População se sente insegura perto de onde padre foi assassinado

Moradores e fiéis reclamam da criminalidade nas proximidades da igreja, que já havia sido invadida em abril, no Domingo de Páscoa (foto: Ed Alves/CB/D.A Press)

Nos arredores da paróquia onde o latrocínio do padre Casemiro aconteceu, moradores e fiéis temem a criminalidade, embora índices oficiais apontem queda. Especialista explica que os números e a sensação da comunidade não são diretamente correlacionados

A brutalidade do crime cometido contra o padre Kazimierz Wojno, 71 anos, reforça a sensação de insegurança de moradores da região central de Brasília, a poucos quilômetros do centro do poder. O latrocínio na Asa Norte, para moradores e fiéis, é uma confirmação do medo diário de que a criminalidade avance no local, mesmo que os índices oficiais registrem queda.

“Aqui na Asa Norte está terrível”, diz a economista aposentada Aidée Almeida, 62. Ela frequenta a igreja Nossa Senhora da Saúde — paróquia que era comandada pelo padre Casemiro — há cerca de 14 anos e chegou a trabalhar no local como voluntária, mas deixou o serviço por medo. “Eu trabalhei um tempo na secretaria da paróquia, mas minha filha tinha pavor. Ela sempre dizia que aqui é muito deserto, mesmo de dia”, explicou.

A pedagoga Márcia Phillipi, 56, também compartilha a sensação de que a insegurança é constante nas áreas próximas ao local do crime. “Nem a própria igreja é respeitada. Isso deixa uma dor na gente”, desabafou. Márcia trabalha em um colégio ao lado da paróquia e acredita que a educação pode ser uma das formas mais importantes de combater a criminalidade. “Eu que trabalho em uma escola fico pensando sobre o que a gente pode fazer pela formação humana. Precisamos formar melhor as pessoas que ainda agem dessa forma violenta.”

Para uma fiel da paróquia e moradora da região, de 51 anos que pediu para não ser identificada, a segurança na Asa Norte gera preocupação diária. Um assunto que era, inclusive, tratado com frequência pela vítima. “Aqui na igreja, a gente está totalmente vulnerável. O padre, em todas as missas, falava sobre a questão da segurança. Sempre pedia para a gente ajudar”, contou. Assim como outras áreas do setor central de Brasília, a região da igreja, destaca a mulher, é muito deserta e escura durante a noite.

Em nota oficial sobre o caso, o governador Ibaneis Rocha (MDB) frisou que a crueldade do crime, de fato, revela a sensação de insegurança que recai sobre toda a sociedade. “Expõe uma dura realidade que precisamos enfrentar com determinação. Por mais preparada e equipada que esteja a polícia, por mais rigorosas que sejam as leis, a criminalidade violenta
expõe sua face onde e quando menos esperamos”, disse o chefe do Executivo local.

Registros em queda

Apesar da sensação de insegurança que acomete a população das regiões centrais de Brasília e das cidades do Distrito Federal, a Secretaria de Segurança Pública (SSP/DF) ressalta que os índices de criminalidade estão em baixa. De acordo com a pasta, de janeiro a agosto deste ano, foram registrados três casos a menos de latrocínio no DF em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram 15 em 2019 e 18 em 2018. Nas Asas Sul e Norte, um latrocínio foi registrado nos primeiros oito meses de 2018.

Segundo a pasta, homicídios, lesões corporais e roubos seguidos de morte são monitorados com prioridade. “Esses compõem os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), que, nos primeiros oito meses deste ano, marcaram queda de 15,8%, o que representa 53 mortes a menos”, informou nota enviada pela assessoria de imprensa do órgão. A pasta ressalta que, para evitar que violações do tipo aconteçam, as forças de segurança atuam com base em estudos produzidos pela SSP/DF, que avaliam a dinâmica, o dia, o local e a hora em que cada crime é mais recorrente.

Aparente contradição

Parece incoerente que, apesar dos índices de criminalidade estarem diminuindo, a sensação de insegurança esteja em alta. Marcelle Filgueira, professora da Universidade Católica de Brasília (UCB), explica que as duas questões não têm correlação direta.

Segundo a especialista em segurança pública, os dois fatores, frequentemente, caminham em direções contrárias. “Na sensação de segurança, pesam, por exemplo, questões como idade. Pessoas mais velhas tendem menos a ser vítimas de crime e, mesmo assim, se sentem mais inseguras. Jovens seguem no caminho contrário”, observa.

A percepção de segurança, de acordo com a especialista, deve ser levada em conta pelo poder pública a fim de formular políticas voltadas para a área. “O governo, além das ações mais comuns, como mais patrulhamento, também deve buscar uma relação mais próxima com a comunidade e cuidar de equipamentos públicos, como a iluminação e poda de árvores”, afirma.

Confira matéria do site Correio Braziliense.

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