A crise no Leste europeu não é nova. Desde antes de 2014, o povo ucraniano se divide entre os que desejam maior integração com a Rússia e aqueles que apoiam a aliança com a União Europeia. Com isso, muitos protestos tomaram conta do país naquele ano, o então presidente pró-Rússia — Viktor Yanukovych — foi deposto e Moscou decidiu intervir.
Para isso, Vladimir Putin enviou milhares de tropas para as bases russas na Crimeia em fevereiro daquele ano e, no dia 18 de março, após um referendo local cujo resultado decidiu pela anexação, assinou um projeto de lei incorporando essa região à Rússia, ação que a maioria dos países europeus não aceita. Além disso, em 2014 teve início a crise com os separatistas pró-Rússia, que declararam as repúblicas de Donetsk e Lugansk na região de Donbass, abrindo caminho para Putin invadir o país oito anos depois.
Desta vez, o pretexto do Kremlin é realizar uma “operação militar especial” para defender a população que fala russo e proteger o Kremlin de “ameaças à segurança” devido à aproximação da Ucrânia com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
A partir de então, as principais cidades ucranianas foram sitiadas, mais de 2 mil civis foram mortos e o cenário de guerra preocupa o mundo inteiro. Confira nesta linha do tempo os principais acontecimentos que têm marcado a guerra da Ucrânia:
15 de fevereiro – “Exercícios militares”
Cerca de 130 mil soldados estão instalados próximo às fronteiras ao norte, leste e sul da Ucrânia. Isso preocupa toda a Europa, mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, garante que o motivo são exercícios militares e que parte desse efetivo retornará às bases.
16 de fevereiro – Invasão iminente
O Ocidente emite um alerta de que a Rússia continua movendo suas tropas em direção à Ucrânia com veículos blindados, helicópteros e até um hospital de campanha. Diante da temida invasão, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pede que os ucranianos se unam em defesa de seu país e transforma o dia 16 de fevereiro em um símbolo dessa união.
Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro se reúne com o líder russo Vladimir Putin, em Moscou, onde afirma que o Brasil é solidário aos “países que se empenham pela paz”.
21 de fevereiro – Independência de Donetsk e Lugansk
Como a crise entre separatistas pró-Rússia continua em Donbass, Putin decide reconhecer a independência das regiões de Donetsk e Lugansk. Essa ação põe fim ao processo de paz entre Kiev e os separatistas, e abre espaço para que o líder russo envie militares “mantenedores da paz” para o leste da Ucrânia.
24 de fevereiro – Primeiros bombardeios
Durante a madrugada, Vladimir Putin inicia uma “operação militar especial” com bombardeios em várias cidades ucranianas. O presidente Zelensky anuncia o fim das relações diplomáticas com a Rússia, e milhares de moradores tentam sair de Kiev, causando trânsito intenso e filas nos postos de combustíveis e supermercados.
Estados Unidos, Japão e países da Europa se posicionam contra a invasão russa, e uma reunião urgente da Otan é solicitada. O valor do petróleo ultrapassa a marca dos US$ 100 por barril e bolsas ao redor do mundo começam a operar em queda.
O exército russo ocupa a antiga usina nuclear de Chernobyl, e Zelensky afirma que os ucranianos estão “sozinhos” na defesa da ex-república soviética. “Perguntei a todos os parceiros de estado se estão conosco. Eles estão conosco, mas não estão prontos para que entremos numa aliança com eles”, afirmou. Mesmo assim, o presidente garantiu que a Ucrânia se defenderia.
25 de fevereiro – Sanções econômicas
Zelensky parabeniza os ucranianos pelo desempenho no primeiro dia de ataque a afirma que os planos russos foram frustrados. “Nossos meninos e meninas, todos os defensores da Ucrânia não permitiram que o inimigo realizasse o plano operacional da invasão no primeiro dia”, disse.
Essa defesa fez com que diversos países tivessem mais tempo para anunciar sanções econômicas contra a Rússia, e uma reunião do Conselho de Segurança da ONU é realizada na tentativa de condenar a invasão da Ucrânia e exigir a retirada das tropas. O embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Costa Filho, vota a favor da condenação, assim como a maioria dos membros, mas o poder de veto da Rússia no órgão anula a resolução.
26 de fevereiro – Segurança do presidente
Há preocupação internacional com a segurança do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e autoridades americanas oferecem ajuda para retirá-lo de Kiev. No entanto, a oferta é recusada. “A luta está aqui. Preciso de munição, não de uma carona”, disse Zelensky aos Estados Unidos.
No mesmo dia, a Comissão Europeia propõe uma nova bateria de sanções contra Moscou, incluindo a paralisação dos ativos do Banco Central da Rússia e a exclusão de bancos russos do sistema Swift de pagamentos interbancários mundiais.
27 de fevereiro – Forças nucleares em alerta
A União Europeia confirma que os bancos russos serão desligados do Swift – e, como resposta às sanções, Vladimir Putin ordena que forças nucleares de contenção da Rússia sejam colocadas em “regime especial de serviço”.
Diante da situação, milhares de russos saem às ruas em protesto contra a guerra e mais de 5 mil pessoas são presas. Já no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirma que adotará postura neutra durante o conflito para não prejudicar a importação de fertilizantes, essencial para a agricultura do país. “Nossa posição tem que ser de bastante cautela.”
28 de fevereiro – Primeiras negociações
Em Belarus, delegações da Rússia e da Ucrânia iniciam negociações para o fim da guerra, mas a reunião é encerrada sem acordo. Bombardeios nas imediações de Kiev aumentam, e Zelensky assina pedido de entrada da Ucrânia na União Europeia.
Uma sessão extraordinária da Assembleia Geral da ONU é realizada para tratar da invasão russa e o embaixador do Brasil na organização reforça posicionamento contrário aos ataques. Ele também solicita que Europa e Estados Unidos reavaliem as sanções impostas, “principalmente aquelas que podem afetar a economia global, incluindo o abastecimento alimentar”.
No mesmo dia, Bolsonaro anuncia vistos humanitários para ucranianos em fuga da guerra, os EUA expulsam 12 diplomatas russos do país por espionagem, e Putin proíbe a transferência de moeda estrangeira para o exterior na tentativa de defender a Rússia das sanções ocidentais.
1 de março – “Desmilitarizar e desnazificar”
Belarus coloca seus sistemas de defesa aérea em alerta e reforça a fronteira, mas afirma que não intervirá no conflito. Na mesma data, bombardeios russos à torre de TV de Kiev danificam um monumento que simboliza o sofrimento ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial: o massacre de judeus conhecido como Babi Yar.
A Rússia é acusada de cometer crimes de guerra na Ucrânia, mas nega esse fato, afirmando que seu objetivo é “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho. Ao todo, cerca de 2 mil civis já foram mortos no conflito.
2 de março – ONU condena a invasão
A Assembleia Geral da ONU aprova resolução condenando a invasão realizada pela Rússia e solicitando retirada imediata das tropas. Essa solicitação não á atendida pelo Kremlin e a Ucrânia pede ao papa Francisco que discuta com o presidente Vladimir Putin a respeito de corredores humanitários para saída de civis enquanto a guerra continua.
Também são divulgados os números de soldados russos mortos no conflito, mas há divergência de informações. Os ucranianos afirmam que 5,8 mil morreram até agora, enquanto a Rússia confirma 498 mortes.
3 de março – Corredores humanitários
Delegações da Ucrânia e Rússia se encontram pela segunda vez em Belarus. Elas não entram em acordo para encerrar o conflito, mas concordam com a abertura de corredores humanitários para a saída segura de civis.
A Rússia afirma que Ucrânia trabalha para desenvolver uma bomba atômica com apoio dos Estados Unidos, e o país norte-americano anuncia sanções contra oito oligarcas russos e seus parentes, incluindo o suposto testa-de-ferro do presidente Vladimir Putin, Alisher Usmanov.
Enquanto isso, o governo do Brasil disponibiliza uma aeronave da Força Aérea para resgatar brasileiros em fuga da guerra e levar material de ajuda humanitária para refugiados do conflito. Ao todo, mais de 2 milhões de pessoas já deixaram suas casas na Ucrânia, segundo a ONU.
4 de março – Alerta nuclear
Um ataque russo à maior central nuclear da Europa — a de Zaporizhzhia — deixa o mundo em alerta, mas a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU afirma que não ocorreram vazamentos. Na mesma data, o jornal britânico The Times informa que o presidente Volodymyr Zelensky sobreviveu a três tentativas de assassinato desde o início do conflito.
Enquanto isso, na Rússia, o governo sanciona uma lei que aumenta a censura à imprensa, obrigando veículos a reportarem apenas a versão do governo a respeito da guerra, sob pena de até 15 anos de prisão. O Kremlin também bloqueia o acesso da população às redes sociais Facebook e Twitter, e vê emissoras como BBC e CNN suspenderem seu funcionamento devido às restrições ao jornalismo independente.
Além disso, o Ministério da Indústria e Comércio da Rússia recomenda suspensão temporária do embarque de fertilizantes para exportação, e autoridades ucranianas informam que a Rússia não está permitindo os corredores humanitários prometidos durante as negociações realizadas no dia anterior.
5 de março – Culpa dos “nacionalistas”
Denúncias de descumprimento do acordo relacionado aos corredores humanitários continuam, mas a Rússia alega que os responsáveis são nacionalistas e integrantes das Forças Armadas da Ucrânia. Putin afirma que eliminou quase todas as estruturas militares da Ucrânia, e uma nova rodada de negociações entre os dois países é marcada para o dia 7.
6 de março – Crise de refugiados
Estimativas da ONU indicam que mais de 1,5 milhão de pessoas já deixaram a Ucrânia. “Estamos diante da crise de refugiados que aumenta mais rapidamente desde a Segunda Guerra Mundial”, escreveu o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. Além disso, denúncias de crimes de guerra são apresentadas pelos Estados Unidos. “Vimos relatórios de ataques deliberados contra civis”, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.
Na Rússia, protestos contra a guerra terminam com 3,5 mil presos, e a rede social TikTok anuncia bloqueio parcial de seus serviços no país para garantir a segurança de usuários que postam conteúdos relacionados ao conflito. Netflix e outras empresas, como Apple, Disney, Volkswagen, Microsoft, Visa, Mastercard e American Express também suspendem seus serviços para cidadãos russos em consequência dos ataques da Rússia contra a Ucrânia.
7 de março – Petróleo
O governo norte-americano afirma estar conversando com aliados da Europa a respeito da proibição de importar petróleo da Rússia, e esse anúncio faz o valor do petróleo atingir o maior valor dos últimos 14 anos, ultrapassando US$ 125 por barril.
Essa é uma das inúmeras sanções econômicas em represália pela invasão ao território da Ucrânia, e Putin anuncia que elas “equivalem a uma declaração de guerra”. A fala foi publicada em vídeo postado no Twitter pela Embaixada Russa na França — já que a rede social foi banida na Rússia — e terminou em tom de ameaça: “Vou aconselhá-los a não agravar a situação e a não impor sanções”.
Ainda no dia 7 de março, o Kremlin aprova uma lista de “nações hostis” contendo os membros da União Europeia, Estados Unidos, Japão, Canadá e outros 17 países. Cerca de 10 mil pessoas já foram presas na Rússia por se manifestarem contra a guerra, e a terceira rodada de negociações entre Ucrânia e Rússia termina com “pequeno” avanço logístico para corredores humanitários.
Além disso, o prefeito de uma cidade ucraniana e seus assessores são mortos enquanto distribuíam pães e remédios aos doentes e feridos. “Memória eterna e nossa gratidão”, informa a Câmara Municipal da cidade de Gostomel.
8 de março – Milhares de soldados mortos
Durante reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, pede ajuda para remoção “de dezenas de milhares de corpos de soldados russos em decomposição nos campos”. Uma missão da ONU é enviada a Moscou para coordenar essa operação.
O presidente norte-americano Joe Biden informa que está proibida a importação de petróleo, gás e energia da Rússia para os EUA, e pontua às empresas que “este não é o momento de obter lucro em cima da situação”. No mesmo dia, Vladimir Putin assina um decreto de “medidas especiais”, como a proibição de exportações e matérias-primas para salvaguardar a economia russa.
A imprensa ucraniana também afirma que Belarus está de prontidão para ingressar na guerra ao lado da Rússia, e o presidente Volodymyr Zelensky diz que o país não se renderá. “Lutaremos nas florestas, nos campos e nas ruas”, disse em videoconferência com o parlamento britânico, ao solicitar que o Reino Unido promova uma zona de exclusão aérea nos céus da Ucrânia para impedir bombardeios russos.
9 de março – “Fechem o espaço aéreo”
Depois de várias tentativas frustradas para o estabelecimento de corredores humanitários, Rússia e Ucrânia fazem acordo de cessar-fogo das 9h às 21h em seis áreas atingidas pelos combates.
No restante do país, os bombardeios continuam e um deles atinge uma maternidade na cidade de Mariupol. “Por quanto tempo mais o mundo será cúmplice em ignorar este terror?”, questionou o presidente Volodymyr Zelensky em uma postagem no Twitter. “Fechem o espaço aéreo agora”, solicitou.
Esse é um dos pedidos do presidente ucraniano, que também solicita armamentos e soldados. No entanto, a Rússia ameaça os países que decidem ajudar. “Voluntários e mercenários enviados para a Ucrânia retornarão como combatentes duros à Europa”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.
10 de março – Armas químicas e biológicas
Rússia acusa os Estados Unidos de financiarem um suposto programa de armas químicas e biológicas na Ucrânia. A Casa Branca nega e responde com o alerta de que isso pode ser um “jogo” para o Kremlin usar armas dessa natureza na guerra, culpando seu adversário. Segundo a ONU, não existe nenhum registro de programas ilegais de armas químicas e biológicas em solo ucraniano.
No mesmo dia, ministros das Relações Exteriores dos países em conflito se reúnem na Turquia para tentar um novo acordo, mas os russos exigem rendição da Ucrânia como condição para o cessar-fogo, algo que o país do leste europeu afirma que não fará.
Enquanto isso, os bombardeios se intensificam na cidade de Mariupol. A prefeitura afirma que 1,3 mil ucranianos já morreram desde o início da guerra e que outros milhares estão adoecendo por falta de aquecimento para suportar o frio intenso de 7 graus negativos. Também não há água e alimento suficientes, e “todas as farmácias e lojas foram saqueadas há quatro ou cinco dias”, afirmou Sasha Volkov, chefe do escritório da Cruz Vermelha de Mariupol.
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