O governo federal vai usar ao máximo o aparato estatal para fortalecer as chances de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). A fim de reduzir a rejeição ao governo e evitar debandadas de aliados da base no Congresso, o Palácio do Planalto prepara uma estratégia agressiva de comunicação institucional para impulsionar a pré-candidatura.
É comentado nos bastidores que o Planalto preparou uma ação coordenada de propaganda em um valor próximo de R$ 1 bilhão, afirmam interlocutores do governo à Gazeta do Povo. Nesse montante, estão contabilizados recursos diretos, do Tesouro Nacional — que prevê R$ 409,84 milhões para gastos com publicidade em 2022 —, e indiretos, do orçamento de autarquias e estatais como a Caixa Econômica Federal.
A uniformização dos gastos com publicidade de órgãos da administração direta e indireta ainda está para ser definida. A equalização dessas despesas ainda pode ser revista ao longo do ano, ou seja, de onde tirar e aplicar as verbas públicas com propaganda ao longo do ano é um cálculo político e orçamentário que será permanentemente planejado.
Contudo, o Planalto está determinado a divulgar melhor as ações do governo ao longo dos últimos três anos e entende que um valor somado de R$ 1 bilhão entre recursos das administrações direta e indireta é um montante visto como provável de ser alcançado.
O que explica a estratégia de Bolsonaro baseada em gastos com publicidade
A estratégia do Planalto em melhorar sua comunicação institucional para 2022 não é nova. Mesmo antes de Bolsonaro recriar o Ministério das Comunicações e nomear o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) para a pasta, a comunicação institucional já era vista como o principal gargalo do governo no pior momento da pandemia.
A análise do governo sobre a qualidade de sua comunicação institucional não mudou. Interlocutores do Planalto assumem que o governo constatou que grande parte da população não está ciente das ações feitas pelo Executivo federal. “Teve uma pesquisa interna que apontou pontos de estrangulamento sobre a comunicação, as pessoas não sabem o que o governo fez ou faz, só sabem das brigas e motociatas do presidente”, reconhece um assessor palaciano.
A pesquisa interna foi encomendada pelo PL e apontou uma rejeição a Bolsonaro. A partir dali, o núcleo político do governo — que inclui membros da coordenação eleitoral do presidente, como o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira — identificou a necessidade de melhorar a comunicação governamental. “É um governo de muitas [realizações], mas que as pessoas ainda não sabem das realizações do próprio governo. O trabalho fantástico que foi feito na área de saúde de proteção às pessoas”, comentou Nogueira em entrevista à CNN Brasil.
Desde então, o Planalto atua para refinar o discurso pessoal de Bolsonaro com mais inserções sobre economia e, também, em estratégias institucionais para divulgar as ações governamentais. O planejamento faz parte de um cálculo político que prevê não apenas reduzir a rejeição do governo, mas, também, evitar insatisfações na base.
“O presidente já entendeu que uma parte do Centrão trabalha com pesquisa eleitoral embaixo do braço, então, ele sabe que esses índices de rejeição geram incômodo nas bases”, reconhece um interlocutor do governo. Por isso, o Planalto trabalhou nas últimas semanas para comunicar tudo o que foi feito ao país, a nível nacional e local.
O vice-presidente nacional do PL, deputado federal Capitão Augusto (SP), confirma a existência da pesquisa interna elaborada pelo partido e admite que os resultados estimularam o Planalto a repaginar a comunicação governamental. “Nós tínhamos feito uma pesquisa que detectou isso, a falha na comunicação, os feitos do governo Bolsonaro em todas as áreas não estão chegando na linha de frente”, justifica.
A ideia do governo é destrinchar todos os feitos por cada ministério e fazer chegar o que foi feito em todas as áreas, a exemplo da agricultura, educação, meio ambiente, saúde e economia, explica Augusto. “A pesquisa só comprovou a percepção que nós tínhamos, a grande falha que o próprio Bolsonaro e o Ciro admitem. É realmente nessa questão que precisamos melhorar”, destaca.
O vice-presidente do PL defende, contudo, que as pesquisas sejam encaradas como uma fotografia do momento e não podem ser tomadas como uma base irrefutável. “Os números estão inflacionados, mas vemos nas nossas percepções e a gente sabe e reconhece que precisa melhorar a comunicação, até porque, óbvio, há um grau de rejeição, mas jamais no nível que as pesquisas estão apontando”, diz.
Como a comunicação vai ser trabalhada pelo governo e o que esperar
A estratégia do governo envolve gastos publicitários com propagandas e pronunciamentos em rede nacional nas estações de rádio e canais de TV. A expectativa de interlocutores é que a distribuição dos recursos siga uma metodologia pragmática com base nos picos de audiência, a fim otimizar a comunicação junto às massas.
Também estão previstas despesas com publicidade nas redes sociais. Uma gestão de tráfego vai ditar os rumos de quais os melhores horários e quais mídias receberão aportes para impulsionar publicações do governo. Dos gastos com as ferramentas digitais, interlocutores dizem que mais da metade do valor a ser investido será aportado no aplicativo “Bolsonaro TV”.
A divulgação do aplicativo já vem sendo feita nas redes sociais de Bolsonaro com a promessa de unificar as redes sociais do presidente da República. “Em torno de 60% do investimento nas redes sociais vai ser na divulgação do aplicativo”, sustenta um interlocutor. As redes sociais estarão em permanente análise pelo Planalto e uma readequação dos gastos com publicidade nas mídias não é descartada.
O aplicativo começou a ser divulgado nas redes sociais de Bolsonaro na segunda-feira da última semana (24). Uma segunda publicação foi feita na sexta-feira (28), mesmo dia em que o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV para anunciar as ações do governo.
Pré-candidato ao governo da Bahia, Roma falou sobre o Auxílio Brasil, que definiu como “o maior programa permanente de transferência de renda da história do país”; disse que trabalhadores empregados receberão o auxílio mensalmente por dois anos; afirmou que o governo zerou a fila de adesão ao programa; informou sobre a tarifa social de energia elétrica; destacou o auxílio gás; destacou sobre programas de acesso e doação de alimentos aos mais pobres; e falou sobre as ações às famílias desabrigadas pelas chuvas no país.
Além de Roma, também são esperadas ações de comunicação institucional em outras pastas, a exemplo dos ministérios do Desenvolvimento Regional e da Infraestrutura, chefiados por Rogério Marinho (PL) e Tarcísio de Freitas (sem partido), respectivamente, que também devem ser anunciados como pré-candidatos nas eleições.
“A princípio, essas inserções já começam esta semana. Vai começar a metralhadora de comunicação do governo”, afirma um deputado da base “raiz” de Bolsonaro com conhecimento das articulações. “O governo vai pegar pesado e mexer nessa questão do modelo de comunicação. Todos estão insatisfeitos, isso é ponto pacífico, eu mesmo estou bem ansioso”, complementa.
A informação que circula nos bastidores é de que o Planalto não vai focar seu planejamento de comunicação apenas no Nordeste, base territorial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas também no Sudeste. Um outro levantamento que circula no governo mostra que há uma carência de informação das realizações nos grandes bolsões de periferia do Sudeste, onde Lula aparece fortalecido nas pesquisas internas.VEJA TAMBÉM:
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Que repercussão Bolsonaro espera com a estratégia comunicacional
Uma vez implementada em toda a cadeia do governo, a expectativa do Planalto é que a estratégia comunicacional seja reinvestida em capital social e político a Bolsonaro. A leitura é de que, no ritmo almejado, até o fim da janela de troca partidária, em 2 de abril, o governo reduza sua rejeição nas pesquisas e fortaleça a candidatura do presidente à reeleição junto à base governista.
A maioria dos parlamentares e de lideranças de partidos do Centrão, como o PP e o Republicanos, ainda analisam os cenários para tomar sua decisão sobre que candidato apoiar em 2022. Uma boa parte deles não é um manifesto apoiador de Bolsonaro e prega o discurso de que é mais prudente aguardar abril para saber como estará o cenário eleitoral até lá.
A depender da queda de rejeição de Bolsonaro e de uma recuperação dos índices de intenções de voto, há uma possibilidade considerável de o governo manter o apoio de parlamentares da base nas eleições. Por isso, o Planalto sabe que uma boa parte de seus aliados vai exigir “garantias” para apoiar Bolsonaro e convencer seus cabos eleitorais a fazerem o mesmo.
Como dizem parlamentares no jargão político, uma parte do Centrão vai estar com “um pé em cada jangada” e pode tomar sua escolha entre apoiar o presidente ou outro candidato no último momento. “Muitos ainda estão em stand by, analisando os cenários. Ainda é muito cedo para saber se Bolsonaro tem chance ou não”, defende um parlamentar do Centrão.
“Tem uns 20% de deputados do Centrão que ficam pisando nas duas jangadas e só vão tomar a decisão no último minuto, na hora de rodar a gráfica com os santinhos. Esse é o perfil do cara que pode debandar, o covarde que é o último a abandonar o barco”, diz um deputado da base “raiz” de Bolsonaro.
O deputado Capitão Augusto acredita que o trabalho de comunicação desempenhado terá um papel preponderante para manter a base unida e evitar quaisquer chances de dispersão ou debandada. Para ele, o cenário é favorável para Bolsonaro evoluir nas pesquisas e para aliados perceberem isso junto às suas bases.
“Bolsonaro só tende a crescer e o Lula tem mais a perder, porque, agora, a gente começa a relembrar o que Lula e Dilma fizeram no verão passado, enquanto o governo vai trabalhar essa questão do Auxílio Brasil, a economia melhorando e os empregos voltando a ser gerados, mesmo com a pandemia e essa herança deixada pelo PT”, diz o vice-presidente do PL.
O deputado Giacobo (PL-PR), presidente do diretório paranaense da legenda, também rechaça qualquer possibilidade de debandada e entende que o trabalho de comunicação desempenhado apenas tende a fortalecer Bolsonaro. “O governo está tomando um choque de realidade, principalmente no que se refere à opinião pública, porque eu acho que o que o governo faz é bastante, mas o que está mostrando é muito pouco, ou seja, faz bastante, mas mostra pouco, a população precisa perceber que o governo Bolsonaro é um governo que tem feito muito”, sustenta.
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