O atual presidente da França, Emmanuel Macron, terá como um de seus adversários na eleição presidencial de abril um candidato que vem sendo comparado pela imprensa internacional ao americano Donald Trump.
Éric Zemmour, jornalista judeu de 63 anos de uma família de ascendência argelina e que fez carreira no jornalismo impresso, rádio e TV, lançou sua candidatura na semana passada com um vídeo de dez minutos no YouTube que poderia ser resumido com o slogan “Faça a França grande de novo”.
“Quando você está andando na rua, não reconhece a sua cidade. Quando você está assistindo televisão, ouve uma língua estranha e desconhecida”, afirma no vídeo, que traz uma visão nostálgica do passado francês, elencando personagens históricos como Joana d’Arc, Luís XIV, Charles de Gaulle e Napoleão Bonaparte.
Zemmour defende a teoria de que a imigração tem anulado a identidade francesa (ele já declarou que “o Islã é incompatível com a República Francesa”) e que tem havido um despertar para essa realidade apesar da pressão do “politicamente correto” – ele se diz contrário à lei Pleven, de 1972, que trata do incitamento ao ódio racial, que considera “liberticida” e com base na qual já foi processado e condenado.
“A França não era mais a França, e todos perceberam isso. Claro, eles desprezaram você. Os poderosos, a elite, os hipócritas, jornalistas, políticos, acadêmicos, sociólogos, sindicalistas, autoridades religiosas disseram que era tudo falso, que você estava errado. Mas você finalmente descobriu que eles eram falsos, que estavam errados, que estavam agindo errado”, diz o jornalista no vídeo.
Além do discurso antissistema, Zemmour, que batizou seu partido de Reconquista, numa referência ao período histórico em que os governantes muçulmanos foram expulsos da Península Ibérica, tem semelhanças com Trump também na forma como tenta articular sua candidatura de forma solitária, sem apoio de grandes partidos e padrinhos políticos, assim como o americano não tinha até começar a vencer as prévias do partido Republicano.
“Trump conseguiu unir as classes trabalhadoras e a burguesia patriota. É com isso que tenho sonhado há 20 anos”, comparou, em entrevista a um canal de TV francês.
No domingo (5), durante um comício na Grande Paris em que houve confronto entre apoiadores e manifestantes contrários à sua candidatura, Zemmour foi agarrado pelo pescoço quando se dirigia para o palco para discursar. Ele ainda fez o pronunciamento, mas seu médico depois recomendou repouso de nove dias. A polícia prendeu cerca de 60 pessoas e cinco ficaram feridas.
No campo da direita, Zemmour disputará votos com Valérie Pécresse, dos Republicanos (legenda do ex-presidente Nicolas Sarkozy), e com Marine Le Pen, da Frente Nacional, que perdeu para Macron em 2017.
Embora ainda não seja possível dizer até onde Zemmour pode chegar (ele chegou a ficar em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Macron, mas um levantamento feito pouco antes da confirmação da sua candidatura apontou que ele foi ultrapassado por Le Pen), o cientista político Pascal Perrineau afirmou ao New York Times que a “visão catastrófica” apresentada pelo jornalista consegue refletir “um pessimismo francês enraizado”.
“Somos um dos países mais pessimistas do mundo. Combine isso com a alienação da classe política, nacionalismo introvertido e uma inclinação francesa desafiadora a virar a mesa, e você tem o fenômeno Zemmour”, analisou.
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