Em meio às imagens, áudios e relatos desoladores que dominaram a internet desde as primeiras horas após o grupo terrorista Talibã tomar o poder no Afeganistão, um partido político brasileiro foi às redes comemorar a instauração de um regime que levou pessoas a tentarem fugir do país penduradas na parte de fora de um avião lotado.
Para o Partido da Causa Operária (PCO), o avanço do Talibã “representa uma enorme vitória sobre os piores inimigos dos oprimidos de todo o planeta”. No ano passado, pela primeira vez, a legenda recebeu 1,2 milhão de reais do fundo eleitoral. Dez candidatos a prefeito foram lançados nas eleições de 2020, da qual o partido participou sem nenhuma coligação. O único político já eleito pela legenda foi o ex-vereador João Vieira da Silva, no município de Benjamin Constant, no Amazonas, em 2004.
Em vídeo veiculado pela TV da Causa Operária, o canal do PCO nas redes sociais, o presidente da legenda, Rui Costa Pimenta, justificou o posicionamento. “Você tem que ficar do lado da população que está expulsando o imperialismo. No confronto entre os Estados Unidos e o Talibã, nós estamos do lado do Talibã. ‘Ah, mas o Talibã esmaga a mulher’. Bom, é uma outra questão, não tem nada a ver com essa questão. Isso é o que a esquerda nunca vai entender. ‘Ah, mas eles destroem patrimônio cultural’ (…). Também não vem ao caso”, disse.
De acordo com o jurista Egon Bockman Moreira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a fala não pode ser considerada um ato antidemocrático. “Podem entrar nessa categoria posicionamentos que estimulem, de modo assertivo, manifestações e agressões reais contra a democracia brasileira e suas instituições”, explica.
Pelo Twitter, Costa Pimenta também exaltou o fato de o grupo terrorista Hamas – ao qual se referiu como “movimento pela libertação da Palestina” – ter parabenizado o Talibã pela tomada de poder, e ressaltou a fala do porta-voz dos terroristas, que afirmou que os direitos das mulheres não seriam cassados. Em todas as áreas dominadas pelo grupo, acontece precisamente o oposto.
Diante das críticas por parte da direita e da esquerda, o partido se justificou: “Sob a manta do identitarismo se esconde a política imperialista responsável pela opressão das mulheres em todo o mundo. Somente a luta contra o imperialismo levará as mulheres às condições de libertação”.
Fundado em 1996 a partir de uma linha dissidente do Partido dos Trabalhadores (PT), aliada aos valores revolucionários trotskistas, o PCO acumula polêmicas mesmo entre partidos de extrema-esquerda por ser avesso às pautas identitárias – mesmo em situações graves, como a das mulheres talibãs.
A legenda se recusa a prestar apoio a candidaturas de esquerda de fora do partido, exceto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2018, não apoiou a candidatura de Fernando Haddad ao Planalto por julgar que uma eleição sem Lula seria fraudulenta. Mas se, por um lado, o apoio ao ex-presidente já está firmado para a próxima disputa, por outro, o PCO é um ferrenho defensor do voto impresso e se manifestou contra a prisão do deputado Roberto Jefferson na última sexta-feira (17).
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