A consolidação de uma parceria formada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (SP), que oficializou sua saída do PSDB nesta quarta-feira (15), depende de quatro fatores: a escolha do novo partido do agora ex-tucano, as expectativas dele para 2022, acertos políticos regionais e a possível reação negativa de apoiadores dos dois. Alckmin ainda não definiu se aceita o convite para ser vice de Lula ou se tenta concorrer a governador de São Paulo.
A tomada de decisão de Alckmin passa pela definição de seu futuro partidário. A saída do PSDB é dada como certa, pois o partido hoje tem como principal figura o governador João Doria (SP), de quem Alckmin se tornou desafeto. Doria deve concorrer à Presidência da República e seu atual vice no governo do estado, Rodrigo Garcia, filiou-se recentemente ao PSDB com a expectativa de ser o nome do partido concorrer ao governo paulista. A movimentação fechou as portas para Alckmin no partido que ajudou a fundar.
Lula viu em Alckmin, e com o convite para ser vice, a possibilidade de atrair junto com o ex-governador paulista uma parte do eleitor de centro. Mas, para que Alckmin e Lula fechem a parceria, é necessária a superação de entraves que envolvem também ajustes políticos estaduais, resistências de grupos próximos dos dois líderes que contestam a aproximação e a força das pré-candidaturas que tentam ser a “terceira via” na corrida presidencial.
Veja abaixo em detalhes quais são os impasses que ainda impedem que Alckmin aceite ser vice de Lula.
1. A escolha do novo partido por Alckmin
Uma das principais questões a ser resolvida é a definição do novo partido de Alckmin. O ex-governador tem, hoje, três principais opções colocadas à sua frente, todas com vantagens e desvantagens, que poderiam fortalecer ou não o projeto da chapa com Lula.
O PSB é uma alternativa que ganha viabilidade por conta do histórico de aproximação entre a sigla e Alckmin em São Paulo. Na última eleição para o governo vencida por ele, em 2014, Alckmin teve como vice Márcio França, expoente do PSB.
No plano nacional, o PSB é simpático ao PT e filiou recentemente dois aliados de Lula: o governador do Maranhão, Flávio Dino, e o deputado federal Marcelo Freixo (RJ). Alckmin, neste contexto, serviria para prolongar a afinidade entre PT e PSB e trazer consigo um eleitorado de centro-direita que não costuma votar em Lula.
Outra opção partidária de Alckmin é o Solidariedade. O presidente nacional da legenda, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, disse abertamente que oferece espaço para Alckmin se filiar e ser, pelo partido, o vice de Lula. O Solidariedade é vinculado à Força Sindical, grupo do qual Paulo é também o presidente. A Força fez oposição aos últimos mandatos petistas, mas se aproximou recentemente do PT, principalmente por discordar de agendas empreendidas pelos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), tais como a reforma trabalhista e a reforma da Previdência.
Já a terceira possibilidade de Alckmin é o PSD. Nesta sigla, porém, o ex-governador terá dificuldades para ingressar em uma chapa presidencial. Isso porque o partido tem seu próprio pré-candidato ao Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG).
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, o presidente nacional do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab, chamou Alckmin de “plano A” do partido para o governo de São Paulo, e não para uma composição para a Presidência da República. Mas, apesar de reiterar o interesse em lançar Pacheco ao Planalto, Kassab falou também que seu partido mantém diálogo com outras pré-candidaturas, numa gama que vai de Bolsonaro a Lula. Isso significa que, mesmo no PSD, Alckmin poderia eventualmente vir a ser vice de Lula. Mas essa possibilidade é bem menos clara no partido de Kassab do que no PSB e no Solidariedade.
2. A escolha de Alckmin sobre o cargo que ele realmente quer disputar
As negociações pelo partido também depende dos planos do próprio Alckmin para 2022. Ou seja: se ele quer ser vice de Lula ou tentar um novo mandato a governador.
Atualmente, Alckmin lidera as pesquisas de intenção de voto para o governo paulista. Mas, segundo pessoas próximas, ele sabe a força que máquina pública pode ter numa eleição para eleger o candidato governista – nesse caso, Rodrigo Garcia.
Nesse sentido, a candidatura a vice de Lula pode ser interessante a Alckmin. O petista vai completar 81 anos em 2026. Caso seja eleito no ano que vem, a idade mais avançada poderia ser um entrave para a reeleição. E o hoje ex-governador poderia estar numa posição privilegiada para tentar o Planalto. E Alckmin já teria mandado recados a Lula de que, se aceitar ser vice, não quer ter uma função meramente decorativa; ele pretende assumir alguma atribuição de relevância.
3. Os acertos partidários nos estados
A escolha do partido envolve a necessidade de inserção de Alckmin nas negociações dos projetos regionais dessas legendas, que já estão em curso.
Uma aliança de Alckmin com Lula demandaria ajustes, especialmente em relação ao PSB. Isso porque o partido já tem pré-candidaturas sólidas para governos de diferentes estados, e a adesão ao projeto de Lula e do PT demandará ajustes locais. Reportagem da Folha de S. Paulo revelou que o PSB condicionou o apoio à candidatura de Lula à adesão dos petistas a candidatos da sigla em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Espírito Santo e Acre.
Uma aliança dessas, faria com que o PT abrisse mão, por exemplo, da candidatura do ex-ministro Fernando Haddad ao governo de São Paulo, projeto que hoje é defendido por diferentes segmentos do partido. O PSB pretende lançar o ex-vice de Alckmin e ex-governador Márcio França para o governo.
4. A reação de apoiadores de Lula e Alckmin
Outro empecilho à frente da possível chapa Lula-Alckmin é a possível rejeição de apoiadores tradicionais dos dois políticos a uma aproximação entre ambos. Isso porque Lula e Alckmin são adversários históricos. Eles se enfrentaram diretamente na eleição presidencial de 2006. Além do confronto direto, Alckmin sempre foi visto como um dos maiores expoentes do PSDB, partido que era o principal rival do PT até a ascensão do bolsonarismo.
O presidente do Psol, Juliano Medeiros, por exemplo, disse ter dificuldades em chamar Alckmin de aliado. “Você não pode ter como vice alguém que compartilha, que defende, que apoia um determinado programa que foi derrotado nas eleições de 2014 e que foi imposto pela força através do golpe parlamentar de 2016”, disse Medeiros em entrevista à Central Eleitoral. O Psol não oficializou apoio a Lula, mas indicou que pretende endossar a candidatura do ex-presidente em 2022.
À Gazeta do Povo, Medeiros reiterou as diferenças históricas entre o posicionamento do partido e as bandeiras de Alckmin. “Não é um veto nominal a Alckmin. Nós, do Psol, defendemos uma aliança das esquerdas para a eleição de 2022”, disse, acrescentando que vê pouca conexão entre o ex-governador e o que espera das forças de esquerda para a disputa do próximo ano.
Medeiros afirmou que, no Psol, ainda não há um debate sobre retirar o apoio a Lula se a aliança com Alckmin for consolidada. “Como não outorgamos o apoio a Lula, não podemos falar da exclusão de algo que ainda não foi oficializado”, disse. E acrescentou que a definição do partido será tomada em uma conferência agendada para o início do próximo ano. O Psol, desde sua fundação, lançou candidato próprio à presidência em todas as disputas. Mas a tendência para 2022 seria a de apoio a Lula.
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