Está se criando no país, de forma absolutamente irresponsável, o mesmo clima fomentado no 6 de janeiro deste ano em Washington que terminou com a invasão do Congresso americano, gerando imagens que constrangeram a maior democracia do mundo. Os Cavaleiros do Apocalipse estão animados. Ou acuados.
O manifesto da Febraban, aquele que foi sem nunca ter sido, foi suspenso sem dizer absolutamente nada de polêmico, apenas faz uma defesa tímida da democracia e do equilíbrio entre os poderes, como reza a constituição. A reação aloprada da Caixa Econômica e do Banco do Brasil foi a de ameaçar deixar a discreta Febraban pelo crime de exaltar a democracia sem citar um único político.
Defender a democracia é atacar o governo? O desembarque da elite do mercado financeiro é o recado implícito. O manifesto do agro, que foi considerado mais duro, também é uma água de arroz de tão insípido e anódino. Nada a altura dos riscos que o país corre com a possibilidade, mesmo que remota, de um Putsch, uma “Marcha sobre Roma”.
A página infeliz da nossa história é, como diz a música, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações. Por isso, cabe a todos os democratas do país não deixar dormir a nossa pátria mãe tão distraída, tão tímida na defesa das instituições, do estado de direito, do equilíbrio entre os poderes e do império das leis.
A atitude dos dois maiores bancos públicos brasileiros foi mais um tapa na cara dos liberais que ainda acreditam apoiar um governo da escola de Chicago quando, na verdade, são cúmplices de um arremedo mal ajambrado de governo que emula Pinochet. Em vez de privatizados, num processo aberto e lícito como o das teles nos anos 90, os grandes bancos públicos foram privatizados por um projeto político golpista de poder que não aceita a publicação de um texto que, vejam vocês, comete a ousadia de defender a democracia.
As instituições precisam parar de escrever notinhas defendendo abstrações, colocar a bola no chão e tratar esse assunto com a seriedade que merece. Se houver confusão, violência ou morte no 7 de setembro, quem incitou? Quem radicalizou uma parte da sociedade? Quem está tratando a data como “segunda independência”? Independência do quê? Da democracia? Da Constituição? Das leis e da ordem?
O desfecho tem data marcada: a próxima terça. Pode acontecer tudo, inclusive nada, mas todo cuidado é pouco. O país em compasso de espera, o mundo olhando pra nós como uma republiqueta de bananas, uma vergonha que se soma a tantas outras e que vai colocando o Brasil, como disse o inacreditável Ernesto Araújo no final do ano passado e com orgulho, “um pária entre as nações”.
No último 6 de janeiro, Donald Trump foi irresponsável e pagou um preço político por isso. Gente morreu. Foi uma página triste da história americana. Eles foram pegos de surpresa, o Brasil não tem essa desculpa. Somos avisados, diariamente, dos riscos.
Esse país merece mais. Precisa de mais seriedade, mais trabalho, e menos molecagem. De páginas infelizes da nossa história, não sentimos nenhuma falta. Vai passar.
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