O que se sabe sobre a nova variante do coronavírus, batizada de “omicron”

A nova variante do coronavírus detectada nesta semana por cientistas da África do Sul foi batizada de “omicron” nesta sexta-feira pela OMS, que a reconheceu como variante de preocupação. Devido ao seu grande número de mutações, a variante tem acendido alertas no mundo e levou à imposição de medidas como a suspensão de viagens com alguns países africanos.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota técnica nesta sexta-feira (25) recomendando que o governo brasileiro adote medidas de restrição para a chegada de voos vindos de seis países da África.

Especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) estão reunidos nesta tarde para uma avaliação dos riscos da nova versão do vírus.

Classificação de risco

A Organização Mundial da Saúde indicou que, ainda nesta sexta-feira, determinará se a variante do novo coronavírus descoberta na véspera na África do Sul deve ser classificada como de risco, embora aponte que ainda levará semanas para que seja conhecido o verdadeiro impacto dela.

“As análises preliminares demonstram que a variante tem um grande número de mutações, que demandarão novos estudos, e nos tomará algumas semanas para entender seu impacto”, afirmou o porta-voz da OMS Christian Lindmeier, em entrevista coletiva concedida pouco antes do início da reunião que avaliará dados da descoberta.

No encontro do Grupo Assessor de Especialistas na Evolução do Vírus, serão analisadas as informações obtidas da nova variante, que deve receber uma letra grega para sua denominação.

Como foi detectada a nova variante

A identificação da B.1.1.529 foi anunciada ontem na África do Sul. Ela é caracterizada por mais de 30 mutações, conforme explicou o brasileiro Tulio de Oliveira, diretor da Plataforma de Inovação em Pesquisa e Sequenciamento de KwaZulu-Natal (KRISP).

A descoberta, de fato, da B.1.1.529 aconteceu na última terça-feira, a partir de amostras coletadas entre os dias 14 e 16 deste mês. Tulio de Oliveira destacou que, apesar da identificação ter acontecido no país africano, não necessariamente foi lá que a variante foi originada.

Até a quinta-feira, tinham sido confirmados casos da nova variante na própria África do Sul, na vizinha Botsuana, e em Hong Kong, de um passageiro que vinha do território sul-africano, de acordo com o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas do país em que foi feita a descoberta.

O Ministério de Saúde da Bélgica anunciou nesta sexta-feira a detecção de um caso da variante B.1.1.529, coletada no dia 22 de novembro, mas lançou um apelo para que não haja pânico entre a população.

A pessoa infectada é uma mulher adulta jovem, que não se vacinou contra a Covid-19 e apresentou sintomas 11 dias depois de viajar para o Egito, vinda da Turquia, segundo divulgou o Laboratório Nacional de Referência do país europeu, que investiga o caso. A paciente, de acordo com o órgão, não teve contatos considerados de alto risco fora de casa e nenhum de seus familiares apresentou sintomas até o momento.

Por que a variante causa preocupação

“Essa nova variante do vírus da Covid-19 é muito preocupante. Ela é a versão do vírus que mais fortemente sofreu mutações que já vimos até o momento”, alertou o virologista Lawrence Young, professor da Universidade de Warwick, Reino Unido, ao Science Media Centre.

Ele explica que a variante traz algumas mudanças que já haviam sido observadas em outras variantes, mas nunca todas de uma vez em uma mesma versão do vírus. Ela também traz mutações nunca antes vistas.

“Algumas das mutações que são similares a mudanças que vimos em outras variantes de preocupação são associadas com o aumento da transmissibilidade e com resistência parcial à imunidade induzida pela vacina ou por infecção natural”, explica Young, acrescentando que a variante foi detectada em níveis relativamente baixos em partes da África do Sul, mas parece estar se espalhando rapidamente.

O genoma da variante B.1.1.529 tem cerca de 50 mutações, porém, mais de 30 delas estão na proteína “spike”, a região do vírus que interage com as células humanas antes de infectá-las, e que também é alvo de grande parte dos imunizantes que estão sendo usados contra o coronavírus.

A nova variante apresenta “uma nova constelação muito pouco usual de mutações, mas seu significado ainda é incerto”, explicou Tulio de Oliveira, diretor da Plataforma KRISP.

“A variante nos surpreendeu. Tem um grande salto evolutivo. São muito mais mutações do que esperávamos, especialmente depois de uma terceira onda da delta, muito grave”, explicou Oliveira.

“Poderíamos ver, potencialmente, essa variante se propagar muito rapidamente”, alertou o especialista brasileiro, com base em dados recolhidos na província sul-africana de Gauteng, onde estão as cidades de Johannesburgo e Pretória e que registrou aumento recente nos casos de Covid-19.

Países impõem restrições

Reino Unido, Israel, Espanha e França estão entre os países que, desde a quinta-feira, já haviam anunciado a suspensão da chegada de voos de países da África afetados pela nova variante, como forma de evitar a propagação dos contágios.

Na tarde desta sexta-feira, os países da União Europeia entraram em acordo para suspender os voos de sete países do sul do continente africano: África do Sul, Lesoto, Botsuana, Zimbábue, Moçambique, Namíbia e eSwatini.

Mais cedo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, insistiu aos países do bloco que congelassem todos os os voos com os países do sul da África afetados. Em pronunciamento, Von der Leyen destacou também que os contratos da UE com as fabricantes de vacinas exigem que estas adaptem “imediatamente” os seus medicamentos a novas variantes.

A Comissão propôs nesta manhã a ativação do chamado “freio de emergência” para paralisar as viagens a a partir dos países afetados. A política alemã frisou que ao longo do dia conversou com cientistas e fabricantes de vacinas que “apoiam plenamente” a adoção de tais “medidas de precaução” para evitar a propagação internacional desta variante “preocupante”.

Pediu também para que todos os cidadãos “contribuam para um melhor controle” da pandemia, insistindo àqueles que não foram vacinados a fazê-lo “o mais rapidamente possível” e a aplicar outras medidas, tais como o uso de máscaras, higiene e distância interpessoal.

Nos Estados Unidos, o principal assessor em epidemiologia da Casa Branca, Anthony Fauci, afirmou nesta sexta-feira que o país aguardará mais dados para decidir pela suspensão do tráfico aéreo com a África do Sul e vizinhos.

Em entrevista à CNN, Fauci informou que medidas serão adotadas “assim que sejam recebidas mais informações”, mas admitiu que a restrição de voos é algo que o Executivo “tem sobre a mesa”, completando que isso acontecerá a partir do respaldo de evidências científicas. Ele disse ainda que até o momento não houve a detecção da nova variante nos EUA.

Baixa vacinação e variantes

O surgimento dessa nova variante ressalta a necessidade de maior cobertura de vacinação contra o coronavírus no mundo. Os especialistas enfatizam a necessidade de controlar a pandemia em nível global, especialmente com o apoio à vacinação pelo mundo.

“As variantes continuarão a ser geradas desde que o vírus esteja liberado para circular, particularmente em países como a África do Sul, onde as taxas de vacinação são baixas”, disse o virologista Lawrence Young.VEJA TAMBÉM:

Outras variantes de risco

Até o momento, a OMS reconhece quatro variantes de risco do novo coronavírus, identificadas com letras gregas, no caso, a alfa, a beta, a gama e a delta, embora outras sigam sendo acompanhadas pelos especialistas.

Atualmente, a variante delta, inicialmente detectada na Índia, é a predominante em quase todo o planeta, presente em mais de 99% dos novos casos atuais de Covid-19.

Os pesquisadores destacaram, contudo, que a detecção da nova variante foi feita de maneira muito precoce, indicando otimismo que isso possa favorecer ao controle da expansão.

Medidas de proteção

O porta-voz da OMS Christian Lindmeier, preferiu não comentar as restrições impostas por alguns governos a voos e cidadãos provenientes de nações africanas e se limitou a pedir que seja adotado um “enfoque científico” na prevenção de riscos, levando-se em conta as recomendações do Comitê de Emergências da OMS.

O porta-voz da agência destacou que seguem válidas as mesmas medidas que estavam indicadas anteriormente, como uso de máscaras, a manutenção do distanciamento social, que sejam evitadas grandes concentrações de pessoas em ambientes fechados, entre outras.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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