Material Cancerígeno. Relatório da Nutec aponta contaminação do rio Poti

Cotaminação do Rio Poty (Foto: Divulgação IBAMA)

/QUITERIANÓPOLIS | Documento propõe o aprofundamento da pesquisa para identificar responsabilidade e necessidade de programa de saúde para moradores atingidos pela mineração

O rio Poti está contaminado com metais e não metais que podem causar câncer e outras doenças. A conclusão é do Relatório Técnico da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec) que analisou quatro pontos do curso d´água, do solo e de sedimentos acumulados no leito entre os municípios cearenses de Quiterianópolis e de Novo Oriente, na região dos Inhamuns.

O Poti, que se estende até o Piauí, tem “grandes concentrações de antimônio, alumínio, ferro, fósforo, magnésio e potássio” nos trechos examinados no Ceará. Os laudos apontam alto teor dos elementos químicos, todos “acima do limite permitido”. Segundo o laudo, a análise da água mostrou o elemento alumínio 10 vezes acima do nível normal. E antimônio, 100 vezes.

A pesquisa foi encomendada pelas comissões de Meio Ambiente e de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará e é parte de uma investigação que busca saber qual a responsabilidade da mineradora Globest Produções Ltda na poluição do rio e do Açude Flor do Campo (Novo Oriente).

A Globest, uma mineradora chinesa/inglesa, explora minério de ferro em Quiterianópolis, na serra do Besouro, desde 2010. A empresa foi autuada 12 vezes pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e duas vezes pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por uma série de crimes ambientais que teriam sido cometidos próximos ao longo do Poti (leia https://bit.ly/2TVn7vu). Pelo menos duas das autuações relatam a falta de manejo adequado dos rejeitos ou resíduos resultantes da extração do minério.

As irregularidades, denunciadas por moradores das comunidades do entorno da mina, pelo Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM) e pelo Escritório de Direitos Humanos Frei Tito de Alencar, resultaram na suspensão da licença de operação da Globest (2016). E, também, levaram os deputados estaduais Acrísio Sena (Meio Ambiente) e Renato Roseno (Direitos Humanos) a convocar reuniões de emergência para encaminhar apurações e recuperação dos danos causados pela mineradora.

Em reunião no dia 3/5 na Assembleia Legislativa, pesquisadores da Nutec indicaram a urgência de complementação da investigação científica. Agora, com o intuito de esquadrinhar responsabilidades. “Para atestar ou não a influência direta da mineradora (Globest), faz-se necessário um estudo mais amplo com uma área de abrangência bem maior”, escreveu por e-mail, ao O POVO, Jackson de Queiroz Malveira, gerente de tecnologia de alimentos e Química do Nutec.

Até aqui, o mapeamento “geoquímico da área de influência da mineração (no solo, sedimentos de corrente e água)” fez com que a Nutec propusesse o “levantamento das condições de saúde da população” dos dois municípios e de “ações mitigadoras da atividade minerária”.

De acordo com o relatório técnico da Nutec, se os moradores da serra do Besouro forem expostos à inalação de antimônio poderão sofrer com doenças de pele e olhos, com inflamação nos pulmões, bronquite crônica e enfisema pulmonar.

No caso de ingerirem a água nos quatro pontos do rio Poti e no açude Flor do Campo, onde foram constatadas as contaminações por antimônio, as vítimas poderão ter irritação da mucosa gástrica, vômitos, cólicas abdominais, diarreias e toxidades cardíacas. No documento, a Nutec afirma que “dados da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) classificam o antimônio como possivelmente carcinogênico”.

O alumínio, outra substância encontrada nas amostras coletadas pelos cientistas da Nutec, está relacionado “a um grande número de doenças crônicas, incluindo doenças ósseas, condições autoimunes, câncer e doenças neurodegenerativas”.

Assim como o fósforo, outro elemento detectado nas águas do Poti e do açude Flor do Campo em teor acima do permitido pelo Conama, poderá causar calcificações cardiovasculares e dos tecidos moles, hiperparatiroidismo secundário, ostopenia (diminuição da massa óssea) e aumento do risco de fraturas.

A gravidade constatada nos laudos fez a Nutec recomendar a “necessidade premente” de um “projeto saúde & mineração para Quiterianópolis e Novo Oriente”. Com um planejamento que coloquem na mesma mesa as secretarias da Saúde do Estado e dos municípios atingidos, a própria Nutec, as secretarias do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia, a Semace, a Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), as prefeituras e mineradora Globest Produções Ltda. Uma investida para identificar e reduzir danos à população atingida pela poluição do rio Poti e açude Flor do Campo.

ESTUDO
A pesquisa realizada no rio Poti foi encomendada pelas comissões de Meio Ambiente e de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará.

Confira matéria do site O Povo.

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