Inflação, deflação e desinflação

Dinheiro / Real - 25-05-2017 - O Real é a moeda corrente oficial da República Federativa do Brasil. A cédula de um real deixou de ser produzida, entretanto continua em circulação alguns exemplares. As demais cédulas de real continuaram sendo produzidas normalmente pela Casa da Moeda. Entre elas, as notas de: 2,5,10,20,50 e 100. Na foto, detalhes de uma nota de 100 reais.

Neste início de 2022, a palavra “desinflação” apareceu com certa frequência nas notícias econômicas e, dado que não é uma expressão corriqueira no debate público, tem provocado alguma confusão. A solução de um problema qualquer começa com o conhecimento da essência, do funcionamento e das leis científicas do problema, suas causas e consequências. Certa confusão na compreensão da inflação se estabeleceu em função de a inflação do ano passado, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ter fechado em 10,06%, bastante alta se comparada com a meta oficial inicial de 3,75%.

Os economistas considerados ortodoxos dizem que a inflação (que vem do verbo “inflar”, ou seja, inchar), em sua origem, é o aumento da moeda circulante em porcentual superior ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Isto é, se a expansão monetária em determinado ano supera o crescimento do PIB, a consequência é a desvalorização da moeda, que se dá pelo aumento do nível geral de preços. O aumento de preços, para essa corrente de pensamento, é o efeito da expansão do estoque de moeda em circulação (“moeda” se refere a todos os meios de pagamentos, seja moeda manual, moeda escritural ou moeda digital). Então, para os puristas a inflação é a emissão de dinheiro em todas suas formas, e cabe ao Banco Central atuar para impedir que o estoque de dinheiro aumente mais que o crescimento da produção real do país.

Com o retorno gradativo ao normal e a volta do crescimento do PIB, tudo ajudado pelo fim da crise hídrica, se está prevendo importante desinflação

Porém, para os fins mais imediatos, convencionou-se chamar de inflação a taxa de aumento generalizado e contínuo dos preços, que no Brasil é medida por vários índices; o IPCA é a “inflação oficial” medida pelo IBGE. Dito isso, o IPCA de 10,06% verificado em 2021 é uma média da elevação de preços de 377 itens de bens e serviços, basicamente aqueles consumidos pelas pessoas com renda de um a 40 salários mínimos, cuja aferição é feita em 11 regiões metropolitanas. Considerando a meta original de 3,75% definida pelo Banco Central (BC), o IPCA de 2021 efetivamente subiu muito e, além de criar certa apreensão entre os agentes econômicos, provocou efeitos imediatos: reduziu o poder de compra dos salários, desorganizou o sistema de preços, prejudicou o cálculo econômico e orçamentário e empobreceu parte da população.

Quanto à deflação, ela significa, de forma direta, o contrário de inflação. Ou seja, há deflação quando os preços nominais têm uma queda generalizada e contínua, de forma que os bens e serviços passam a ter preços inferiores aos preços que tinham no início do período medido. Deflação é um fenômeno raro, porém, quando ocorre, cria sérios problemas no sistema econômico: produz desemprego, eleva a pobreza e, geralmente, deriva de crises graves, especialmente depressões econômicas como a que ocorreu nos anos 1930, quando o PIB chegou a cair 40% em algumas regiões. Neste início de 2022, em função da realidade brasileira, começou-se a falar em “desinflação”, que não se confunde com deflação.

Em relação à desinflação, seu significado pode ser explicado comparando a inflação a um tumor (um inchaço verificado em um corpo), que diminui de tamanho após um processo de desinflamação, sem, contudo, desaparecer. O que vem sendo dito por alguns analistas é que a inflação de 10,06% verificada em 2021 contém elementos atípicos (especialmente a recessão e a desordem provocadas pela pandemia) e que, uma vez encerrado o isolamento social, com o sistema produtivo voltando ao normal, os preços poderão continuar crescendo, mas a uma taxa em torno de 5%, que é a previsão feita por vários analistas. Ou seja, a taxa de inflação deve desinflar (desinchar) e continuará existindo, embora em um nível menor.VEJA TAMBÉM:

Uma afirmação recorrente nas análises especializadas sobre a inflação brasileira de 2021 é que sua causa principal está em problemas simultâneos como a crise hídrica; a elevação dos preços de energia; o aumento da taxa de câmbio; o aumento dos preços do petróleo, dos combustíveis e do gás; e, sobretudo, a recessão e a desorganização no sistema econômico provocadas pela pandemia e as medidas para combatê-la, especialmente o isolamento social e o fechamento de parte importante de empresas e outras unidades produtivas. Os efeitos da pandemia levaram a uma expressiva redução no consumo das famílias e na demanda feita pelas empresas, em razão do desemprego, do fechamento dos estabelecimentos e da perda de renda de 40 milhões de profissionais liberais e autônomos.

Houve estranhamento que, mesmo com expressiva redução na demanda agregada (consumo mais investimentos), a inflação tivesse espaço para crescer, pois o normal em períodos de redução da demanda é não haver elevação de preços. Ocorre que a inflação brasileira sofreu, adicionalmente aos problemas já citados, um forte choque de oferta, ou seja, a produção caiu substancialmente e a oferta de bens e serviços se reduziu mais que a demanda. Com o retorno gradativo ao normal e a volta do crescimento do PIB, tudo ajudado pelo fim da crise hídrica, se está prevendo importante desinflação. O tumor da inflação continuará existindo, mas deve diminuir de tamanho, passando de 10% em 2021 para 5% em 2022. A grande dúvida reside em um ponto: quais consequências este ano eleitoral – quando serão eleitos novos governadores, deputados estaduais e federais, senadores e presidente da República – provocará na economia, tendo em conta os antagonismos exacerbados e a instabilidade política e jurídica que ronda a nação o tempo todo.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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