O grupo de senadores que defende uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostos abusos do Poder Judiciário, a “CPI da Lava Toga”, vai protocolar nesta terça-feira (17) o pedido de instalação do colegiado. A requisição contará com a assinatura de três dos quatro senadores do PSL. A ausência será, como esperado, de Flávio Bolsonaro (RJ).
O filho do presidente manteve sua decisão de não apoiar a CPI a despeito do crescimento da repercussão negativa de seu posicionamento. Críticas a ele vindas de outros membros do PSL se acentuaram – a senadora Selma Arruda (MT) disse que deixará o partido na próxima quarta-feira (18) por conta da postura de Flávio, e o também o senador Major Olímpio (SP) declarou que Flávio é quem deveria sair da legenda. O destino de Selma será o Podemos.
A tensão causada pelas discussões em torno da Lava Toga se eleva ainda porque as contestações à postura de Flávio vêm também de defensores do governo de Jair Bolsonaro nas redes sociais, como os youtubers Nando Moura e Marcelo Brigadeiro.
Para deixar o ambiente ainda mais controverso, o filósofo Olavo de Carvalho, apontado como o “guru” do governo, divulgou um vídeo no fim de semana afirmando que a direita deveria se organizar não em torno de ideias, mas sim da pessoa do presidente Bolsonaro.
A proposta, se serviu para reforçar o apoio de defensores mais convictos, acendeu desavenças entre simpatizantes do presidente que discordam das ideias de Olavo, como a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP).
A parlamentar, autora do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, afirmou, em relação a Olavo: “O filósofo que se consagrou por denunciar o Imbecil Coletivo do PT, quase criou um Imbecil Coletivo em torno de si mesmo e agora, pasmem, prega um Imbecil Coletivo Bolsonarista. Não vou criticar, quero apenas externar o meu profundo pesar.”. E reforçou: “Olavo de Carvalho acabou ontem.”
Em resposta, Olavo escreveu em seu perfil no Twitter: “Do meu livro ‘O Imbecil Coletivo’, a Janaína Paschoal não entendeu NEM O TÍTULO.”
“Espero voltar com boas notícias”, diz Flávio
Em meio ao tumulto, Flávio Bolsonaro viajou à China, em missão oficial pelo Senado. Ele afirmou que busca “reforçar nossas relações comerciais com a China” e conhecer a indústria petrolífera local. “Espero voltar com boas notícias”, disse.
Uma viagem à China foi o estopim de uma das primeiras crises internas do bolsonarismo em 2019. Em janeiro, ainda antes da posse dos novos deputados federais e senadores, um grupo de futuros parlamentares do PSL foi ao país asiático, em viagem custeada pelo governo chinês. A ida despertou críticas de Olavo de Carvalho, que contestou a presença dos integrantes do PSL em um país governado pelo sistema comunista.
A viagem atual de Flávio, se não despertou contestações do ponto de vista ideológico, foi criticada por ocorrer em meio a momentos decisivos para o Senado – além da possível instalação da Lava Toga, a casa discute a indicação do subprocurador Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República e pode votar, ainda nesta semana, uma nova legislação eleitoral que torna mais branda a fiscalização dos recursos públicos geridos pelos partidos políticos.
Mesmo fora do país, Flávio foi decisivo para uma importante decisão tomada pelo PSL, a saída da sigla da base do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). O partido do presidente da República não chegou a compor formalmente a coligação de Witzel, mas a proximidade ideológica tornou natural a aliança entre PSL e o gestor do Rio. O rompimento atual foi motivado por uma entrevista recente de Witzel à jornalista Andreia Sadi, na Globo News, em que ele disse não dever sua vitória eleitoral a Bolsonaro e também que deseja ser presidente da República.
“A bancada do PSL na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), por orientação do senador Flávio Bolsonaro, presidente estadual do PSL-RJ, não está na base do governo na Alerj a partir desta segunda-feira (16/09), por discordar de posicionamentos políticos do governador. Os 12 deputados do partido reiteram o compromisso com o Estado do Rio de Janeiro”, disse nota oficial do partido divulgada pelo deputado estadual Dr. Serginho (RJ).
Bancada de deputados do PSL fica de “bico calado”
Os impasses que envolvem a Lava Toga no Senado estão fazendo com que o assunto deixe os deputados federais do PSL “de bico calado”, segundo um parlamentar do PSL que conversou com a Gazeta do Povo sobre o tema.
“Todo mundo está com medo de falar alguma coisa e depois sofrer retaliações. Porque é óbvio que o governo quer abafar a instalação da CPI. Então por um lado temos as redes sociais pedindo a CPI, por outro o governo achando melhor que as coisas não andem. E como a CPI não é assunto da Câmara e sim do Senado, é melhor ficar ‘de bico calado'”, disse.
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