O chanceler Ernesto Araújo está promovendo um “pente fino” em documentos e acordos bi e multilaterais a fim de encontrar “cavalos de troia” em cláusulas, artigos e parágrafos que façam referência à defesa da ideologia de gênero. A ideia, segundo um diplomata ouvido pela Gazeta do Povo e que preferiu se manter no anonimato, é promover um realinhamento da política externa do Brasil.
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, nas últimas semanas diplomatas têm recebido instruções para que, em negociações multilaterais, reiterem “o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa sexo biológico, feminino ou masculino”. As instruções, contudo, não dizem respeito apenas a acordos assinados de agora em diante. “Muita coisa está sendo revista”, afirmou o diplomata.
A adoção de posicionamentos morais por parte do Itamaraty não é novidade. Só que, nas muitas comissões de Direitos Humanos em órgãos como a ONU e a OEA, o Brasil sempre adotou posições que concordavam com o ideário da esquerda. “Tudo era feito no piloto automático”, diz o diplomata. “Como os documentos eram assinados por assessores, muito deles de esquerda, havia espaço para a inclusão de textos defendendo pautas tradicionalmente associadas à esquerda, como a ideologia de gênero”, conta.
Com a ascensão do chamado “núcleo bolsonarista” dentro do Itamaraty, essa política externa que tendia, por inércia, à esquerda foi contida. O diplomata, contudo, garante que a reação interna não é tão grande assim. “Claro que as pessoas que são contra as novas medidas tendem a gritar mais alto”, diz. Há, inclusive, quem defenda que as medidas anti-ideologia de gênero de Ernesto Araújo são inconstitucionais e que deveriam ser questionadas na justiça.
A consequência prática do novo posicionamento do Brasil quanto à ideologia de gênero é nenhuma. Simbolicamente, contudo, este posicionamento reflete um alinhamento do Itamaraty com a política externa de países conservadores, como os Estados Unidos sob o governo Donald Trump, e os países da chamada “onda conservadora europeia”, como Hungria, Polônia e a Itália de Matteo Salvini.
A decisão de promover uma política externa atenta aos valores conversadores não é nova. Ainda em março, durante coletiva de imprensa no Itamaraty, o chanceler Ernesto Araújo já tinha afirmado que a política de Direitos Humanos do Brasil deveria mudar “para refletir a vontade do povo brasileiro”. Na ocasião, o ministro deu a entender que os esforços brasileiros se voltariam para a defesa da vida desde a concepção, a valorização da família e o combate à ideologia de gênero.
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