Mais aperto: três fatores devem levar Banco Central a acelerar alta dos juros

Copom, do BC, decide nesta quarta a nova taxa básica de juro, a Selic.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pode intensificar o aperto monetário na reunião que começou nesta terça-feira (3) e se estende até quarta (4). Segundo projeções de instituições financeiras coletadas pelo BC, a expectativa predominante é de uma alta de um ponto percentual na Selic, a taxa básica de juro, o que a levaria para 5,25% ao ano, o maior patamar desde novembro de 2019. Se confirmado, será um aumento maior que o promovido nas três últimas reuniões, de 0,75 ponto porcentual em cada uma.

Uma série de fatores favorece essa tendência de alta, afirma Rachel de Sá, chefe do departamento de economia da Rico Investimentos. “A economia está retomando, com o PIB voltando a níveis pré-pandemia, e a inflação se mantém em patamares elevados. Isto está levando o BC a acelerar o ritmo da alta na taxa de juro.”

O Bradesco considera que as expectativas em relação à atividade econômica continuam favoráveis. Mas, de acordo com a equipe de economistas do banco, o espaço para surpresas positivas parece ser menor daqui em diante, apesar da esperada normalização pós-pandemia.

A última projeção do relatório Focus, pesquisa feita semanalmente pelo BC com instituições financeiras, sinaliza que o ponto médio (mediana) das expectativas de crescimento para o PIB está em 5,3%. Esse número cresce há 15 semanas consecutivas.

Inflação favorece alta da Selic

Daniel Xavier, economista sênior do banco ABC Brasil, diz que os números mais recentes do IPCA surpreenderam para cima e trouxeram menos detalhes favoráveis, como a aceleração da inflação no setor de serviços. As projeções para inflação em 2021 também estão em alta. O ponto médio das expectativas está em 6,79%, após 17 elevações consecutivas.

“A inflação deve apresentar nova alta e a expectativa é que chegue em 6,7% até o fim de 2021. Parecia que o BC havia iniciado o ciclo de ajuste da Selic de forma mais célere, com altas de 0,75 ponto percentual desde março, mas não foi o suficiente para o cenário de novos choques de oferta que continuam impactando a inflação e contaminando as expectativas”, citam, em relatório, economistas do banco Inter.

Rachel, da Rico Investimentos, lembra que há uma pressão inflacionária global, principalmente no lado do produtor, que se reflete em elevação de índices como o IGP-M, que nos 12 meses encerrados em julho acumulou uma alta de 33,83%.

Analistas da XP Investimentos lembram que, na última reunião do Copom, os preços das commodities, medidos em reais, pareciam iniciar uma tendência de queda. Segundo eles, esta não se confirmou e o real voltou a se desvalorizar.

Questões climáticas também estão pressionando a inflação. De um lado, o frio mais forte neste ano deve ter impactos sobre a produção de hortifrutigranjeiros, café e laranja. Por outro, a quantidade menor de chuvas nos últimos meses contribuiu para a mudança na bandeira tarifária, o que foi responsável por parte da alta no IPCA, a inflação oficial, nos últimos dois meses.

Risco fiscal vem à tona

Quem também está contribuindo para pressionar as expectativas de inflação é o risco fiscal, que, segundo os analistas do Inter, voltou à pauta com o início das discussões sobre o Orçamento de 2022. “O espaço para aumento de gastos dentro do teto deve ficar menor que o inicialmente esperado pelo governo”, citam os economistas.

“Além disso, as demandas por aumento de gastos estão se acumulando, como a proposta de aumento do programa Bolsa Família, potencial reajuste de servidores e o novo aumento esperado para as despesas com o pagamento de precatórios”, enfatizam eles.

Os economistas do Inter também lembram que, diante desse quadro, voltou-se a discutir medidas de flexibilização do teto de gastos, excluindo despesas do limite do teto, o que eleva o risco fiscal. “Propostas que vão na contramão tendem a elevar a aversão ao risco e consequentemente exigir taxas de juros maiores no mercado.”

Mas, mesmo com a Selic tendendo a aumentar um ponto percentual, o juro seguirá estimulando a economia, explica Xavier, do ABC Brasil. É que a Selic continuará abaixo dos níveis históricos e em um nível inferior àquela em que a inflação está dentro da meta estipulada pelo BC e que mantém o PIB crescendo em linha com o seu potencial de crescimento. Esta taxa está estimada em 6,5%.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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