A pressão dos combustíveis sobre a inflação não dá sinais de trégua. Pesquisa feita pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que, nas últimas dez semanas, o litro da gasolina aumentou 5,1% nos postos. O óleo diesel teve uma alta de 2,4%. E o preço do botijão de 13 kg do gás de cozinha ficou 5,3% mais caro.
Em pelo menos três estados – Acre, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – já é possível encontrar postos cobrando mais de R$ 7 pelo litro da gasolina. O menor preço médio é encontrado em São Paulo (R$ 5,653) e o maior, no Rio de Janeiro (R$ 6,513).
Uma série de fatores explica a elevação dos preços dos combustíveis: o preço do petróleo em níveis elevados no exterior; a desvalorização do real (de 3,62% no período, segundo o Banco Central), que também influencia os custos locais; a retomada da atividade econômica; e problemas com a safra da cana-de-açúcar.
Esses são os números mais recentes. Mas o movimento de aumento de preços começou há bem mais tempo. Ao longo de um ano, todos os principais combustíveis subiram mais de 30%, na média nacional.
Segundo a medição do IPCA-15, do IBGE, a gasolina ficou 40% mais cara em 12 meses. O etanol disparou 53%. O diesel, 36%. E os preços do gás natural veicular (GNV) e do gás de botijão subiram 31%.VEJA TAMBÉM:
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Preço do petróleo segue pressionado no mercado internacional
O preço do barril do petróleo está em torno dos US$ 70, o dobro do praticado em outubro de 2020. “A Organização dos Países Exportadores do Petróleo (Opep) estabeleceu restrições à produção no início da pandemia”, explica o analista Guilherme Sousa, da Ativa Investimentos.
Ele aponta é difícil estabelecer um prazo para que os preços fiquem em níveis mais comportados. “Esperava-se uma normalização no segundo semestre”, diz. Segundo ele, parte da volatilidade nos preços dos combustíveis foi controlada com o espaçamento nos reajustes dos preços pela Petrobras.
Mesmo assim, Sousa aponta que o preço do litro da gasolina está defasado em relação ao mercado internacional. Segundo ele, a defasagem chegaria a 15% – e esse seria o aumento nas refinarias caso a Petrobras decidisse emparelhar os preços à realidade externa de uma só vez.
O chefe de análise econômica do banco suíço Julius Baer, Norbert Rücker, aponta que, ao longo da pandemia, a demanda de petróleo se recuperou mais rapidamente do que a oferta. “Isto faz com que diminuam os estoques, o mercado se contrai e o preço do petróleo tende a aumentar.”
Esse cenário deve persistir nos próximos meses. O analista lembra, também, que há o sobe-e-desce habitual do mercado, quando as preocupações sobre os contratempos da pandemia pressionam os preços.
Porém, Rücker observa uma desaceleração nas taxas de crescimento da demanda por petróleo: “A rápida expansão terminou e ela está voltando a um ritmo normal”. Assim, ele projeta que nos próximos 12 meses há mais possibilidades de redução do que de aumento das cotações do barril.
“À medida que as nações petrolíferas reduzem suas restrições à oferta e há aumentos graduais na produção de xisto, a oferta se ajusta à demanda. Por consequência, os estoques deixam de diminuir e, em troca, eventualmente, passam a se expandir, o que finalmente deixa uma situação mais favorável”, diz.
Problemas com a safra da cana afetam os preços da gasolina
Outro fator que contribui para manter os preços da gasolina mais elevados, segundo Sousa, é o etanol anidro, que tem uma participação de 27% na composição da gasolina.
Desde a segunda quinzena de julho, os preços aumentaram 10,6%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia da Universidade de São Paulo (Cepea-USP). O motivo é o descompasso entre a baixa oferta e a elevada demanda, estimulada pelo retorno das aulas presenciais.
A alta não se resume ao álcool anidro, que é misturado à gasolina e por isso influencia o preço do derivado do petróleo. O álcool hidratado também ficou muito mais caro – é o combustível que mais subiu nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.
Segundo o Cepea, há preocupação em relação aos impactos causados pela onda de frio em julho. A primeira e segunda geadas ocorrida no inverno afetaram uma área de cerca de 1 milhão de hectares, ou 26,9% da safra que será colhida até o final deste ciclo agrícola, aponta a União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica). A colheita deve ser concluída em torno de um mês.
O diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues, explica que a queda de produtividade mais intensa em julho e agosto já era esperada, porque nesse período foi colhida muita cana prejudicada por geadas. “O fenômeno climático exigiu uma alteração significativa na dinâmica da colheita, prejudicando ainda mais o rendimento da lavoura colhida”, diz.
Os impactos do frio poderão ser sentidos no próximo ciclo agrícola. Segundo o executivo, a oferta de cana-de-açúcar esperada para a safra 2021/22 da região Centro-Sul deve chegar a 530 milhões de toneladas, “com viés de baixa, tendo em vista o impacto ainda incerto da terceira geada e dos focos de incêndio que estão sendo observados nos últimos dias”.
Preços dos combustíveis também refletem aumento do fluxo de veículos
Rücker aponta que a demanda por petróleo se recuperou em grande medida aos níveis anteriores à crise. “A demanda de petróleo por parte da China se estabilizou em níveis elevados, o uso de combustíveis nas rodovias americanas supera sazonalmente máximos históricos e o tráfego aéreo se recupera rapidamente e só as rotas de voos internacionais demoram mais em se reestabelecer”, escreveu em relatório. “Os contratempos da pandemia trazem algumas restrições na Ásia, que são menores e só reduzem ligeiramente a demanda.”
Com a retomada da economia, a demanda por combustíveis também está em alta no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), nos 12 meses encerrados em julho, o fluxo nas rodovias pedagiadas cresceu 4,1% em relação ao período anterior. O movimento de veículos pesados aumentou 8,2%.
No primeiro semestre, as vendas de diesel pelas distribuidoras cresceram 11,1% em relação ao mesmo período de 2020. As de gasolina, segundo a ANP, aumentaram 8,1%.
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