Tanto na Jovem Pan como na RedeTV, além da minha própria live TudoConsta, já tive que entrevistar muita gente, muita autoridade, inclusive gente de quem discordo totalmente. Já entrevistei ministro do STF, governador, senador e prefeito com posturas que considero absolutamente condenáveis.
Em minhas perguntas, procurei extrair respostas objetivas sobre temas polêmicos, tirando o entrevistado da zona de conforto. Mas sempre mantive a educação, o respeito, lembrando também quem é o entrevistado e quem é o entrevistador, ou seja, meu papel é jogar a pergunta e deixar o outro desenvolver sua linha de raciocínio.
É difícil, porém, levar uma entrevista adiante quando alguém quer só lacrar em cima do entrevistado. Se o objetivo não é obter respostas sobre determinados assuntos, mas sim expor o entrevistado ao ridículo, tentar desqualificá-lo ou tirá-lo do sério para jogar para sua plateia, então não haverá uma entrevista, e sim um espetáculo politiqueiro de péssima categoria.
Não dá para confundir jornalismo, que tira os entrevistados poderosos da zona de conforto, com pura “lacração”, oportunismo e tremenda falta de educação, que coloca inclusive a casa que recebe o entrevistado numa situação delicada de baita constrangimento.
Além disso, há um mínimo de liturgia do cargo que se exige ao tratar com autoridades. Mesmo que se trate de alguém informal, como o Presidente Bolsonaro. Mesmo que se trate de um programa informal, mais escrachado. Para tudo há limite, ou deveria haver. Eu não trataria um governador como “cara” numa entrevista, jamais!
É preciso apontar ainda o duplo padrão: a “lacrosfera” aplaude se um dos seus conseguir tirar Bolsonaro do sério, promovendo um barraco no lugar da entrevista, e ainda tenta justificar que foi apenas jornalismo, fazendo perguntas difíceis. Mas o mesmo tratamento nunca seria concedido a um entrevistador que agisse da mesma forma com um ministro supremo.
Aliás, sabemos o que aconteceria nesse caso: o jornalista seria chamado de blogueiro bolsonarista, sua fonte de espiã e ele estaria com mandado de prisão e extradição por “atacar” uma instituição democrática. Um peso, duas medidas. A esquerda, incluindo a tucana, não liga a mínima para princípios.
Por fim, vale notar a diferença de reação. Bolsonaro simplesmente se retira ao ver o jogo sujo e o barraco. Lula, quando foi chamado de bebum por um jornalista gringo, tentou expulsá-lo do país. E Doria, ao ver um jornalista levar dados incômodos ao ar, ligou para a emissora, entrou ao vivo e tentou desqualificar o jornalista, pedindo sua cabeça e o rotulando de “negacionista” e “vassalo de Bolsonaro”.
O jornalista era eu, mas não recebi a solidariedade e o apoio dos meus pares por “tirar uma autoridade poderosa da zona de conforto”. Ao contrário: esses jornalistas que hoje saem em defesa do moleque lacrador ficaram caladinhos, mesmo sabendo da pressão que o governador faz em cima dos veículos de comunicação para retirarem o microfone de seus críticos e desafetos.
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