Estado identificou e isolou triunvirato que assumiu comando do PCC em São Paulo
SÃO PAULO – Em sigilo, o governo de São Paulo transferiu no dia 15 três presidiários que haviam assumido o comando do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo para o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). A cúpula da facção já havia sido enviada, em 13 de fevereiro, para penitenciárias federais.
Depois disso, um triunvirato formado pelos presos Márcio Domingues Ramos, o Sombra; Valdeci Francisco da Costa, o CI (de Circuito Integrado); e Wilber de Jesus Mercês, o Pirajuí, passaram a dar as ordens na facção, substituindo no dia a dia o líder do grupo, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, que hoje está em um presídio federal em Brasília.
O Estado apurou ainda que, caso novos presos sejam nomeados pela facção para substituí-los, a determinação da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) será também de transferi-los para o sistema prisional federal. O objetivo do titular da pasta, Nivaldo Restivo, é deixar a facção acéfala em São Paulo, impedindo que ela volte a planejar ações criminosas por meio de um comando único na cadeias paulistas.
Dois dos presos que haviam assumido a liderança da facção haviam sido investigados em 2016 durante a Operação Ethos, que atingiu 54 acusados, entre os quais 14 advogados e um dirigente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe). Trata-se de Valdeci, o CI, e de Wilber, o Pirajuí.
O primeiro planejava criar uma organização não governamental para infiltrar advogados da facção no Condepe. Autor de dois livros – um deles com relatos sobre sua vida na cadeia -, CI mantinha contato com o advogado Luiz Carlos dos Santos, vice-presidente do Condepe. Bacharel em Direito, CI era o responsável pelo setor jurídico do PCC – a chamada Sintonia dos Gravatas – e organizou a assistência judiciária do grupo assim como o auxílio funerário.
Wilber também atuava na chamada Sintonia dos Gravatas e esteve internado no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), na Penitenciária de Presidente Bernardes, com Marcola e outros integrantes da cúpula da facção antes de voltar para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, na região oeste do Estado. A Justiça havia indeferido o primeiro pedido feito pelo Ministério Público Estadual para que CI fosse transferido em 2018 para o sistema federal.
O terceiro integrante do triunvirato do PCC era Sombra. Em 2013, quando 175 integrantes da facção – entre eles toda a cúpula do grupo – foram denunciados pelo Ministério Público por formação de quadrilha, Sombra ocupava o 19.º lugar na lista. Ele pertencia ao setor financeiro do PCC e atuava no tráfico de drogas e armas para a facção.
A inteligência da SAP detectou que Sombra, CI e Pirajuí haviam sido designados para substituir Marcola porque o isolamento dos líderes transferidos para o sistema prisional federal dificultava o processo de tomada de decisão no dia a dia da facção. O PCC teria integrantes espalhados por cinco países, além do Brasil (Guiana, Peru, Colômbia, Bolívia e Paraguai) e teria faturado no ano passado mais de R$ 400 milhões no País.
Líder
Segundo a cúpula da SAP, os três presos foram transferidos “porque identificamos postura de liderança dentro da facção após a transferência inicial da cúpula”. Eles foram designados como os representantes de Marcola em São Paulo.
Nem a Administração Penitenciária nem o Ministério Público – autor do pedido de transferência – informaram quais as provas foram encontradas para confirmar a acusação contra os três detentos. O pedido de transferência tramitou em sigilo, e o Estado não localizou os advogados dos presos.
PARA LEMBRAR: Com Doria, política mudou
A decisão do governo do Estado de mandar a cúpula da facção para o sistema prisional foi tomada pelo governador João Doria (PSDB) em janeiro deste ano. Anteriormente, o Executivo defendia a permanência da cúpula da facção em São Paulo, enviando para o sistema federal apenas os detentos que se envolvessem em atentados contra policiais.
A mudança de postura do governo paulista aconteceu depois que, em 2018, os órgãos de segurança detectaram um plano para resgatar a cúpula da facção criminosa, que estava na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Em fevereiro, a Justiça paulista concordou com o pedido de transferência de 21 criminosos, entre os quais Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Condenado a 360 anos de prisão, Marcola era o último líder preso de uma grande facção criminosa que permanecia fora do sistema federal, que já abrigava chefes de grupos como o Comando Vermelho.
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