Apesar de resistências no PT e impasses com PSB, cresce chance de chapa com Lula e Alckmin

Após um esfriamento no início do ano, as negociações entre PT e PSB para uma aliança na eleição para a Presidência da República foram retomadas nesta semana – o objetivo principal é concretizar a formação de uma chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tendo como vice o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (atualmente sem partido, mas que pode se filiar ao PSB).

Nesta quarta-feira (19), o próprio Lula tratou de indicar sua vontade de ter Alckmin como vice, buscando enfraquecer a ala petista que vinha criticando uma possível aliança com o ex-tucano.

“Não terei nenhum problema em fazer chapa com o Alckmin para ganhar as eleições e governar esse país. Só não posso dizer ainda porque falta definir para qual partido ele vai, ver se o partido vai fazer aliança com o PT”, disse Lula em uma entrevista coletiva. “Temos divergências? Temos. Por isso pertencemos a partidos diferentes. Temos visões de mundo diferentes? Temos. Mas isso não impede a possibilidade de que as divergências sejam colocadas em um canto e as convergências de outras para poder governar.”

Na quinta-feira (20), a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, se reúne com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, para tentar contornar impasses em alguns estados, onde os dois partidos querem lançar candidatos próprios ao governo; e para tratar do formato da aliança – por meio de federação, coligação ou somente apoio informal. São duas condições para viabilizar a entrada de Alckmin no PSB, partido de sua preferência para ser vice de Lula.

A possibilidade de uma dobradinha entre os dois começou a ser costurada por políticos próximos de ambos no fim de 2021 e foi celebrada num jantar ocorrido no dia 19 de dezembro, em São Paulo, promovido pelo grupo Prerrogativas, de advogados antilavajatistas.

Ainda há dúvida sobre a qual partido Alckmin se filiará. A escolha natural é o PSB, legenda do ex-governador de São Paulo Márcio França, que o sucedeu no governo de São Paulo em 2018, e que iniciou as conversas com o PT. A cúpula do partido quer a aliança com o PT, mas também não quer abrir mão da candidatura de França para o governo do estado neste ano; os petistas, por outro lado, querem que o partido ceda e apoie Fernando Haddad para o Palácio dos Bandeirantes.

Há também impasses em Pernambuco, Espírito Santo, Acre, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, onde o PT quer que o PSB apoie seus candidatos ao governo estadual.

Em Pernambuco, o PT tenta emplacar o senador Humberto Costa e o PSB, que já governa o estado com Paulo Câmara, ainda estuda que nome do partido poderia sucedê-lo – os mais cotados são o atual secretário da Casa Civil, José Neto, os deputados federais Danilo Cabral e Tadeu Alencar, ou o ex-prefeito de Recife Geraldo Júlio, que já disse não querer o posto.

No Rio de Janeiro, o PSB esperava que o PT apoiasse o deputado federal Marcelo Freixo (recém-saído do Psol e agora filiado ao PSB) para o governo do estado. Mas os petistas avaliam lançar como candidato o presidente da Assembleia Legislativa estadual, André Ceciliano (PT).

No Espírito Santo, onde o PSB também é forte, o governador Renato Casagrande prefere apoiar Ciro Gomes (PDT) e, assim, não subir em palanque do PT, que pode lançar o senador Fabiano Contarato, recém-filiado ao partido.

No Acre, o PSB cogita o deputado estadual Jenilson Leite, mas pode abrir mão em favor do ex-senador Jorge Vianna, do PT. No Rio Grande do Sul, o PSB planeja lançar Beto Albuquerque, embora o PT queira como candidato seu deputado estadual Edegar Pretto.

Um caminho para um acordo seria dividir os estados, com cada partido abrindo mão de candidatura própria ao governo em alguns para apoiar o candidato do outro – em contrapartida, ganharia o direito de lançar um candidato ao Senado com apoio recíproco. Ainda assim, o principal entrave permanece sendo São Paulo, onde Márcio França e Fernando Haddad são competitivos, sobretudo com a saída de Alckmin da disputa. Alckmin deixou o PSDB no ano passado, porque o atual governador, João Doria, quer lançar o atual vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), para sucedê-lo no cargo.

O PT chegou a sugerir que Alckmin fosse abrigado no PSD, o que evitaria os impasses estaduais com o PSB e ainda traria para a órbita de Lula um partido mais forte, com mais tempo de TV, fundo eleitoral e bancada maior. Mas o presidente da sigla, Gilberto Kassab, recusou, porque insiste em lançar ao Planalto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e só aceita apoiar Lula num eventual segundo turno.

O Solidariedade, presidido pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, convidou Alckmin para o partido neste ano, topando que lançá-lo como vice de Lula.

Mas até o momento, Alckmin não decidiu, afinal, para qual partido irá – uma das explicações é que sua preferência é mesmo pelo PSB e que ele só aguarda uma solução para a disputa com o PT nos estados para só então se filiar e aceitar compor com Lula como candidato a vice-presidente.

Maioria dos líderes do PT tende a aceitar Alckmin, mas há resistências internas

Do lado do PT, a avaliação é que a maioria de seus dirigentes aceite Alckmin como vice. Um dos principais apoiadores dessa união é o ex-presidente do partido e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Ele tem defendido que o PT tenha uma aliança que vá além do campo da esquerda – a ideia aqui é criar um discurso de campanha que apresente a chapa como uma “frente ampla a favor da democracia” com o objetivo principal de tirar Jair Bolsonaro da Presidência.

Por trás dessa estratégia, há também uma tentativa de camuflar, tendo Alckmin como “escudo”, um programa econômico defendido por Lula e pelo PT que assusta o mercado – o partido não se compromete com a responsabilidade fiscal e quer acabar com o teto de gastos, a regra de ouro na execução do Orçamento, e revogar as reformas trabalhista e previdenciária.

Ainda assim, há uma ala no PT que rejeita Alckmin, tendo como principais representantes os também ex-presidentes do partido Rui Falcão e José Genoino. Para esse grupo, Lula não precisa do ex-tucano para vencer eleição e o PT não pode abrir mão de candidatura própria ao governo paulista com Haddad. Ainda pesa contra Alckmin uma forte rejeição por parte da militância petista em São Paulo, que sempre criticou seus governos no estado.

No próprio site do PT, por exemplo, há um espaço que compila várias medidas e atitudes de Alckmin como governador fortemente criticadas: “inúmeras investidas contra a educação e os serviços públicos, a colaboração com o governo golpista de [Michel] Temer, a repressão aos movimentos sociais, os escândalos para favorecer determinados grupos econômicos no governo paulista”.

“O Alckmin foi muito radical com movimentos sociais. Teve aquele episódio da reação violenta da PM na desocupação do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, em 2012. E o Alckmin não acrescenta voto para o Lula, ao contrário. É como quando o Paulo Maluf apoiou o Fernando Haddad em 2012, para a prefeitura de São Paulo. Não deu um voto para ele e trouxe desgaste, porque a Luiza Erundina, que era para ser vice, saiu atirando e desistiu”, disse à Gazeta do Povo Rui Falcão.

Desde o final de dezembro, circula no PT um abaixo-assinado contra Alckmin como vice de Lula e que já conta com mais de 1,2 mil assinaturas, a maioria de militantes. Nele, há um manifesto que ataca o ex-tucano por ter apoiado o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e a prisão de Lula, em 2018.

Apesar dessa resistência, aliados de Alckmin dizem que ele segue disposto a ser vice de Lula. Em primeiro lugar, porque enfim alcançaria o poder federal, algo que sempre almejou e nunca conseguiu. Além disso, consideram que, como vice, ele poderia conter os radicais do PT e frear eventuais medidas de Lula que prejudiquem o empresariado.

“Eu acho que [o Alckmin] vai sair com Lula. É péssimo para ele. Terá uma rejeição grande por fazer essa coligação. Mas, para o país, não é ruim. Porque o Lula vai ganhar a eleição com ou sem Geraldo. Mas ele amansa um pouco os petistas radicais. Eu vou apoiar, porque nem tudo que o PT fez é ruim, tem coisa boa que ajudou bastante gente humilde. O PT grita para lá e para cá, mas na hora do ‘vamo ver’ é Lula quem decide o assunto. Deixa eles gritarem”, diz o ex-presidente do PSDB de São Paulo Pedro Tobias, bastante próximo de Alckmin e que deixou o partido junto com ele.

Quais são os últimos acertos para viabilizar a aliança Lula-Alckmin

Um dos últimos problemas a se resolver para a chapa Lula-Alckmin é definir como poderá efetivar-se a aliança entre PT e PSB. Há três possibilidades: uma federação partidária, uma coligação ou um apoio informal de Lula às candidaturas próprias do PSB nos estados.

A federação partidária é a opção mais complexa: exige que os partidos façam chapas conjuntas em todos os estados para todos os cargos, atuem juntos ao longo dos quatro anos da próxima legislatura no Congresso e se unam nas eleições municipais de 2024.

A coligação permite que se aliem somente nas eleições deste ano, mas isso só valeria para candidaturas majoritárias (presidente, governador e senador), e não nas proporcionais (para deputados federais e estaduais).

O apoio informal, por outro lado, permite que cada um lance candidaturas próprias e façam um “pacto” de um participar do governo do outro em caso de vitória – é o que propõe Rui Falcão, por exemplo.

Na terça (18), antevéspera de seu encontro com Carlos Siqueira (presidente do PSB), Gleisi Hoffmann declarou que a aliança entre o PT e o PSB para as eleições de 2022 já está consolidada. “Já tem uma decisão de apoio ao presidente Lula. O PSB estará com a gente, se não na federação, numa coligação. Mas vamos fazer um esforço para ter a federação, que dá mais nitidez ao campo político, é importante para o processo que estamos vivendo”, disse.

Nesta quarta (19), um dia antes da reunião com a presidente do PT, Carlos Siqueira conversará com a bancada de deputados federais do PSB para discutir o assunto.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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