão Verifica explicam que o material utilizado nas máscaras não permite a retenção de CO2.

Ao contrário do que diz a publicação, com o acessório no rosto, uma pessoa consegue respirar oxigênio e expirar gás carbônico sem qualquer dificuldade. “As máscaras cirúrgicas ou de tecido não fazem com que você retenha CO2, pois elas permitem uma troca gasosa entre a parte interna e a externa”, explica Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Segundo o especialista, o que pode acontecer é que a região interna da máscara fique mais quente, gerando um desconforto, mas isso não quer dizer que tem menos oxigênio. “Além disso, para acontecer o acúmulo de CO2, a máscara precisaria ser feita de um material específico para isso, o que não é o caso.”

Na publicação, o gás carbônico que seria retido é classificado como “o próprio veneno” do corpo de uma pessoa. Para Alexandre, essa é uma expressão sensacionalista, uma vez que as máscaras permitem a dissipação dos gases. “É diferente de respirar com um saco plástico na cabeça”, pondera. 

Máscaras têm pequenos filtros que barram as gotículas transmissoras do vírus, porém não impedem a passagem de ar e nem bloqueiam a respiração. O infectologista Jean Gorinchteyn, atual secretário de Saúde do Estado de São Paulo, chama a atenção para o fato de que O2 e o CO2 são muito menores do que essas gotículas e, portanto, conseguem passar sem obstáculo pelos poros de uma máscara.

Segundo o infectologista Leandro Curi, as máscaras são feitas com princípio na ergonomia e, por isso, se ajustam bem e são eficazes. “Mesmo as máscaras de pano caseiras garantem uma filtração muito boa se comparadas à eliminação de gotículas sem elas. As cirúrgicas e N95, então, nem se fala”, explica. Ele ainda afirma que as máscaras mantêm viável a troca de ar para a respiração. “Afirmar que o aumento da concentração de CO2 é alto ao se usar essas máscaras é perigoso, pois desestimula o uso desses equipamentos de proteção. Cirurgiões, enfermeiros e várias classes de trabalhadores utilizam máscaras diariamente há anos, e ninguém foi intoxicado ou asfixiado por isso.”

Além disso, é infundado o boato de que usar máscaras pode levar alguém a ter tumores malignos. De acordo com o infectologista Alexandre Naime Barbosa, mesmo que as máscaras dificultassem a respiração, não existe qualquer relação com o surgimento de câncer. “Se fosse assim, locais com altitudes elevadas, que possuem menos oxigênio, teriam maior incidência da doença, o que não ocorre.”

Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o uso de máscaras faz parte das medidas de prevenção para frear a propagação de doenças respiratórias virais, como a Covid-19, mas que somente isso não é suficiente. Além do equipamento de proteção individual, é recomendado higienizar as mãos e manter o distanciamento físico.

Uso de máscaras na pandemia 

Não é a primeira vez que informações falsas sobre o uso de máscaras surgem em meio à pandemia do novo coronavírus. Em setembro de 2020, o Estadão Verifica desmentiu publicações que alegavam que o material de proteção não reduzia a transmissão da covid-19. Em dezembro do último ano, uma reportagem em parceria com o Projeto Comprova também esclareceu que o uso de máscaras impede a disseminação de gotículas no ambiente, e por isso é indicado para a proteção contra o coronavírus.

A agência de checagens Aos Fatos e a revista Veja Saúde também desmentiram o boato sobre a máscara tornar o sangue ácido e causar câncer. 

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

Confira a matéria no Estadão

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