Carlos Newton
O clima é de empolgação entre os protagonistas do complô para cancelar as condenações da Lava Jato, soltar o ex-presidente Lula da Silva, políticos e empresários que cumprem pena, anular inquéritos e evitar a prisão de corruptos que ainda estão de fora, como Michel Temer, Aécio Neves, Moreira Franco, Eliseu Padilha, Romero Jucá e muitos outros mais. É o movimento de lobby mais bem estruturado que já houve no Brasil, tem apoio entusiástico dos Três Poderes e não falta dinheiro para comprar consciências, inclusive na imprensa escrita, falada e televisada, como se dizia antigamente.
Em outubro, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, deve colocar em pauta julgamentos que visam a anular as condenações do ex-juiz Sérgio Moro, questionam a constitucionalidade das prisões após condenação em segunda instância e discutem a validade da decisão da Segunda Turma, que cancelou a sentença imposta por Moro a Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil.
THE INTERCEPT – A euforia do lobby é incentivada por declarações de alguns ministros contra a Lava Jato, por causa da publicação de mensagens trocadas entre procuradores, divulgadas no site The Intercept. O mais animado é Gilmar Mendes, que se tornou uma espécie de porta-voz do lobby contra a Lava Jato.
Neste fim de semana, ele deu entrevista conjunta à Folha/UOL, que funcionam como divulgadores do lobby, e fez ilegalmente declarações sobre processos em pauta, assumindo em público um comportamento que é absolutamente proibido aos magistrados.
Pela enésima vez, Gilmar afirmou que o Brasil precisa “encerrar o ciclo dos falsos heróis” e defendeu que a cúpula da Lava Jato assuma que cometeu erros e saia de cena. “Simplesmente dizer: nós erramos, fomos de fato crápulas, cometemos crimes. Queríamos combater o crime, mas cometemos erros crassos, graves, violamos o Estado de Direito”, salientou.
MAIORIA NO STF – A divulgação do lobby está plantando notícias de que no Supremo já haveria maioria a favor das teses contrárias à Lava Jato, de tal modo que Toffoli admite antecipar o debate sobre sua decisão de blindar o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e seu ex-assessor Fabricio Queiroz, ao suspender inquéritos e processos que tenham utilizado, sem quebra de sigilo, dados do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Receita Federal e do Banco Central.
Alegam os lobistas que a ministra Cármen Lúcia votará a Lava Jato, porque foi dela o voto decisivo à libertação de Aldemir Bendine, e dizem também que o ministro Celso de Mello já teria sinalizado ser contrário aos excessos atribuídos à Lava Jato pelo lobby.
NADA MUDOU – Na verdade, o entusiasmo exibido pelos lobistas não tem fundamentação real. No Supremo, continuam a favor da Lava Jato cinco ministros – Edson Fachin, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Cármen Lúcia.
Do outro lado do ringue, estão Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes e Marco Aurelio Mello, fazendo o placar atingir 5 a 5.
Falta apenas o voto de Celso de Mello, que é uma incógnita. Os divulgadores do lobby dão como certo a adesão dele ao complô para demolir a Lava Jato, mas o pronunciamento que deu no Supremo, semana passada. indica rigorosamente o contrário.
P.S. – O importante é que a base do conceito dos lobistas é falsa. Mesmo se conseguissem destruir Dallagnol e Moro, o que não vai acontecer, isso não significaria o fim da Lava Jato. Em regime democrático, ninguém vai conseguir impedir a atuação fiscalizatória do Ministério Público, da Polícia Federal, da Receita e do Banco Central, simultaneamente. É ilusão à toa, diria o compositor Johnny Alf. Basta lembrar que, se o Zero Um (Flávio Bolsonaro) está temporariamente blindado, o Zero Dois (Carlos Bolsonaro) acaba de ser flagrado nas rachadinhas, que parecem ser um mal de família. Este simples fato mostra que a Lava Jato não vai morrer, podem acreditar. (C.N.)
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