Cientistas encontram cura para o HIV em ratos; humanos podem ser os próximos

Mortal no começo da epidemia, nos anos 80 e 90, o HIV pode agora ser administrado com um tratamento chamado terapia anti-retroviral| Foto: Pixabay

Pesquisadores dizem que removeram o HIV do DNA de ratos, uma conquista que, segundo os cientistas, pode ser um passo inicial em direção à cura para os seres humanos.

O avanço, detalhado no início desta semana em um estudo creditado a mais de 30 cientistas da Temple University e do Centro Médico da Universidade de Nebraska, foi possível graças a um medicamento antiviral em combinação com a ferramenta chamada CRISPR, que pode editar genes. Os pesquisadores eliminaram o HIV em nove dos 23 ratos que foram modificados para que seus sistemas imunológicos imitassem melhor os dos seres humanos.

Os ensaios clínicos poderão começar já no próximo ano se a FDA (Food and Drug Administration — órgão que regula novos medicamentos nos EUA) os aprovar, afirma Kamel Khalili, um dos pesquisadores envolvidos do estudo. Mas ele e outros especialistas em HIV enfatizaram que há um grande salto científico de resultados promissores em ratos para o sucesso em humanos.

“Sabíamos o que precisávamos fazer, mas a tecnologia ainda não estava disponível”, diz Khalili. Ele e sua equipe aguardavam uma ferramenta como o CRISPR para combater um vírus que “se torna parte dos nossos cromossomos”. Com a edição de genes, finalmente uma realidade, “o resultado foi incrível”.

Mortal no começo da epidemia, nos anos 80 e 90, o HIV pode agora ser administrado com um tratamento chamado terapia anti-retroviral. A terapia só mantém o vírus sob controle; sem medicação constante, o vírus rapidamente compromete a capacidade do paciente de combater a doença. O HIV infecta 37 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), e apenas cerca de 22 milhões dessas pessoas recebem terapia anti-retroviral. Quase 1 milhão de pessoas morreram de problemas relacionados ao HIV em 2017, segundo a OMS.

No início deste ano, revelações de que uma segunda pessoa aparentemente havia se livrado do vírus aumentaram as esperanças de que a cura de outro paciente, 12 anos antes, não tenha sido uma vitória isolada. Mas os cientistas alertaram que era cedo demais para declarar o segundo paciente anônimo curado — e que, independentemente disso, o caso não representava uma cura que pudesse ser aplicada a todos. Ambos os pacientes foram tratados com transplantes de células-tronco, o que, segundo os especialistas, são perigosos, trazem sérios efeitos colaterais e não seriam indicados para a maioria dos pacientes.

Anteriormente, a equipe de Khalili em Temple havia encontrado uma maneira de remover quantidades significativas de DNA de HIV de ratos e camundongos. Mas a técnica não consegue remover completamente a infecção. Então, o laboratório de Khalili juntou forças com o laboratório do Centro Médico da Universidade de Nebraska, atacando o problema de uma maneira diferente. Juntos, os cientistas combinaram a estratégia de edição genética com um medicamento projetado para combater o HIV.

Howard Gendelman, do Centro Médico da Universidade de Nebraska, diz que a droga experimental foi projetada para atuar por mais tempo do que as terapias normais, o que significa que pode ser administrada a cada dois meses em vez de todos os dias. Também é mais capaz de atingir o HIV no corpo, disse ele. É crucial que a edição de genes remova todo o HIV por completo, disse ele, e a droga torna essa tarefa mais fácil.

“Se você puder reduzir a quantidade de vírus, a probabilidade de que o CRISPR seja efetivo aumenta enormemente”, afirma.

Mas se a equipe de Khalili for capaz de seguir adiante com testes em seres humanos, usará drogas padrão em vez da desenvolvida pelo laboratório da UNMC, uma vez que provavelmente ainda não seria aprovada para uso, diz Khalili.

Steven Deeks, professor da Universidade da Califórnia em São Francisco que trabalhou extensivamente sobre o HIV, diz que o uso da edição de genes para remover o HIV de um animal vivo é um notável passo à frente.

Mas ele alertou que usar a técnica em humanos será muito mais desafiador: os cientistas terão que lidar com mais variações no vírus, mais dificuldades em fornecer a tecnologia de edição de genes e a possibilidade de cortar genes humanos ao tentar atingir o HIV. Esses são problemas imensos, afirma Deeks, especialmente com o sucesso dependendo da remoção completa do vírus.

“Para que essa abordagem funcione, eles precisam realmente eliminar 100% do HIV dos genes — você não pode deixar nada para trás”, diz Deeks. “Um deles pode reiniciar todo o processo.”

Os cientistas por trás do novo estudo reconhecem esses desafios. Khalili revela que os pesquisadores estão em processo de publicação de outro estudo sobre o uso de edição genética para atacar o HIV em primatas e estão esperançosos em trazer a solução para os humanos. Mas os cientistas precisam garantir que suas técnicas sejam seguras. Eles também querem aumentar as chances de seus métodos a partir da taxa de sucesso de cerca de um terço do que eles viram com ratos.

Gendelman diz que enquanto as drogas modernas são boas em manter o HIV sob controle, uma cura permanente traria enormes benefícios aos pacientes. O tratamento medicamentoso constante pode contribuir para outras complicações de saúde.

Confira matéria do site Gazeta do Povo.

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