Carlos Newton
Nada como um dia atrás do outro. A substituição do ministro Ricardo Lewandowski por Cármen Lúcia na presidência da Segunda Turma do Supremo, sem a menor dúvida, já começou a virar o jogo e desarmar a sofisticada armação montada para libertar Lula da Silva e demolir a Lava Jato, com apoio estratégico do site The Intercept e de importantes veículos da grande mídia, como a Folha de S. Paulo.
Além de libertar Lula, Dirceu, Cunha, Vaccari, Geddel e outros condenados, o desmonte da Lava Jato evitaria a prisão de Temer, Aécio, Renan, Jucá e outros envolvidos que ainda não foram condenados.
ADIAMENTO – Reportagem de Isadora Peron no Valor informou que o ministro Gilmar Mendes vai pedir para adiar o julgamento do habeas corpus em que a defesa do ex-presidente petista requer a anulação do processo do tríplex do Guarujá, sob argumento de que Sergio Moro, então juiz da Lava-Jato e hoje ministro da Justiça, não agiu imparcialmente e decidiu sem provas, ao promover uma perseguição política ao réu.
É surpreendente a decisão de Gilmar Mendes, porque foi ele quem tomou a iniciativa de pedir vista e adiar o julgamento, quando já havia dois votos contra Lula, dados pelo relator Edson Fachin e pela revisora Cármen Lúcia.
O que se diz em Brasília é que Gilmar Mendes foi informado com antecedência das denúncias que iam ser publicadas por The Intercept e devolvera o processo à pauta, aproveitando que o presidente da Segunda Turma ainda era Ricardo Lewandowski, que é amigo pessoal de Lula e luta para libertá-lo, sem jamais se declarar “suspeito“.
BELA ARMAÇÃO – A manobra da defesa de Lula era justamente usar as matérias do The Intercept e outros fatos anteriores, como o grampo do telefonema de Lula e Dilma em 2016, juntar tudo num só baú e declarar “suspeito” o juiz Moro, para anular a condenação do ex-presidente, naquela base de que sonhar ainda não é proibido.
Acontece que o mandato de Lewandowski terminou semana passada e ele foi substituído por Cármen Lúcia na presidência da Segunda Turma. Rápida no gatilho, a primeira decisão da ministra foi tirar o julgamento de Lula do terceiro item da pauta e passá-lo para o décimo segundo lugar, o que significa que não mais será debatido nesta terça-feira, dia 25.
O fato é que Cármen Lúcia aprendeu a jogar o jogo no Supremo e está usando as armas que estão à sua disposição na presidência da Segunda Turma para segurar a onda dos inimigos da Lava Jato. No período em que presidiu recentemente o STF, retirou três vezes de pauta o julgamento de um recurso de Lula, levando à loucura o ministro Marco Aurélio Mello, que desabafou: “Estou aqui há 28 anos e nunca vi manipulação da pauta como esta”.
RECUO DE GILMAR – Mas por que Gilmar Mendes teria recuado? Essa é a grande dúvida, pois o ministro chegou a festejar em plenário as denúncias do The Intercept, dizendo que juiz não pode chefiar investigação e fazendo piadas sobre a situação de Sérgio Moro.
Em Brasília a informação é de que o feitiço saiu contra o feiticeiro. O ministro Celso de Mello, cujo voto vai decidir o julgamento, não teria gostado nada da armação contra Moro e a Lava Jato, considerando-a uma tentativa de manipular a Justiça, conforme já está mais do que comprovado.
Para evitar que o habeas corpus de Lula seja derrotado, Gilmar Mendes então teria decidido pedir novo adiamento, para tentar convencer Celso de Mello a voltar à posição anterior, favorável à libertação de Lula.
P.S. – Celso de Mello se aproxima da aposentadoria compulsória, aos 75 anos, em outubro de 2020. Como está alquebrado e com dificuldade para caminhar, pode até sair antes, o que significaria o fim das esperanças de Lula ser libertado. (C.N.)
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