O apagão do Facebook e seu suposto monopólio em comunicação

Ontem, dia 04/10/21, o mundo sofreu com algo nunca antes visto. WhatsApp, Instagram e Facebook ficaram fora do ar por mais de cinco horas. Muitas pessoas tiveram a impressão de que o mundo parou. Ele não parou, mas reduziu muito o seu ritmo. Já houve problemas nas redes de forma individualizada, mas nunca das três ao mesmo e por tanto tempo.

Milhares de pessoas usam estas ferramentas para vender seus produtos, serviços, postar seus artigos (como é o meu caso), conversar com suas famílias e amigos e também seus colegas de trabalho. Ainda não se sabe o quanto esta queda causou de prejuízos na economia global. Mas somente Mark Zuckerberg viu seu patrimônio encolher US$ 7 bilhões e as bolsas do mundo todo aceleraram as quedas depois deste problema.

Todas estas empresas são de um único grupo: o Facebook, que teve um problema técnico tão grande que funcionários não conseguiram entrar na empresa com seus crachás.

Porém, a discussão que nasce é sobre o suposto monopólio destas ferramentas. Como pode um único grupo econômico causar tanta dependência dos seres humanos? Como diria o Professor Yuval Noah Harari, autor do best-seller global Sapiens, este suposto monopólio é um caminho relativamente natural na tecnologia.

É importante usar a palavra “suposto” antes de “monopólio”, pois o monopólio não existe de fato. Monopólio é quando somente há uma alternativa e não é o caso. Existem outros aplicativos de mensagem (Telegram, Signal, Discord, ICQ) e existem outras redes sociais (Tsu, Vero, Skoob, Hi5). Mas você nunca ouviu falar porque ninguém usa. Por que você vai entrar em uma rede onde não há ninguém?!

O “zap” é um sucesso pois você tem segurança de que ao perguntar “qual seu número?” você sabe que poderá falar com aquela pessoa pelo aplicativo em 99% dos casos. Imagine se houvessem 10 aplicativos de mensagens diferentes, cada um com 10% dos seus contatos e imagine que você queira chamar um amigo que você não fala há muito tempo. Você irá entrar no Telegram e ele não está lá. Depois no WhatsApp e nada. Depois no ICQ e também não. E fosse encontrar ele no sétimo aplicativo que você abriu. Seria horrível, né? Agora, imagine você ter que fazer isso para todos os seus contatos

O Instagram e Facebook, idem. Você sabe que encontrará a maioria dos seus amigos lá. Imagine que para ver as fotos de algum amigo específico, você também tivesse que percorrer dez aplicativos?! É muito mais conveniente se todos estiverem em um local só, não acha? É um ciclo: quanto mais pessoas a rede tem, mais pessoas entram nela.

Porém, nenhuma rede social dura para sempre. Já passamos por ICQ, MSN e Orkut que pareciam monopolizar a comunicação via internet.

O colapso dos aplicativos de ontem expôs o quase monopólio que o Facebook tem sobre as nossas comunicações e a dependência que este modelo de “monopólios” causa em nós. Mas a tecnologia é isso: facilita nossas vidas e nos torna dependentes (não por acaso o termo “usuário” é usado somente em poucos mercados: tecnologia e drogas, cigarros e álcool).

Nos vemos na próxima tecnologia, na próxima dependência, no próximo monopólio.

*Bruno Dreher é consultor, palestrante, especialista em inovação pela Universidade Hebraica de Jerusalém, membro da World Futures Studies Federation (Paris, França) e World Future Society (Chicago, EUA).

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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