Para especialistas, ganhos de boa parte das companhias foram afetados pela dificuldade em repassar alta de custos e refletem a frustração com a retomada da economia; levantamento considera lucro de 231 empresas com ações negociadas em Bolsa
A paralisia da economia afetou a rentabilidade das empresas listadas em Bolsa no primeiro trimestre. Levantamento feito pela consultoria Economática mostra que o lucro líquido de 231 companhias abertas totalizou R$ 20 bilhões, queda de 5,74% sobre janeiro a março de 2018. Os dados, que têm como base os balanços entregues até as 18h de quarta-feira, 15, excluem os bancos, a Vale, a Petrobrás e a Oi, por distorcerem os resultados.
“Criou-se uma expectativa grande no mercado financeiro de que a economia do País iria se recuperar com a troca de governo”, diz Istvan Kasnar, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ebape). “Essa retomada não se concretizou nos primeiros cem dias e ainda há incertezas para os próximos meses. A queda da rentabilidade das empresas refletiu, em boa parte, essa frustração de expectativas.”
Ainda que o faturamento das empresas tenha crescido nos últimos meses, boa parte das companhias de capital aberto teve suas margens de lucro afetadas por aumento de custos represados anteriormente, afirmou Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim. Para ele, as empresas ainda vão demorar a atingir os patamares pré-crise, de 2014. “Houve recuperação entre 2017 e 2018, mas boa parte das companhias ainda é afetada pelos choques de custos, como energia e efeitos cambiais, por exemplo”, diz.
Com uma das energias mais caras do mundo, a indústria tenta levar adiante a pauta da redução de preços no governo. O plano do “choque de energia barata”, anunciado pelo governo em março, que previa a redução em 50% no custo do gás natural, ainda não saiu do papel.
Além dos reflexos da crise que se estendem desde 2014, e da demora na aprovação de reformas estruturais, que causaram impacto na confiança de consumidores e investidores, o cenário internacional não tem ajudado.
A crise argentina, por exemplo, derrubou o saldo comercial brasileiro no primeiro quadrimestre. Segundo o Indicador de Comércio Exterior (Icomex), da FGV, a balança comercial com a Argentina passou de superavitária para deficitária em US$ 3,1 bilhões.
A Volkswagen, por exemplo, colocou em férias coletivas os funcionários das fábricas de São Bernardo do Campo e Taubaté (SP). O motivo foi a queda no consumo da Argentina, seu principal destino de exportações. Apesar de a montadora não ter capital aberto no País, a iniciativa afeta fornecedores, como siderúrgicas e autopeças.
Já a crise entre EUA e China derrubou o comércio internacional, avaliam os economistas. Segundo estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a perda potencial do País com a disputa é de cerca de US$ 30 bilhões.
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