Nova York, Califórnia e Illinois tiveram queda histórica da população em 2021

Na semana retrasada, o departamento do Censo dos Estados Unidos divulgou suas estimativas de população para 2021 do país e de seus territórios. Sempre me interesso especialmente por números líquidos de migração doméstica, que mostram se as pessoas estão chegando ou deixando um estado. Esses números são interessantes porque, analisados como um todo, os padrões de migração líquida provavelmente revelam as preferências por mudança para diferentes estados.

Embora as pessoas tenham preferências diferentes em fatores como clima e geografia, é improvável que os padrões líquidos de imigração sejam fortemente influenciados por eles quando é feita uma comparação de um ano para o outro.

Por quê? Bem, fatores como clima e geografia raramente mudam rapidamente. As pessoas sabem que a Califórnia tem praias, o Nordeste americano tem folhas e o Colorado tem montanhas. Não vai chocar nenhum morador se nevar muito em Minnesota. É improvável, então, que em um determinado ano muitas pessoas se mudem para o Colorado porque de repente elas decidiram que as montanhas têm um apelo mais forte neste ano do que tinham no ano passado.

Então, quais fatores podem estar por trás das mudanças de estado? Bem, novas oportunidades de emprego são um fator importante. Por exemplo, a ascensão do Vale do Silício atraiu muita gente para a Califórnia para preencher as centenas de milhares de empregos na área de tecnologia criados nas décadas de 1970 e 1980 (e depois). Mudanças na indústria, como o aumento do trabalho remoto, por exemplo, também podem influenciar os planos das pessoas sobre onde residir.

Outro fator claramente importante que muda (e está pelo menos um pouco relacionado a oportunidades de negócios) é o ambiente político de um estado. O regime político no poder e as consequências de suas políticas públicas são variáveis ​​que mudam com frequência e podem explicar facilmente padrões migratórios.

Embora haja mais fatores envolvidos na migração doméstica do que política e políticas públicas, acredito que seja um indicador melhor das preferências políticas das pessoas do que seus hábitos de voto. “Votar com os pés” ou se mudar é um indicador valioso porque é muito mais custoso para as pessoas do que depositar seu voto numa urna.

Quando os eleitores vão às urnas, é improvável que seu voto faça muita diferença. Por causa disso, o “custo” de votar em um partido em detrimento de outro é mínimo. É improvável que um único eleitor leve à adoção de uma política pública específica e, portanto, é improvável que os eleitores recebam quaisquer benefícios ou punições por um voto bom ou ruim.

Dessa forma, os eleitores são pouco incentivados a dedicar muito tempo e esforço pesquisando quais são os melhores candidatos para eles no que diz respeito a políticas públicas. Os economistas chamam isso de ignorância racional. Simplificando, sua decisão de permanecer ignorante sobre política e políticos é racional, porque os custos de se conscientizar (tempo, esforço etc.) superam os benefícios.

Dito isso, esse cálculo de custo-benefício geralmente não se aplica à migração. Quando as pessoas se mudam de um estado para outro, é certo que elas vão se deparar com leis diferentes. Quando você opta por se mudar de um estado com imposto de renda alto para outro com imposto baixo, essa decisão literalmente muda sua alíquota de imposto a pagar. Por outro lado, quando você escolhe votar em um político que apoia impostos baixos, seu voto em uma disputa estadual tem quase 0% de chance de alterar sua alíquota.

“Votando com os pés”, você dá a cara a tapa. E, felizmente, o sistema de federalismo dos Estados Unidos garante que a mudança para diferentes estados, embora certamente seja um investimento, não seja algo fora do alcance. Ser contemplado por uma política tributária diferente ao se mudar para outro estado é certamente mais fácil do que se mudar para outro país, por exemplo.

Os maiores perdedores

A primeira observação interessante que podemos tirar dos dados do Censo é que existem três “estados líderes” nítidos, que estão perdendo mais população. Existem duas maneiras diferentes de se pensar em uma diminuição de população.

Primeiro, poderíamos pensar na redução absoluta do número de habitantes em um determinado estado. Por outro lado, poderíamos pensar em quanto a população de um determinado estado diminuiu em termos percentuais. Por exemplo, se houver mil pessoas a menos morando no Kansas este ano em relação ao ano passado, isso representaria uma diminuição percentual muito maior do que se houvesse mil pessoas a menos residindo em Nova York este ano na comparação com o anterior.

Felizmente para facilitar esta análise, os três estados com maiores perdas em números absolutos estão entre os quatro maiores perdedores em termos de porcentagem. Este top 3 consiste de Nova York, Califórnia e Illinois, estados que perderam mais de 100 mil habitantes cada.

A tabela acima mostra dois números para cada estado. A primeira coluna, migração líquida, mostra o número de pessoas que vêm de outros estados, menos as pessoas que partem para outros estados. O segundo número, mudança populacional, mostra a mudança total na população, incluindo migração líquida (doméstica e internacional), nascimentos e mortes.

A queda populacional na Califórnia está longe de ser a regra. De fato, a população da Califórnia vinha aumentando desde antes de 1900 até o ano de 2019. No entanto, alguém com um olhar atento poderia apontar que a taxa de aumento anual da população da Califórnia vem caindo há muito tempo. Desde 2015, a Califórnia vinha tendo aumentos de população significativamente menores ano a ano. Então, 2020 estaria realmente fora da tendência?

Como mostra o gráfico abaixo, a resposta é sim. De 2016 a 2020, a população da Califórnia nunca sofreu uma redução de mais de 100 mil habitantes por ano. Mas entre 2020 e 2021? A mudança populacional na Califórnia (agora negativa) foi uma redução de quase 262 mil habitantes. Portanto, a Califórnia não apenas continua sua tendência de menor crescimento populacional, como a tendência se acelerou.

Illinois tem uma história semelhante. A população vem diminuindo há anos, e essa redução vem aumentando ano a ano. Mesmo assim, 2021 representou um desvio significativo da regra. Entre 2019 e 2020, Illinois perdeu 79 mil habitantes. Nos dois anos anteriores, esse número esteve na casa dos 50 mil. De 2020 a 2021, o estado perdeu quase 114 mil habitantes.

Por fim, a perda de 319.020 habitantes de Nova York superou as perdas de 126 mil e 81 mil dos dois anos anteriores.

Então os números da população estão despencando, mas e a migração líquida acima mencionada? Bem, em todos os três estados, o número de pessoas que se mudaram para outros estados excedeu a perda de população (como mostrado na primeira tabela acima). Em outras palavras, a principal razão pela qual esses três estados estão perdendo população é porque as pessoas estão se mudando para, e não vindo de outros estados.

Não é exagero dizer que os americanos estão fugindo desses estados. E quais são os estados que estão ganhando população? Para surpresa de ninguém, alguns dos que mais crescem em termos percentuais são estados do oeste americano próximos da Califórnia.

Mas a Flórida e o Texas lideraram tanto a lista dos maiores aumentos populacionais quanto a dos maiores níveis de migração líquida. Entre os dois, o Texas cresceu mais rapidamente em termos percentuais. No entanto, o aumento da população em nenhum dos dois estados contrariou a tendência de aumentos anteriores. A história parece ser menos sobre para onde as pessoas estão indo e mais sobre de onde elas estão fugindo.

População e políticas públicas

Políticas públicas ruins da Califórnia, Nova York e Illinois são as culpadas pelas saídas das pessoas desses estados? A aceleração da emigração desses estados nos últimos dois anos certamente sugere alguma relação com a pandemia, mas é possível que o afastamento desses estados reflita o desejo de escapar de áreas de alta densidade populacional, onde a Covid-19 pode se espalhar mais facilmente.

No entanto, considerando a migração líquida para a Flórida, onde a densidade populacional é maior que na Califórnia e quase tão grande quanto em Nova York, isso parece improvável. Da mesma forma, os nova-iorquinos que desejam fugir da densidade populacional da cidade de Nova York podem facilmente se mudar para o norte do estado, ou para Nova Jersey ou Pensilvânia (que também estão sofrendo redução populacional).

Avaliar completamente essa hipótese exigiria informações mais detalhadas, mas acho pouco provável que o medo da Covid-19 esteja deslocando as pessoas de estados de alta densidade populacional para os de baixa densidade.

O trabalho remoto também pode explicar grande parte desse movimento. Nova-iorquinos e californianos com sorte o suficiente para conseguir empregos bem remunerados nesses estados podem agora estar se mudando para locais com custo de vida mais baixo.

Por outro lado, no caso de Illinois, por exemplo, parece estranho que os moradores sintam a necessidade de sair do estado para reduzir o custo de vida. Se o desejo é de mudança para uma área rural, por que não se mudam para áreas rurais do seu próprio estado? Se estão se mudando para outras grandes áreas metropolitanas, que economia isso representaria na comparação com Chicago? Além disso, quantas empresas estão garantindo que o trabalho remoto será uma opção permanente?

Por fim, e acho que de forma mais convincente, me parece que grande parte desse movimento pode estar relacionada a políticas públicas relacionadas à pandemia. Lockdowns, passaportes vacinais, fechamento de escolas e outras regras de enfrentamento à Covid-19 são provavelmente complicadores intoleráveis para muita gente. Curiosamente, Elon Musk, o maior pagador de impostos individual dos Estados Unidos, cumpriu sua ameaça de sair da Califórnia devido às regras sobre a Covid-19, e muitas outras pessoas também deixaram o estado por motivos semelhantes.

Independentemente do motivo, os dados são claros. Os americanos querem sair de Nova York, Califórnia e Illinois. Esses três estados são os maiores perdedores (de população).

© 2021 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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