A indicação do subprocurador Augusto Aras ao cargo de procurador-geral da República, nesta quinta-feira (5), causou polêmica nas redes sociais e desagradou apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Eles acusam Aras de ter proximidade com a esquerda, de ser leniente com a corrupção e de manter distância da Lava Jato.
Leandro Ruschel, um dos principais influenciadores bolsonaristas com mais de 300 mil seguidores no Twitter, escreveu que a indicação “pode ser um ato de suicídio político de Bolsonaro.” Ele ainda comentou: “nunca vi tanta gente afirmando que estava encerrando o seu apoio ao presidente”. Na enquete que Ruschel realizou com seus seguidores, dos 6.973 votos, 89% foram contra a indicação.
O Vem Pra Rua, que já convocou manifestações de apoio ao presidente, também demonstrou insatisfação com a escolha. A página do movimento compartilhou uma imagem onde se lê, em letras maiúsculas: “Decepção! Com diversos nomes melhores, Bolsonaro resolveu escolher Augusto Aras para a PGR. Lamentamos a escolha do presidente”. O Vem Para Rua também realizou enquete com seus seguidores para saber se concordavam com a indicação. O “não” chegou a contabilizar 80% dos votos, por volta das 20 horas.
O procurador da República no Rio Grande do Norte Fernando Rocha tratou com displicência o cargo de subprocurador ocupado por Aras e o tratou por “advogado”. Segundo Rocha, “para quem um dia acreditou que esse governo tinha algum compromisso com o combate à corrupção, com a independência do MP, com a Lava Jato, o momento é de reconhecer o grande equívoco”.
Já o procurador da República em Minas Gerais, Wesley Miranda Alves, disse que se Aras tivesse ocupado o cargo de PGR em 2014, e se os arts. 27 e 31 da lei de abuso tivessem sido “sancionados pelo Presidente da República” naquela época, “não teríamos #LavaJato.”
Aliado de primeira hora do bolsonarismo, o deputado estadual Arthur do Val (DEM-SP), do Movimento Brasil Livre (MBL), também engrossou o caldo das críticas contra o presidente da República. “Augusto Aras falava presidenta, disse que Che Guevara ousou sonhar e deu festa para a cúpula do PT. Esse é o cara que Bolsonaro escolheu para a PGR” afirmou.
O escritor Flávio Gordon chamou Aras no twitter de “petista e anti-lavajatista”. Para ele, a indicação do subprocurador é “um sinal inequívoco de que o presidente se coloca contra a Lava-Jato, traindo sua agenda de campanha. Uma vergonha, talkei?”
Já a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), habitual defensora do presidente Bolsonaro, tuítou que confia no “grande trabalho” de Augusto Aras, “preservando as conquistas do governo na economia, combatendo a ideologização do MPF e casando o desenvolvimento do país com a preservação ambiental”. E conclamou seus seguidores a fazerem o mesmo.
“Confio na indicação e confio que Augusto Aras vai fazer a coisa certa. Confiem vocês também, tá? A gente está aqui para apoiar o nosso presidente e a escolha foi uma boa escolha. Ao longo do tempo, se precisar, a gente critica, mas vamos parabenizá-lo”, escreveu a parlamentar.
“Se não acreditar, eu caio mais cedo e o PT volta”, diz Bolsonaro
Diante da reação negativa de bolsonaristas, o presidente Jair Bolsonaro reclamou das críticas sobre a escolha de Augusto Aras ao conversar com apoiadores em uma grade em frente ao Palácio da Alvorada. “Eu tô recebendo muita crítica de gente que votou em mim. Se não acreditam em mim e continuarem fazendo esses trabalhos de não acreditar, eu caio mais cedo e mais cedo o PT volta”, disse.
O presidente também usou sua transmissão semanal ao vivo pelo Facebook para pedir “paciência” a apoiadores com a indicação de Augusto Aras e justificou que “não basta apenas alguém que combata a corrupção” para chefiar a PGR. Ele disse que Aras foi indicado por ser “sensível a outras questões” como temas ambientais, econômicas e de comportamento alinhados à interpretação do governo.
“Alguns do Ministério Público não podem ver uma vara de bambu sendo cortada que já processa todo mundo. Como ficaria a questão ambiental? Como ficaria alguém que tivesse visão muito radical na questão ambiental? Como ficaria o homem do campo?”, argumentou o presidente. “Não queremos um PGR que diga que pode fazer tudo, mas também não queremos aquele com quem não pode fazer nada.”
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