Plano da Volvo é evitar ferimentos graves e reduzir o número de mortes em acidentes de trânsito
Enquanto que os carros autônomos ainda estão distante de dominar as estradas, a decisão de obedecer aos limites de velocidade – ou acelerar de forma imprudente um veículo até o limite de seu desempenho – cabe aos motoristas.
Só que a Volvo não pretende esperar a chegada definitiva dessa mobilidade inteligente e decidiu assumir o comando da situação. A marca sueca, controlada pela chinesa Geely e conhecida por sua ênfase na segurança automotiva, anunciou planos para limitar a velocidade máxima da sua linha de veículos.
A partir de 2020, todos os exemplares novos da montadora estarão limitados a 180 km/h – ou cerca de 112 mph. A mudança é parte de um plano ambicioso chamado Vision 2020, que visa eliminar todos os ferimentos graves e diminuir o número mortes a bordo de um Volvo.
“A Volvo é líder em segurança: sempre fomos e sempre seremos”, disse Håkan Samuelsson, presidente e diretor-executivo da marca, em comunicado divulgado nesta segunda-feira (5).
“Por causa de nossa pesquisa, sabemos onde estão as áreas problemáticas quando se trata de acabar com ferimentos graves e fatalidades em nossos carros. E, embora uma restrição de velocidade não seja uma cura para todos, vale a pena fazê-la se pudermos salvar uma vida.”
Limitadores de velocidade já são usados em alguns caminhões e ônibus, mas não são comuns na maioria dos veículos particulares – modelos mais potentes e esportivos costumam ter o corte da velocidade a 250 km/h.
Nos últimos anos, várias propostas para o uso de dispositivos em veículos comerciais pesados foram lançadas. A Ford também introduziu uma tecnologia que permite aos pais restringir a velocidade dos carros dirigidos por adolescentes.
CARROS BEM ACIMA DO LIMITE
Apesar de a Volvo estar intimamente associada aos altos padrões de segurança, o sedã S90 e o hatch V90 da marca podem quebrar os 240 km/h, de acordo com as especificações do fabricante.
As velocidades máximas nos produtos da montadora permanecem bem acima das permitidas velocidade na maior parte dos países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a máxima é de 55 mph (cerca de 90 km/h) nas interestaduais urbanas, segundo o Instituto de Seguros para o Instituto de Dados de Perdas de Rodovia.
Os estados de Montana, Wyoming, Idaho, Nevada e Dakota do Sul permitem velocidades de até 80 mph (perto de 130 km/h) em estradas interestaduais rurais e, no Texas, o número sobe para 85 mph (algo em torno de 137 km/h).
As pessoas simplesmente não reconhecem os perigos criados pela alta velocidade, de acordo com Jan Ivarsson, vice-diretor e consultor técnico sênior de segurança da Volvo.
“Como humanos, todos entendemos os perigos com cobras, aranhas e alturas”, disse Ivarsson. “Com velocidades, não muito. As pessoas, frequentemente, dirigem muito rápido numa determinada situação de tráfego, mas têm baixa velocidade para avaliar o trânsito a sua volta e as próprias habilidades como motorista.”
VEÍCULOS MODERNOS X VELOCIDADE
Acima de certas velocidades, a empresa alega que mesmo os veículos mais bem projetados com a mais recente tecnologia de segurança não são páreo para um grave acidente no trânsito.
Embora existam limites de velocidade em países ao redor do mundo, dizem os especialistas, dirigir muito rápido continua sendo um dos causas mais comuns de mortes no trânsito.
Mesmo com avanços na tecnologia de segurança e nas campanhas para desencorajar a condução embriagada e eliminar o uso de celular ao volante, as mortes no trânsito nos EUA aumentaram significativamente em 2015 e 2016, antes de caírem 2% em 2017, segundo o Departamento de Transportes dos EUA (DOT).
Dados mais recentes, de 2017, registram que 37.133 pessoas morreram em acidentes com veículos, sendo 9.717 delas por excesso de velocidade, ou 26% de todas as mortes no trânsito, de acordo com a Administração Nacional de Segurança no Trânsito Rodoviário norte-americana.
TECNOLOGIAS PARA REDUÇÃO
A Volvo disse que limitar a velocidade do veículo é apenas uma maneira de reduzir lesões e mortes em seus carros.
A empresa também está investigando como uma combinação de tecnologia inteligente de controle de velocidade e geolocalização pode limitar automaticamente as velocidades em escolas e hospitais no futuro. O GPS cria um perímetro virtual que controla como a tecnologia opera numa área específica do ambiente real.
Jessica Caldwell, diretora de análise industrial do site Edmunds.com, disse que a decisão da Volvo de limitar a velocidade de seu veículo faz parte de uma tendência mais ampla da indústria de melhorar a segurança dos veículos, removendo a tomada de decisões humana.
Outros exemplos dessa mudança, diz ela, são os avisos de assistente de pista, radares e câmeras que ajudam os motoristas a compensar os pontos cegos ou que reduzem automaticamente a velocidade quando um veículo se aproxima de outro (conhecido como piloto automático adaptativo) ou de um pedestre ou obstáculo à frente.
Como os proprietários da Volvo normalmente vivem em áreas urbanas congestionadas, onde as velocidades raramente chegam a 80 km/h, Caldwell disse que a maioria dos motoristas, provavelmente, não será afetada pela nova velocidade máxima da empresa.
“Não estamos falando em limitar a velocidade de um carro esportivo como um Lamborghini ou uma Ferrari, onde a direção em circuitos fechados é algo que o proprietário costuma fazer”, ressaltou ela.
Mas Caldwell disse que o uso da tecnologia de geolocalização para controlar a velocidade do veículo levantará algumas questões sobre como os motoristas podem ser afetados, como numa emergência.
“A que distância da escola ou do hospital o sistema atuará? Deus me livre, você está em uma situação onde é preciso chegar a um hospital rapidamente e esse dispositivo te atrapalha”, argumentou a especialista. “Estou pensando em mulheres dando à luz, por exemplo.”
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