O presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a cogitar uma alternativa semelhante à de 2018 para ser seu vice em 2022: escolher um general. Nesse caso, ministro da Defesa, Braga Netto, é quem está cotado. “É algo que se fala desde o ano passado”, diz um militar da ativa. No entanto, a opção pelo militar, general de Exército das Forças Armadas – um “quatro estrelas”, o topo da hierarquia –, ainda não está fechada.
Embora agrade Bolsonaro, o general Braga Netto enfrenta resistências dentro de partidos aliados como PL, PP e Republicanos, que defendem outros perfis para a chapa presidencial. A avaliação é de que o ministro da Defesa não agregaria mais votos do que o presidente já tem.
Nas Forças Armadas, a opção por Braga Netto divide opiniões. Alguns acham que a opção por ele pode vingar e render bons frutos eleitorais a Bolsonaro e à própria categoria. Mas parte dos militares não acreditam que essa escolha possa ser tão bem-sucedida como a de 2018 , quando Bolsonaro escolheu o general Hamilton Mourão para compor a chapa. Esse grupo de integrantes das Forças Armas também acredita que haverá ônus em mais uma substituição do ministro que exerce a interlocução com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica – para poder concorrer a algum cargo eletivo, todos os ministros têm de deixar seus cargos até o começo de abril.
Ciente dos alertas, Bolsonaro vai sondar outros nomes e perfis para a vice antes de bater o martelo. Mas mantém firme a posição de que a última palavra será dele. Após desentendimentos com seu atual vice, Hamilton Mourão, o presidente mantém como meta a busca por um nome mais discreto.
Por que Braga Netto entrou na lista de opções de Bolsonaro
A opção por um vice discreto é um requisito inegociável por Bolsonaro. Reservado, Braga Netto preenche o perfil. Outra condição que o ministro da Defesa atende é a proximidade com o presidente. “Ele é de extrema confiança do presidente, é extremamente alinhado”, diz um militar da ativa da Marinha.
O presidente e o ministro se conheceram nos tempos de graduação na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Bolsonaro se graduou na turma de 1977 e Braga Netto na turma de 1978. No governo, interlocutores asseguram que ambos mantêm uma boa e próxima relação e entendem que tal alinhamento seja esse um dos motivos que o presidente procure.
Militares entendem, contudo, que Bolsonaro não cogite Braga Netto apenas pela boa relação entre ambos. Mas também pelos benefícios de se manter um militar como vice. “A lógica por trás dessa sondagem é manter o mesmo ‘seguro’ que ele teve com o Mourão. Por que o Congresso não derrubou o presidente lá atrás? Mourão é do Exército, e um general é ‘inderrubável’. O melhor antídoto contra impeachment é ter um general como vice”, afirma um militar da ativa do Exército.
Alguns no governo até analisam que um possível convite para Braga Netto também seja uma forma de recuperar o apoio de alguns militares e consolidar sua força dentro das Forças Armadas, pois o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) conta com o apoio de parte da corporação.
Contudo, militares ouvidos pela Gazeta do Povo descartam tal hipótese por entender que Bolsonaro já conta com um amplo apoio dentro das Forças Armadas. “Isso não faz o menor sentido. O presidente já tem um apoio bem consolidado [dos militares]”, diz uma das fontes ouvidas pela reportagem. O militar afirma, contudo, que o ministro teria pouco a agregar em termos de voto. “A questão a ser discutida é: que eleitor o Braga Netto ajudaria o presidente a agregar?”
Por que parte dos aliados resiste à ideia de Braga Netto na vice-presidência
A avaliação de que Braga Netto como vice na chapa presidencial agregaria poucos votos a Bolsonaro é partilhada por aliados políticos e militares.
No Centrão, o discurso contrário ao ministro da Defesa vai menos no sentido de que um político é a melhor opção, e mais na linha de que o posto deve ser preenchido por um quadro que possa angariar votos que o presidente não dispõe atualmente.
O entendimento é de que, com Braga Netto, Bolsonaro teria um vice que o ajudaria apenas a “pregar para convertidos”. Pela mesma lógica, um vice ligado ao agronegócio ou um evangélico não é bem visto por alguns políticos. pois há o entendimento de que o presidente já irá às eleições com a maioria dos votos de evangélicos e de ruralistas.
Embora contrário a Braga Netto como vice, o discurso no PP é de sobriedade caso Bolsonaro opte por não seguir o conselho do partido. Na legenda, aliados garantem que não há muito interesse em indicar um vice. Quando Bolsonaro escolheu se filiar ao PL, firmou-se um acordo de que o PP ficaria com a vice-presidência na coligação. Rachado internamente sobre estar ou não na mesma coligação que o governo, uma parte da legenda defende que a sigla libere seus diretórios estaduais e não apoie Bolsonaro.
Embora cogite um vice militar como um “seguro” contra o impeachment, aliados de Bolsonaro no Centrão asseguram que a vice-presidência não é um dos postos mais cobiçados pelos partidos. No PP, por exemplo, algumas lideranças asseguram que o controle de ministérios e cargos em altos escalões é mais cobiçado do que a vice.
“Se o PP tiver a vice, tudo bem, mas não é sequer o principal objetivo. Tudo isso é uma construção política. Se entenderem que é importante abrir mão desse posto em nome do projeto político, eles abrirão”, analisa um interlocutor do Palácio do Planalto. O alvo principal de partidos da base como PP e o PL é eleger a maior quantidade de deputados federais para ampliar a força política no Congresso e manter o controle da Câmara.
Já entre militares também não há o mesmo clamor para que a vice fique com um oficial-general da reserva. Alguns lembram que Bolsonaro já mexeu no Ministério da Defesa e nos comandos das Forças Armadas no meio do mandato e entendem que o melhor é evitar novos ruídos junto às tropas. “Com muita ponderação, eu não mexeria no Braga Netto, embora considere um bom nome”, sustenta um militar.
Que perfis e nomes foram cotados para ser vice de Bolsonaro
Além de um vice reservado, um evangélico ou alguém do agronegócio, outros perfis foram recomendados e são considerados por Bolsonaro para ser seu vice nas eleições. Uma mulher ou um nordestino estão entre eles. Segundo o presidente afirmou em entrevista à Gazeta do Povo em dezembro, ele cogita outra opção, além de um nordestino: um mineiro. Um general de quatro estrelas também é considerado.
Além desses perfis, outra característica vem ganhando força no governo: a de um empresário ou alguém que ajude a acalmar o mercado. Uma avaliação entre aliados do Centrão e da base “raiz” de Bolsonaro segue a linha de que Bolsonaro poderia cogitar um nome que ajude a acalmar os agentes econômicos.
“A economia é o grande termômetro para 2022. Para conseguir tranquilizar o mercado, um empresário com nome de mais credibilidade seria o ideal”, analisa uma liderança do governo na Câmara. Entre os empresários, nomes como o de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), e Luciano Hang, dono da Havan, são alguns citados. Entretanto, os dois encontram resistências de na base de Bolsonaro.
Um outro nome cogitado é o do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Muito ligado a Bolsonaro, alguns aliados lembram que ele foi o responsável por executar os pagamentos do Auxílio Emergencial, fato que o governo poderia explorar. “A economia e a pandemia terão papel preponderante nas eleições. Seria interessante ter um vice com um discurso capaz de conciliar as duas coisas”, diz um deputado aliado.
Dentro dos outros perfis estudados, alguns são do próprio governo, a exemplo do ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD), natural de Natal (RN). Outro nordestino cogitado foi o ministro da Cidadania, o baiano João Roma (Republicanos). O primeiro, contudo, deve disputar o Senado e o segundo, o governo da Bahia.
Outro integrante do governo sempre lembrado nos bastidores é a ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Os defensores dela como vice apontam que, além de evangélica, mulher e ter uma atuação reservada, ela pode agregar um perfil social que é sempre muito procurado por políticos.
No campo evangélico, outro nome sempre citado nos bastidores é o do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Ele é cogitado por alguns aliados religiosos e membros da bancada evangélica, mas interlocutores palacianos acreditam ser pouco provável que Bolsonaro escolha essa opção.
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