Variante Delta faz países restringirem circulação novamente. Por que a cepa preocupa

A variante delta do coronavírus tem causado preocupação mesmo em países que já vacinaram uma grande parte da população, já que ela tem se espalhado rapidamente entre a população não vacinada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Reino Unido, Portugal, Israel e Austrália são alguns dos países que retomaram medidas de restrição após surtos de Covid-19 atribuídos à essa cepa.

A variante, antes conhecida por B.1.617.2, foi primeiro detectada na Índia, em outubro de 2020, e é uma das chamadas “variantes preocupantes” pela OMS. Com um conjunto de mutações que a torna mais transmissível que o coronavírus original, ela já circula em pelo menos 85 países e é responsável por mais de 90% dos casos de Covid-19 no Reino Unido e na Índia.

Na Rússia e na Indonésia, a variante delta também é responsável por mais de 90% dos casos e tem causado uma das piores taxas de mortes da pandemia nesses países, onde a vacinação ainda é limitada. Em Bangladesh, haverá um lockdown de uma semana a partir da segunda-feira (28); em todo o país, as pessoas só poderão sair de casa nesse período por motivos médicos. A delta também tem causado alerta na África, já que em todo o continente os casos de Covid-19 aumentaram 25% em uma semana.

Especialistas dizem que, embora essa variante seja mais transmissível, assim como as outras formas do coronavírus, ela também é combatida com as vacinas e com as outras medidas que já estão sendo usadas, como distanciamento social e uso de máscaras.

A delta é a variante que se transmite com maior velocidade e pode aproveitar o relaxamento das medidas restritivas em muitos países para se expandir, segundo advertiu nesta semana a OMS. “A variante delta tem agora a oportunidade de ser transmitida com o aumento da socialização, se a flexibilização das medidas for feita muito precocemente em um momento em que grandes populações ainda não são vacinadas”, disse Maria Van Kerkhove, chefe da célula técnica anti-Covid-19 da OMS, em entrevista coletiva.

Van Kerkhove salientou que, pelo lado positivo, não há indícios de que a variante delta represente um aumento da mortalidade entre os afetados pela Covid-19 e que as vacinas continuam a ser eficazes contra ela, pelo menos na redução dos casos. “De qualquer forma, é importante frisar que é preciso receber duas doses da vacina para ficar totalmente protegido”, completou.

Da mesma forma, as medidas sanitárias também se mostram eficazes para impedir a transmissão dessa variante, o que, na opinião de Van Kerkhove, pode significar “que devem ser aplicadas por um período mais longo”.

“É a variante mais rápida e pode facilmente afetar os mais vulneráveis”, reiterou o diretor de Emergências Sanitárias da OMS, Mike Ryan.

Nos Estados Unidos, cerca de 35% dos novos casos de Covid registrados na semana passada eram da variante delta, um aumento dos cerca de 10% identificados no começo de junho. O infectologista Anthony Fauci, líder da força-tarefa de combate ao coronavírus no país, disse na sexta-feira que a variante delta “é no momento a maior ameaça nos EUA à nossa tentativa de eliminar a Covid-19”. A boa notícia, afirmou, é que as vacinas em uso no país são eficazes contra a variante. “Nós temos as ferramentas. Vamos usá-las e arrasar com os surtos”, disse Fauci, de acordo com a imprensa americana.VEJA TAMBÉM:

Reino Unido

No Reino Unido, a delta surgiu no final de abril e rapidamente se tornou a variante dominante entre os casos de Covid-19 no país. Na semana passada, cerca de 94% dos novos casos da doença entre os britânicos foram atribuídos a essa variante.

Pelo lado positivo, uma análise mostrou que as vacinas usadas no país são altamente eficazes contra a variante delta. Segundo dados divulgados há duas semanas pelo Public Health England (PHE), agência de Departamento de Saúde no Reino Unido, a vacina da Pfizer reduziu em 96% e a vacina da Astraneca reduziu em 92% as hospitalizações pela variante delta, após a aplicação de duas doses dos imunizantes. Os valores são similares à eficácia das vacinas em relação à variante alpha.

Ou seja, mesmo quando os vacinados acabam sendo infectados pela variante, as chances de que a doença se agrave são drasticamente reduzidas.

Mas a análise mostra também que a primeira dose desses imunizantes tem menor eficácia para evitar infecções sintomáticas pela variante delta em comparação à eficácia da primeira dose para a variante alpha, e por isso as autoridades estão ressaltando que é crucial que as pessoas tomem as duas doses.

De acordo com o PHE, as mutações da variante delta, que ocorrem no gene que codifica a proteína spike, usada pelo vírus para entrar nas células humanas, aumentam a sua transmissibilidade em 50% a 60%. A virologista Wendy Barclay, do Imperial College London, disse ao jornal The Guardian que a delta parece facilitar que uma quantidade maior de vírus se acumule nas pessoas infectadas, o que as faz expelir mais partículas com vírus que podem infectar outros indivíduos.

Austrália

Sydney, na Austrália, deu início na noite de sábado (26) a um confinamento de duas semanas para conter um surto causado pela variante delta do coronavírus. Os cerca de cinco milhões de moradores da área metropolitana da cidade e regiões vizinhas poderão sair de casa apenas para tarefas essenciais, serviços médicos e exercícios. Esse é o primeiro lockdown na maior cidade australiana desde dezembro.

Em duas semanas, mais de 110 casos foram registrados em Sydney. O surto está relacionado a um motorista que transportava tripulações de companhias aéreas do aeroporto para os hotéis de quarentena.

Outros quatro estados australianos também reforçaram as medidas de restrição, com regras mais rígidas de distanciamento social e a retomada do uso obrigatório de máscaras em locais fechados, após o registro do maior número de contágios locais neste ano na Austrália. No país, 23,8% da população já recebeu pelo menos a primeira dose de uma vacina, enquanto 4,6% estão totalmente imunizadas.

Por causa dos surtos na Austrália, a Nova Zelândia irá suspender por três dias as viagens livres de quarentena entre os dois países.

Israel

Israel, um dos países com a campanha de vacinação mais avançada no mundo, que associada a medidas rígidas de restrição de mobilidade conseguiu zerar o número de mortes por Covid por vários dias nas últimas semanas, também está em alerta com novos surtos causados pela variante delta.

Na quinta-feira, autoridades israelenses anunciaram que o uso de máscaras em ambientes fechados voltará a ser obrigatório e que a permissão de entrada de turistas vacinados no país, planejada para 1º de julho, foi adiada para 1º de agosto. Outras medidas incluem o aumento das multas por violação da quarentena e a intensificação do monitoramento das cadeias de contágio e de campanhas de informação.

Dezenas de contágios ocorreram recentemente em escolas de duas cidades israelenses, o que obrigou centenas de pessoas a fazer quarentena. O país já liberou a vacinação para adolescentes de 12 a 15 anos, mas muitos ainda não foram imunizados.

Apesar dos novos surtos, o índice de mortes no país continua próximo de zero, e apenas 26 dos 729 casos ativos de coronavírus precisaram ser internados, segundo dados divulgados pelo Ministério de Saúde nesta semana. No auge da pandemia em Israel, antes da vacinação, a média de novos casos diários estava em 8 mil.

Cerca de metade dos adultos infectados pela variante delta no país já tinham sido vacinados, embora as autoridades não tenham especificado se esse grupo havia recebido uma ou as duas doses dos imunizantes. Cerca de metade das novas infecções registradas em Israel são de menores de 16 anos, e por isso o governo israelense está intensificando a vacinação de adolescentes.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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