Empresário preso na Tris in Idem afirma ter feito pagamentos a Witzel quando governador afastado ainda era juiz federal

Nesta segunda-feira (14), Witzel foi denunciado pela segunda vez, agora por liderar uma organização criminosa para desviar recursos públicos.

Na segunda denúncia contra o governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), a Procuradoria-Geral da República (PGR) cita o depoimento de Edson Torres, um dos presos na Operação Tris in Idem.

Torres afirmou ao Ministério Público Federal (MPF) que fez pagamentos a Witzel em 2018, quando o governador afastado ainda era juiz federal.

No depoimento, Torres disse que, em troca, assim que Witzel se elegeu, cada grupo que havia ajudado procurou espaços no governo para ter retorno do dinheiro investido — e o desvio, segundo o depoente, chegou a R$ 50 milhões só na Saúde.

Depoimento após prisão

Após deixar a cadeia, Torres, apontado como sócio do presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, decidiu prestar um depoimento ao MPF — segundo os procuradores, para confessar os crimes que cometeu.

O empresário narrou ao MPF que conversou com Everaldo sobre a necessidade de dar um “conforto e uma segurança financeira para o então juiz federal”. “Caso ele pedisse demissão e se perdesse a eleição, não teria a garantia dos vencimentos que recebia enquanto juiz”, depôs.

Torres disse que marcou reuniões com alguns empresários. “Mas, diante da perspectiva mínima de chance da eleição, houve poucos interessados”, disse.

Em setembro de 2018, por exemplo, Witzel tinha 2% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope.

Segundo Torres, o doleiro Victor Hugo Cavalcante se interessou, e o grupo acertou uma arrecadação de R$ 980 mil.

O empresário afirmou ao MPF que esse dinheiro foi pago em espécie a Witzel durante quatro meses em cinco parcelas de aproximadamente R$ 150 mil.

Edson Torres confessou aos procuradores que entregou a primeira parcela ao Pastor Everaldo; outra a Lucas Tristão; e a terceira e a quarta teriam, segundo Torres, sido pagas por Victor Hugo.

O empresário afirmou que entregou pessoalmente a última parcela em uma sala onde estavam Witzel e Everaldo. Torres disse que abriu uma pasta, retirou maços de dinheiro de R$ 50 mil, cada, e entregou ao Pastor Everaldo, “que repassou a Witzel, que colocou em uma bolsa que estava levando”.

‘Caixinha da propina’ em troca

Edson Torres explicou em depoimento que os grupos que ajudaram Witzel ainda na campanha escolheram espaços no governo para reaver os investimentos.

“Segundo confessado por Edson Torres, do início do governo (em janeiro de 2019) até junho deste ano, essa ‘caixinha da propina’ na Secretaria Estadual de Saúde arrecadou vantagens indevidas no valor de aproximadamente R$ 50 milhões”, diz o MPF.

Ainda, segundo Edson Torres, a propina era sempre exigida em espécie. Em regra, o percentual variava de 3% a 7%.

E ficou combinada a seguinte divisão:

  • 15% para o próprio Torres;
  • 15% para Victor Hugo Cavalcante;
  • 30% para Edmar Santos, ex-secretário de Saúde;
  • 40% para a estrutura do governo — que englobaria Everaldo e o governador.

O rateio é o mesmo que havia sido informado por Edmar em delação premiada.

Transferências de escritório

Os investigadores descobriram que a empresa Atrio-Rio, ligada ao empresário Mário Peixoto, repassou R$ 225 mil entre julho e outubro de 2018 para o escritório Tristão do Carmo e Jenier advogados associados, do qual o ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, era sócio majoritário.

Pela quebra de sigilo fiscal de Witzel, foi possível identificar que o então candidato recebeu do escritório de Tristão R$ 412 mil ao longo de 2018.

Para os investigadores, era uma forma de viabilizar a transferência indireta de valores de Mario Peixoto para Witzel.

Caderno com anotações

Helena Witzel foi denunciada por ter recebido pagamentos de empresas suspostamente ligadas a Mario Peixoto por serviços nunca prestados.

Na Operação Tris in Idem, os investigadores encontraram um caderno dentro da bolsa dela.

Caderno apreendido com Helena Witzel — Foto: Reprodução/TV Globo

Nele, em uma página, anotações de empresas, meses e valores.

Em outra página, datas, valores e os nomes das empresas, como Dpad, Coop e Quali —suspeitas de ter pagado por serviços nunca prestados, pra esconder o repasse de propina.

A Polícia Federal comparou as letras com outros documentos e concluiu que a primeira tabela foi escrita por Wilson Witzel. A segunda, por Helena.

Os investigadores acreditam que, pelo caderno, o governador afastado tinha conhecimento dos pagamentos suspeitos.

Nele, em uma página, anotações de empresas, meses e valores.

Em outra página, datas, valores e os nomes das empresas, como Dpad, Coop e Quali —suspeitas de ter pagado por serviços nunca prestados, pra esconder o repasse de propina.

A Polícia Federal comparou as letras com outros documentos e concluiu que a primeira tabela foi escrita por Wilson Witzel. A segunda, por Helena.

Os investigadores acreditam que, pelo caderno, o governador afastado tinha conhecimento dos pagamentos suspeitos.


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