Europeus protestam contra “passaporte de vacina”. Saiba o que está em jogo

Italianos se reuniram em roma nesta terça-feira (27) para protestar contra o “passaporte covid”.| Foto: GIUSEPPE LAMI/Agência EFE/Gazeta do Povo

Após os franceses protestarem contra a implementação do “passaporte covid”, também chamado de “certificado digital verde”, foi a vez de a Itália sair às ruas no último final de semana. Segundo as estimativas mais conservadoras, em Milão cerca de 9 mil pessoas saíram às ruas; em Roma, ao menos 3 mil; Turim, 5 mil; Gênova, 2 mil; Bolonha, 2 mil; Florença, cerca de mil pessoas.

E mesmo nesta terça-feira (27), manifestantes voltaram a se reunir em Roma para protestar contra a obrigação de se mostrar um certificado digital de vacinação ou de teste negativo de Covid-19 para ter acesso a locais onde possam ocorrer aglomeração de pessoas.

O Parlamento Europeu aprovou em 29 de abril deste ano uma proposta para que os governos dos 27 países do bloco suspendam a exigência de quarentenas, testes ou de medidas de autoisolamento para pessoas que tenham um certificado de imunização contra Covid-19. O documento foi concebido para facilitar viagens pelos países da União Europeia para pessoas que foram vacinadas contra o coronavírus, se recuperaram da infecção ou tenham um teste recente negativo para a doença.

Mas agora que cada país-membro começou a implementar a obrigação do “passaporte covid”, governos começam a expandir seu uso para dentro de estabelecimentos no próprio país.

Manifestações

Apesar de alguns membros “antivacinas” presentes, os protestos organizados pelas redes sociais se dirigiram especialmente contra a obrigatoriedade da utilização do “certificado verde”. O jornal Corriere Della Sera estima que em 80 cidades italianas ocorreram protestos no último final de semana. Não se via identidade política clara entre os manifestantes, que nas redes sociais utilizavam os termos “cidadãos livres” contra a “ditadura da saúde” para a mobilização.

O jornal notou também que houve quem associasse a ideia do “passaporte verde” com a suástica nazista, uma forma de salientar que quem não fosse vacinado seria uma espécie de cidadão de segunda classe como os judeus na época do nazismo, obrigados a sinalizar na roupa a sua etnia.

Contudo, nas ruas não estiveram apenas manifestantes preocupados com a liberdade, mas donos de restaurantes que temem que a medida possa prejudicar ainda mais seus negócios, lutando há mais de um ano para sobreviver em meio a crise sanitária.

“Somos cidadãos livres que querem retomar a vida de dois anos atrás”, disse Umberto Carriera, secretário nacional do IoApro, um movimento de donos de restaurantes, “o passaporte verde não é a solução, não vai resolver a epidemia. Protocolos de segurança existem e estamos respeitando.” Outro manifestante disse ao jornal Il Giorno: “Agora eles querem que sejamos os xerifes do passaporte verde.”

A partir de 6 de agosto, o “passaporte verde” com pelo menos uma dose de vacina (ou teste negativo) será requisitado para todos os cidadãos maiores de 12 anos em restaurantes internos, e nos locais onde é consumido à mesa, para assistir a espetáculos de cinema e teatro, para participar em eventos desportivos e competições, para ir a piscinas, ginásios, mas também a feiras, festivais, conferências, parques de diversões, salas de jogos e participação em competições. As medidas são muito semelhantes às implementadas na França, e que fizeram reunir milhares de franceses em protesto.

Manifestações contra os passaportes também foram registradas na Irlanda, no Reino Unido, na Grécia, na Austrália e no Canadá.

Consequências imprevistas

Embora o governo apresente os passaportes como uma forma de garantir um retorno mais rápido das economias e servir de incentivo para os relutantes se vacinarem, a experiência prévia da utilização desse sistema em Israel, país considerado um exemplo na velocidade da vacinação contra a Covid-19, sugere algo diferente.

Um artigo assinado por Rivka Carmi, Asa Kasher, Yoav Yehezkelli, Udi Qimron e Eitan Friedman, todos médicos proeminentes de Israel, critica a utilização dos passaportes, que chamam “cientificamente imprecisa e eticamente questionável”.

Segundo eles, “uma atmosfera de intolerância tomou conta. As empresas anunciaram que funcionários não vacinados seriam demitidos. Algumas universidades proibiram alunos não vacinados de aulas presenciais. […] Aqueles que não podem ser vacinados por razões médicas não podem retornar à nova vida ‘normal’.”

Além disso eles apontam que a coerção do passaporte obteve um efeito paradoxal: “Tradicionalmente, o público israelense tem uma adesão notavelmente alta às vacinações de rotina. No entanto, o acalorado debate relacionado ao ‘passaporte verde’, […] levou um número substancialmente maior de jovens cidadãos israelenses – que nunca considerariam recusar uma vacina recomendada por seu médico de família – a recusar as injeções contra a Covid-19”.

Os médicos ainda indicam que os “passaportes Covid” vão de encontro aos princípios da profissão médica de autonomia, compaixão, confidencialidade e inclusão.

Apesar das críticas e dos protestos, nenhum governo europeu fez menção até agora de recuar na implementação do “certificado verde”.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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