Pedro do Coutto
A Folha de São Paulo manchetou a edição de domingo destacando o que seria manifestação da opinião pública contrária às ações do ministro Sérgio Moro, quando juiz dos processos relativos à corrupção verificada através da operação Lava Jato. A pesquisa foi do Instituto Datafolha e a matéria que a interpreta foi de Igor Gielow. A pergunta-chave foi a seguinte: “Você acha as conversas do então juiz com procuradores da Lava Jato são inadequadas e, comprovadas irregularidades devem levar a revisão das sentenças?” O texto não fala sobre ilegalidades optando por irregularidades.
A Folha ressaltou que 58% acharam que sim contra 31% que pensam que não. A meu ver, acostumado a interpretar pesquisas há mais de 50 anos, desde o tempo do Correio da Manhã, jornal que ficou na névoa do tempo, me causou certa surpresa diante da indagação colocada. Isso, porque ela parte de um condicionamento que a mim parece que de alguma maneira influiu no resultado.
HOUVE INDUÇÃO – É muito claro, porque, se forem comprovadas irregularidades… Ora, as pessoas entrevistadas foram de maneira indireta induzidas a uma resposta decorrente da colocação contida na expressão “se forem comprovadas as irregularidades”.
Com certeza, se forem comprovadas irregularidades ou ilegalidades, evidentemente que as decisões de Sérgio Moro estariam comprometidas. Mas não foi esse o ângulo central da pergunta, o que levou a resposta de 58%. Melhor seria acrescentar paralelamente outra indagação, porque a condenação do ex-presidente Lula, destacada na manchete do jornal não foi decorrente apenas da condenação por Sérgio Moro. O recurso do ex-presidente da República foi rejeitado por unanimidade pelo Tribunal Regional Federal. Seus advogados recorreram ao Superior Tribunal Federal e o condenado perdeu novamente.
MATÉRIA DIRIGIDA – A reportagem da Folha de São Paulo restringe-se ao caso político que tem Lula como parte da questão. Portanto, a matéria não se estende aos casos de Eduardo Cunha, Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Marcelo Odebrecht etc. E para ficarmos apenas com este bloco emblemático, incluo mais um que estava esquecendo: Leo Pinheiro da OAS. Esta, para mim, é a primeira parte da questão.
A segunda parte refere-se ao plano em que a pesquisa se estendeu. A própria Folha de São Paulo, com base no Datafolha chama atenção para o fato de que apenas 63% da opinião pública afirmaram ter conhecimento das conversas vazadas entre Moro e Dalton Dallagnol. Portanto, 58% acharam inadequado o procedimento, porém são 58% de 63%, o que vai assinalar que a rejeição a Moro no caso das conversas oscila em torno de 36 ou 37%. Isso de um lado.
PRISÃO JUSTA – De outro, a maioria dos entrevistados considera justa a prisão do ex-presidente Lula. Portanto, ao mesmo tempo em que a maioria relativa ache basicamente imprópria a conduta de Sérgio Moro, a maioria também defende a condenação do ex-presidente. Aparentemente uma contradição. Mas realmente uma negativa de que Sérgio Moro tenha infringido a lei.
Este resultado claro do episódio é marcado e acentuado pela própria reportagem da Folha de São Paulo, escrita por Igor Gielow, que até recentemente era Editor de Política.
COPA AMÉRICA – Brasil foi o grande campeão da Copa América, ganhando com folga. Logo após o resultado dos 3 x 1 de ontem, escrevi este artigo. E acrescento que a seleção brasileira cumpriu excelente atuação sobretudo porque na maior parte do segundo tempo atuou com 10 homens. Mas praticou um futebol solidário atacando e defendendo e assim relembrando tempo de ouro do escrete. Acrescentou uma página às jornadas heroicas de 58, 62, 70, 94 e 2002.
Agora vamos rumar para a classificação que vai conduzir o acesso à Copa do Mundo de 22. Antes de 22 temos pela frente as Olimpíadas de 20 no Japão.
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