Conflitos entre apoiadores célebres de Bolsonaro se acentuam nas redes sociais

Atuais e ex-membros do governo Jair Bolsonaro e apoiadores célebres do presidente da República protagonizaram, nos últimos dias, diversos conflitos em redes sociais por divergências sobre decisões políticas recentes.

As discordâncias públicas envolvem personalidades como o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente; Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação; Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente; o atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas; o deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ); o filósofo Olavo de Carvalho; e a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP). Eles se envolveram ou foram envolvidos no que usuários de redes sociais costumam chamar informalmente de “tretas” virtuais, com trocas de ofensas, acusações e indiretas por Twitter e YouTube.

No dia 21 de dezembro, em live do canal ConservaTalk, do YouTube, Olavo de Carvalho disse que o presidente o utilizou para se promover. “A minha influência sobre o Bolsonaro é zero. Ele me usou como poster boy [expressão em inglês para garoto propaganda]. Usou para se promover e se eleger. Depois disso, não só esqueceu tudo o que eu dizia, como até meus amigos que estavam no governo, ele tirou”, disse.

Olavo de Carvalho continuou suas críticas pelo Twitter. “Se o Bolsonaro não acordar, vão acabar tirando dele até a autoridade de pai da sua filha”, disse em uma postagem. Muitos internautas criticaram as falas do filósofo, e alguns o acusaram de traidor.

Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares, saiu em defesa de Bolsonaro depois das declarações de Olavo. “O maior conservador do Brasil, no sentido prático, não é Olavo de Carvalho, não é o intelectual fã de Scruton, não foi Gustavo Corção ou Mário Ferreira dos Santos, e nem foi Bernardo Pereira de Vasconcelos ou João Camilo. O maior conservador brasileiro se chama, justamente, Jair Messias Bolsonaro”, disse.

Posteriormente, Olavo explicou nas redes sociais que continua sendo eleitor de Bolsonaro, apesar da decepção com o presidente. Abraham Weintraub saiu em defesa dele: “Prof. Olavo traidor? Comunista? Precisa ser destruído? VOCÊS ESTÃO LOUCOS?”, tuitou.

Carlos Bolsonaro ataca congresso com parlamentares pró-Bolsonaro

Também no fim de dezembro, o vereador Carlos Bolsonaro criticou falas de participantes do Congresso Politicamente Incorreto, que teve a presença dos deputados federais Daniel Silveira (PSL-RJ), Carlos Jordy, Bia Kicis (PSL-DF) e Filipe Barros (PSL-PR).

O filho do presidente postou um vídeo no YouTube reprovando uma fala de Silvio Grimaldo, editor-chefe do site Brasil Sem Medo: “A questão do voto auditável… O projeto andou bastante, a Bia [Kicis] e o Filipe [Barros] carregaram praticamente o piano nas costas, e a verdade – eu sei que eles não podem falar isso aqui, por questões óbvias, mas eu posso –, a verdade é que o governo não fez ‘porra’ nenhuma pela aprovação do projeto, ou fez muito pouco, ficou muito aquém”, disse Grimaldo.

No título do vídeo, Carlos Bolsonaro escreveu: “Cada dia conhecendo melhor essa raça! É inacreditável? Não!”. O vereador postou ainda uma resposta a um tuíte de Jordy com um vídeo de um dos momentos mais importantes do evento, quando o deputado falava sobre o que considera ser arbitrariedades do Supremo Tribunal Federal (STF) e chamava Daniel Silveira ao palco. “Ainda tenho que ouvir isso? Pqp! É inacreditável? Não! Sei exatamente como esses agem!”, disse Carlos Bolsonaro.

Jordy respondeu: “É isso mesmo? Então você não considera importante que seu pai tenha mais deputados e senadores aliados para não ficarmos mais reféns do presidencialismo de coalizão? Não entendi sua crítica. Então, agora, desde 2016 ao lado do seu pai, sou traidor? Era só o que me faltava, xará”.

Um usuário do Twitter respondeu a Jordy: “Você participou de um congresso dos tais conservadores que descem a lenha no presidente e trabalham contra a eleição dele com as tais ‘críticas construtivas’, que não passam de um método para minar, desgastar e sabotar o governo do Bolsonaro”.

O empresário Otávio Oscar Fakhoury, presidente do PTB em São Paulo, saiu em defesa dos participantes do congresso: “Eu assisti à fala toda do Grimaldo, principalmente à fala após o corte, onde ele deixa bem claro que não está falando do presidente, e sim da coalizão de partidos no entorno dele. Foi uma crítica ao Centrão, não a Jair Bolsonaro”.

Quebra-cabeça eleitoral em São Paulo também é motivo de conflitos

À medida que se aproximam as eleições de 2022, aumentam as negociações para alianças, chapas eleitorais e possíveis cargos em governos, e as discussões de aliados de Bolsonaro têm sido especialmente controversas em relação ao estado com maior número de eleitores do Brasil: São Paulo.

Em dezembro, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles declarou que o atual ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, provável candidato de Bolsonaro ao governo em São Paulo, aceitou concorrer ao cargo, mas escolheu Paulo Skaf – presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) – para a vaga de senador em sua chapa, em vez dele próprio.

“Tarcísio aceitou concorrer a governador em SP e prefere ter Skaf ao Senado. Como acredito que devo colaborar e nunca dividir, agradeço o carinho de todos que manifestaram apoio à aventada ideia do PR [presidente da República] de me ter senador mas vamos seguir por outro caminho. Bom dia a todos!”, tuitou Salles. O ex-ministro afirmou que seu caminho natural, a partir de agora, é concorrer à Câmara dos Deputados.

Muitos seguidores de Salles no Twitter reagiram decepcionados com a opção de Bolsonaro e Tarcísio por Skaf. Alguns tuiteiros pró-Bolsonaro relativizaram o fato, dizendo que a indicação do presidente da Fiesp é uma opção para sobrevivência dentro do jogo político.

No fim de dezembro, outro conflito nas redes sociais entre figuras da direita foi suscitado após uma entrevista de Abraham Weintraub à revista Oeste, em que ele diz que a deputada estadual Janaina Paschoal, a médica Nise Yamaguchi e o ministro Tarcísio de Freitas seriam seus adversários em eventuais disputas eleitorais. O próprio Weintraub costuma ser cogitado por conservadores como um nome para a disputa ao governo de São Paulo, mas tende a desconversar quando questionado diretamente sobre o assunto.

Janaina tuitou, em menção direta a Weintraub: “Li na Oeste que você disse ser meu adversário e de Tarcísio! O que é isso, companheiro? ‘Bora’ reunir todos na mesma sigla! Tarcísio, governador; Angela Gandra, vice; Janaina, senadora; Abraham, líder de uma superbancada de federais, e Arthur, de estaduais”.

Weintraub respondeu: “Primeiro, não sou seu companheiro. Aliás, isso é termo da esquerda! Quando era de seu interesse, você descobriu meu telefone e me ligou (não fui eu que te procurei). Agora, tuíta sobre sua decisão, querendo se impor. Achei sua postura muito falsa e interesseira”.

“Não é hora de cisão! Deixa para brigar depois!”, replicou Janaina. Weintraub comentou mais tarde: “Ela me procurou por telefone, conversamos algumas vezes. Repentinamente, ela veio com esse papo furado no Twitter, sem me avisar”.

Ricardo Salles também respondeu a Janaina, afirmando que quer ser candidato a deputado federal, e questionando as preferências da deputada: “Afinal, de quem é o seu voto no primeiro turno? Moro ou Bolsonaro?”

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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