Apesar do enorme esforço do petismo e de formadores de opinião para fazer de Lula um “democrata moderado”, que seria a única opção válida contra um suposto “autoritarismo” do presidente Jair Bolsonaro, o discurso não vem entusiasmando muitas outras forças políticas fora dos círculos já habitualmente subservientes ao PT. A maior parte da oposição ao governo segue empenhada em construir uma alternativa à polarização, a chamada “terceira via”. Mas os poucos que aderiram podem ao menos se beneficiar da lavanderia de biografias petista, em que o único critério de avaliação de um político ou partido é o fato de estar ou não aliado (ou, melhor dizendo, submetido) a Lula e ao PT.
O caso mais emblemático desta pré-campanha é o de Geraldo Alckmin, que chegou a enfrentar Lula no pleito presidencial de 2006, nunca poupou palavras para se referir ao desastre econômico e moral das gestões petistas, mas resolveu jogar toda a sua biografia no lixo, trocando de partido para compor chapa com o ex-adversário, abraçá-lo e exaltá-lo como “o maior líder popular do país”, antes de dedicar um “viva!” ao novo companheiro em evento com sindicalistas. Em troca, aquele que já foi chamado de “mais fascista que Bolsonaro” pelo petismo, com direito a montagens fotográficas, ganhará definitivamente o perdão da cúpula do partido.
O petismo se notabilizou por ter inaugurado no país o “nós contra eles”, em que o adversário político é muito mais que simplesmente alguém que almeja o mesmo cargo ou tem ideias diferentes: é o mal encarnado, a personalização de todos os vícios possíveis e imagináveis
Mais recentemente, foi a vez de Paulinho da Força, o sindicalista convertido em deputado federal e cacique partidário do Solidariedade. Vaiado por petistas em evento, por ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, o parlamentar bancou o ressentido. Disse seguir “no intuito de apoiar o Lula, mas queremos rediscutir esse formato, saber qual é o pensamento do PT com relação a uma aliança mais ampla, se realmente o PT quer isso”, e ganhou afagos de Gleisi Hoffmann: “O Solidariedade e o companheiro Paulinho da Força são muito importantes na nossa frente pela democracia e pela reconstrução do Brasil”, tuitou a presidente do PT, em mensagem retuitada pelo próprio Lula.
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