Leandro Prazeres e Aguirre Talento
O Globo
Após o hacker Walter Delgatti Neto ter admitido que invadiu as contas do aplicativo Telegram de diversas autoridades, a Polícia Federal (PF) direcionou a investigação para os possíveis braços financeiros do grupo preso na última terça-feira. Para isso, a PF solicitou acesso às movimentações feitas com moedas criptografadas e aos sigilos bancários para verificar, dentre outras coisas, se a versão de que Delgatti não recebeu dinheiro para repassar as conversas dos procuradores da Lava-Jato é ou não verdadeira.
As investigações que resultaram na Operação Spoofing começaram após a tentativa de invasão da conta do aplicativo Telegram do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Na terça-feira, a PF prendeu quatro pessoas em São Paulo sob suspeita de envolvimento no caso: Walter Delgatti Neto , Gustavo Santos, Suelen Oliveira e Danilo Marques.
QUADRILHA – Segundo a PF, Delgatti atuaria como líder do grupo, mas pode ter usado os demais para receber pagamentos pelas atividades ilícitas. A pedido da polícia e do Ministério Público Federal, o juiz da 10ª Vara Federal do DF, Vallisney de Oliveira, autorizou a quebra do sigilo de suas carteiras virtuais e o bloqueio dos recursos de todos os presos.
Vallisney também registrou em sua decisão que prorrogou a prisão temporária por mais cinco dias porque, em liberdade, eles poderiam atrapalhar a investigação.
“Em liberdade, poderão acessar e movimentar tais contas de forma a eliminar provas de eventual produto do crime”, escreveu Vallisney.
RÉU CONFESSO – Em depoimento prestado à Polícia Federal, Delgatti admitiu ter sido o responsável pela invasão das contas de diversas autoridades, incluindo procuradores da Operação Lava-Jato. Ele também reconheceu ser o responsável por repassar o conteúdo das conversas para o site “The Intercept Brasil” — segundo ele, de forma anônima, sem editar e nem receber pagamento pelo material.
Suas movimentações financeiras, no entanto, estão mal explicadas. Delgatti disse não exercer profissão remunerada e sustenta que todos os seus rendimentos vêm de aplicações financeiras. Ao ser questionado pelos investigadores sobre como havia obtido recursos para compor essas aplicações, o hacker disse, no entanto, “não saber”. A Polícia Federal mira também duas operações suspeitas de câmbio feitas por Delgatti, uma no Aeroporto de Brasília e outra em Natal. O hacker disse que o objetivo era “adquirir dólares para um amigo”, mas se negou a esclarecer quem seria a pessoa.
BRAÇO FINANCEIRO – A busca pelo braço financeiro do grupo tem foco em três pessoas: Gustavo Santos, Suelen Oliveira e Danilo Marques. De acordo com a PF, Santos e Suelen operavam no mercado de moedas virtuais. Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicam que o casal movimentou R$ 627 mil de forma suspeita entre os anos de 2018 e 2019.
Na casa deles, a PF encontrou R$ 99 mil em dinheiro vivo. Em depoimento, eles disseram que o valor era fruto das operações de Santos com bitcoins — a mais famosa moeda virtual.
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É só o que falta – seguir o dinheiro. Seguindo para baixo, serão encontrados os cúmplices; seguindo o dinheiro para cima, aí chega-se ao chefão (ou chefões). Vamos ter assunto por muito tempo ainda. (C.N.)
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