A coordenação política do presidente Jair Bolsonaro (PL) olha com especial atenção para os estados que abrigam o maior maior número de eleitores. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia somam cerca de 75 milhões de pessoas aptas a votar em outubro, segundo a base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um contingente que equivale a aproximadamente 48% do eleitorado do país.
Para aumentar os votos pró-Bolsonaro nesses estados, o núcleo da campanha planeja ações específicas, mas todas passam por amplificar a divulgação de feitos e programas do governo, como a geração de empregos, a entrega de títulos agrários e de moradias do Casa Verde e Amarela e o pagamento dos benefícios do Auxílio Brasil e do Auxílio-Gás.
Os coordenadores da campanha querem que Bolsonaro incorpore em seus discursos as realizações do governo e as ações de enfrentamento da pandemia da Covid-19. Uma amostra disso pôde ser vista no lançamento da candidatura à reeleição, no domingo (24), no Rio de Janeiro. O presidente falou sobre o pagamento do auxílio emergencial, da criação do Auxílio Brasil e da conclusão da obra da transposição do Rio São Francisco, além de outras entregas na área de infraestrutura.
A Casa Civil e a Secretaria de Governo também atuam na defesa do legado da gestão junto à base política. Foram preparados e encaminhados aos aliados 27 documentos, um para cada estado, que contêm informações resumidas sobre as principais realizações.
Outra estratégia a partir de agora é acelerar a agenda de viagens de Bolsonaro pelo país. Para isso, o núcleo eleitoral ainda alinha as agendas a serem cumpridas pelo presidente ao longo do período eleitoral. A expectativa da base política é que os estados com mais eleitores recebam o chefe do Executivo com mais frequência.
Qual é a estratégia para impulsionar Bolsonaro em São Paulo
A Gazeta do Povo teve acesso aos documentos elaborados pelo núcleo eleitoral que contêm as informações resumidas sobre as principais realizações. São materiais de uso interno da campanha e da base para auxiliar como uma “cola” para que todos estejam engajados e alinhados na defesa da reeleição de Bolsonaro.
No caso do estado de São Paulo, o principal colégio eleitoral do país, uma informação em destaque são os R$ 6 bilhões investidos em ferrovias pela renovação antecipada da concessão que possibilitará a capacidade de transporte de cargas passar de 35 para 75 milhões de toneladas em 40 cidades paulistas.
Outros destaques são a relicitação da BR-116, que vai garantir investimento de R$ 14,8 bilhões nas vias Dutra e Rio-Santos, e os leilões de terminais que possibilitarão mais de R$ 1,3 bilhão em investimentos no Porto de Santos. Também há ênfase em outras obras e entregas na área da infraestrutura.
O documento específico para São Paulo também destaca a entrega de mais de 356 mil moradias para famílias paulistas, o pagamento do Auxílio Brasil para mais de 2,1 milhões de famílias e o do Auxílio Gás para mais de 689 mil famílias, além da geração de quase 1,1 milhão de empregos formais no ano até maio.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) confirma a orientação da campanha para a base encampar um discurso unificado com o presidente sobre as ações do governo como forma de impulsionar a campanha. “Serão defendidas as entregas. Eu, particularmente, falarei das entregas para as mulheres, mas todos nós falaremos das ações do governo”, afirma.
Zambelli diz que a base está comprometida a engajar os empresários para impulsionar a candidatura à reeleição de Bolsonaro. “Ele já tem ido a São Paulo e feito bons contatos. Vários empresários têm conversado comigo, inclusive para poder apoiar o presidente, pois sabem que ele ganhando é garantia de desenvolvimento ao Brasil”, destaca.
A deputada entende que, durante a campanha, Bolsonaro vai ter uma atenção e tempo especial em São Paulo para não apenas alcançar a reeleição, como também ajudar na eleição do ex-ministro Tarcísio de Freitas, seu candidato a governador no estado. “Devemos fazer grandes bancadas de deputados federais e estaduais”, prevê.
Como Bolsonaro pode ampliar seus votos em Minas Gerais
O governo e a base apostam na divulgação de realizações na área de infraestrutura no estado de Minas Gerais. O deputado federal Zé Vítor (PL-MG), vice-líder do partido na Câmara, elenca como destaque os R$ 2,8 bilhões investidos na ampliação do metrô de Belo Horizonte.
Outros feitos enfatizados pelo parlamentar são os investimentos nos aeroportos de Uberlândia, Ipatinga e Montes Claros e a duplicação de trechos da BR-381, entre Belo Horizonte e Governador Valadares. “Muita coisa tem sido anunciada, quase sempre tem novidades. Tem muita coisa relacionada em infraestrutura em Minas Gerais, o próprio ministro Marcelo Sampaio [da Infraestrutura] esteve no estado recentemente, o presidente também”, comemora.
O parlamentar entende que, com divulgações do governo e a incorporação dos feitos no discurso de Bolsonaro, a campanha presidencial à reeleição e toda a base política têm a ganhar. “É uma questão de boa comunicação e de provocar a reflexão sobre o que aconteceu e promover essa boa informação, de maneira sutil, para seduzir o eleitor indeciso”, analisa.
A transferência de recursos para programas sociais contempla outra prioridade destacada por Zé Vitor. “O presidente sabe da importância de Minas Gerais e ele tem se colocado como alguém que criou o maior programa social do mundo, que é o Auxílio Brasil”, comenta. No estado, mais de 1,4 milhão de famílias recebem os recursos do programa, enquanto mais de 456 mil famílias recebem o Auxílio Gás.
O núcleo de campanha de Bolsonaro também elenca que, no estado, foram gerados 467 mil empregos no acumulado do ano e entregues mais de 133 mil moradias do programa Casa Verde e Amarela, além de mais de 6,7 mil títulos agrários. Há, ainda, o desejo de incluir no discurso o investimento de mais de R$ 330 milhões para a inauguração do complexo de tratamento de água em Uberlândia para atender 1,5 milhão de pessoas.
O que a campanha do presidente tem para contar no Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o núcleo eleitoral de Bolsonaro quer dar uma atenção especial à segurança pública nos discursos do presidente e da base. Coordenadores eleitorais pretendem enfatizar que o estado recebeu da União R$ 122 milhões em recursos para o setor. Segundo a campanha, o investimento nessa área cresceu 166% ao longo da gestão em comparação aos três anos e meio anteriores.
A defesa dessa agenda é tratada como imprescindível na campanha de Bolsonaro, principalmente pela confirmação do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, como vice na chapa presidencial. Em 2018, na gestão de Michel Temer (MDB), Braga Netto foi o interventor federal na área da segurança pública pública no estado.
Quando era assessor especial do gabinete pessoal de Bolsonaro, o ex-ministro cumpriu agendas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, estados onde ele terá participação importante durante as eleições a fim de abocanhar votos de eleitores indecisos e os que atualmente estão dispostos a votar em outros candidatos.
No Rio, por exemplo, há casos relatados por deputados da base de Bolsonaro que afirmam que eleitores prometeram votar neles, mas não no presidente.
O deputado federal Felício Laterça (PP-RJ) diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem crescido no estado e pondera que Bolsonaro precisa falar mais sobre os feitos gerais do governo. “Tem que mostrar tudo que foi feito não só pelo estado do Rio, mas pelo Brasil, como o Auxílio Brasil, o Auxílio Gás, a redução do preço dos combustíveis. Tem muita coisa feita que a imprensa não mostrou, essa é a verdade. Vai ter que fazer um trabalho forte de divulgação e alcançar mais eleitores. Entendo que, para isso, a propaganda eleitoral vai ser fundamental”, analisa.
O parlamentar pondera que o presidente também tem que falar sobre as regularizações fundiárias, mesmo no Rio de Janeiro, onde foram entregues mais de 892 títulos agrários. Laterça, por sinal, destinou recursos de emendas parlamentares para projetos de regularização fundiária no estado.
“O PT sempre se valeu do quê? De Movimentos sindicais e dos sem-terra. Hoje, o país tem uma política voltada para a regularização dos assentamentos a qual auxiliei ao colocar recursos no Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]”, diz. “É importante ressaltar que esse é o governo que mais entregou títulos nos últimos 14 anos”, complementa Laterça.VEJA TAMBÉM:
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Como a campanha quer fortalecer o presidente na Bahia e no Nordeste
Além dos três principais colégios eleitorais do Sudeste, o núcleo político de Bolsonaro também atua para fortalecer a campanha no Nordeste, especialmente na Bahia. A conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco é o “carro-chefe” da estratégia eleitoral sob a ótica da infraestrutura na região. Também é defendida a expansão do projeto de transposição para o estado baiano.
O governo Bolsonaro calcula que seriam investidos ao menos R$ 5 bilhões para tocar a expansão do projeto de transposição do São Francisco e levar água para o nordeste baiano, informa o Jornal do Commercio.
A campanha presidencial também quer que o presidente e a base governista falem sobre a execução do projeto básico do Canal do Sertão Baiano, que prevê investimentos de R$ 4,62 bilhões para garantir o abastecimento de água para consumo humano, industrial e animal em 44 cidades do interior do estado.
Outras áreas da infraestrutura elencadas para o estado são a assinatura do contrato de concessão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, que prevê investimentos de R$ 5,41 bilhões, e a inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista, que o governo financiou R$ 74,6 milhões dos R$ 105,8 milhões gastos na obra.
O deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA), vice-líder do governo no Congresso, destaca os programas sociais e os esforços do governo em controlar a inflação como outros feitos a serem destacados na base. “Para o presidente ampliar os votos é só ele vir aqui e mais nada. O povo ama ele, é só ele ir nos lugares. Baixou o preço dos combustíveis, deu comida ao povo com o Auxílio Brasil”, comenta.
O presidente da República viajou a Feira de Santana (BA) no início do mês e, segundo afirma Bacelar, há sempre convites para ele retornar ao estado. “A perspectiva natural é ele voltar e dar atenção ao norte e nordeste baiano, onde estão os menores IDHs [Índices de Desenvolvimento Humano] do estado. O centro-oeste e o extremo sul já são dele”, analisa.
O vice-líder do governo pondera, porém, que o presidente e sua campanha precisarão melhorar a comunicação para impulsionar o presidente. “Ele entregou o Auxílio Brasil, vale-gás, reduziu os combustíveis, mas o que está faltando melhorar é a comunicação, o problema é lá”, avalia.
A análise de Bacelar é que Bolsonaro pode abocanhar mais votos se a campanha conseguir fazer a população absorver as ações do governo. Na Bahia, foram entregues mais de 43 mil moradias do programa Casa Verde e Amarela e mais de 15 mil títulos agrários. Mais de 2,3 milhões de famílias recebem o Auxílio Brasil e mais de 690 mil são beneficiadas com o Auxílio Gás.
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