O que é a síndrome de Havana, que voltou a afetar diplomatas americanos, desta vez no Vietnã

Em sua primeira viagem à Ásia como vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris chegou ao Vietnã na noite de terça-feira (25), após o seu voo de Cingapura à capital vietnamita ter atrasado mais de três horas, quando o gabinete de Harris foi alertado sobre uma investigação sobre dois possíveis casos da chamada Síndrome de Havana na embaixada americana em Hanói.

Síndrome de Havana é o nome dado a uma série de incidentes misteriosos de saúde que foram primeiro relatados na capital de Cuba, em 2016, entre diplomatas e outros funcionários americanos. Naquela época, a maioria da equipe era de funcionários novos na embaixada, que havia sido reaberta em 2015 quando o então presidente Barack Obama retomou relações diplomáticas com Cuba.

Desde então outros diplomatas e autoridades americanas foram afetados em diversos lugares do mundo.

Entre os sintomas relatados estão dor de cabeça, tontura, problemas de visão, perda de audição, perda de memória, dificuldade de concentração, sensação de ouvir sons fortes e pressão na cabeça – como quando se está em um carro em alta velocidade com a janela parcialmente aberta.

Autoridades disseram à NBC News, em julho, que até 200 americanos já relataram ter sofrido sintomas semelhantes. As fontes disseram que já há casos em todos os continentes, com exceção da Antártica, e que metade dos casos ocorreram entre funcionários da CIA ou seus familiares, cerca de 60 em pessoal do Departamento de Defesa e outros 50 ligados ao Departamento de Estado.

Recentemente, cerca de duas dezenas de diplomatas, funcionários da inteligência e outras autoridades dos EUA em Viena, Áustria, relataram esses sintomas, no que foi o caso com o maior número de pessoas afetadas pelos sintomas misteriosos, desde os relatos iniciais de Havana. Em um outro incidente recente, um diplomata americano em Berlim teve que deixar a Alemanha e voltar aos EUA após passar pelos sintomas. Há casos também de diplomatas canadenses com a Síndrome de Havana.

Em resposta, agências federais, a CIA e o Departamento de Estado dos EUA reforçaram as investigações para determinar as possíveis causas e responsáveis do que o governo americano chama de “incidentes de saúde sem explicação”. Oficiais dos governos de Donald Trump e Joe Biden acreditam que a Rússia esteja por trás dos ataques, embora não tenham encontrado evidências sólidas ligando a inteligência russa aos casos.

Quais podem ser as causas da Síndrome de Havana?

Nas primeiras investigações, sobre os americanos afetados em Havana, autoridades dos EUA acreditavam se tratar de um ataque de dispositivo sônico oculto, usado para prejudicar os diplomatas, o que foi negado pelo regime cubano.

Houve especulações também de que os sintomas teriam sido causados por pesticidas, histeria em massa e até pelo som de grilos locais.

Quatro anos depois, a principal teoria era de que um possível dispositivo usado para coletar dados de aparelhos celulares estaria causando os sintomas como uma consequência não intencional. Depois da descoberta desses efeitos por governos rivais, o dispositivo desconhecido estaria sendo usado intencionalmente para causar os danos de saúde, noticiou a New York Magazine.

No final do ano passado, um painel de cientistas americanos concluiu que os sintomas provavelmente estão sendo causados pela exposição a um tipo de energia de “radiofrequência pulsada e direcionada”, o que poderia incluir radiação de micro-ondas. Essa passou a ser a teoria prioritária para os investigadores americanos.

Já no início deste ano, um relatório do Centro para Prevenção e Controle do Doenças (CDC) dos EUA, encomendado pelo Congresso americano e obtido pelo Buzzfeed News, afirma que os problemas de saúde dos diplomatas americanos em Cuba não podem ser explicados pelos seus registros médicos.

Para esse relatório, os registros médicos dos 95 diplomatas americanos e seus familiares que sofreram com os sintomas em Cuba foram avaliados. “Basicamente, o que o CDC está dizendo é que eles não têm ideia sobre o que aconteceu em Cuba”, disse um neurologista ao Buzzfeed News.

Pesquisadores do Centro para Lesão e Reparo Cerebral, da Universidade da Pensilvânia fizeram ressonância magnética para analisar o cérebro de 40 dos americanos em Cuba. Eles encontraram sinais de danos no cérebro, mas não de impacto no crânio dos pacientes. “É como se eles tivessem tido uma concussão, sem uma concussão”, disse um dos autores da pesquisa à New Yorker.

Assessores de Biden foram informados, no início de agosto, que os especialistas que investigam a misteriosa síndrome ainda não haviam encontrado evidências para apoiar a teoria de ela seria causada por ataques de micro-ondas lançados por agentes russos.

Atualmente, o governo americano trabalha em duas frentes para combater os supostos ataques: uma equipe da CIA investiga as possíveis causas dos sintomas, enquanto outros funcionários se concentram em encontrar alguma tecnologia capaz de bloquear os ataques, segundo o New York Times.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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