Idosos vacinados, mas adoecendo ou morrendo de Covid-19: o que explica?

Se as vacinas visam proteger da Covid-19, por que alguns idosos – apesar de vacinados com as duas doses –desenvolveram a doença ou, até mesmo, morreram por complicações da infecção? A resposta está em dois principais fatores: a imunossenescência e a redução nos cuidados.

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Quando envelhecemos, o sistema imunológico envelhece também, e esta queda natural da imunidade é chamada de imunossenescência. Um dos órgãos com uma função essencial no sistema de defesa é o timo, glândula localizada no centro do peito, que é responsável pelo amadurecimento dos linfócitos T.

Estas são células de defesa que se adaptam aos invasores externos, como vírus e bactérias. Com o passar dos anos, o timo atrofia e a capacidade de amadurecer as células de defesa também reduz. Isso se traduz em uma quantidade menor de células, e em uma reação mais lenta do sistema de defesa diante de uma ameaça.

No caso das vacinas, como o objetivo é “ensinar” o sistema imunológico a se defender apresentando a ele parte do agente infeccioso, a imunossenescência também pode afetar a eficácia dos imunizantes nos idosos. Isso é visto nas vacinas contra a Covid-19, mas não apenas nelas.

“Nós sabemos que, para todas as vacinas, os idosos têm uma resposta menor. É esperada uma eficácia menor. Mas essa é uma regra para todas as vacinas, como por exemplo para a da gripe. Mesmo assim, os idosos se beneficiam muito [da proteção da vacina contra] das complicações e morte por influenza”, explica Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Menor proteção e maior exposição

Somando ao fato de que os idosos têm uma resposta imune mais lenta, a maior sensação de liberdade após as vacinas – principalmente em locais que ainda não conseguiram controlar os casos de Covid-19 – o risco de que esse idoso se contamine com o Sars-CoV-2 aumenta.

“Nós continuamos com uma carga de doença altíssima, e a impressão que temos é que as pessoas, ao verem a notícia de outros países flexibilizando mais as medidas, elas tomam isso como uma regra para cá, o que não pode ser feito. Pessoas que já tiveram a Covid-19, ou que tomaram a primeira dose, ou mesmo quem já fez a segunda dose, não significa que elas não possam adoecer”, explica Cunha.

Segundo o especialista, a tendência é que a pessoa que tenha feito o esquema completo tenha uma proteção mais elevada, especialmente contra formas moderadas a graves da Covid-19. “Mas isso não significa, com a carga da doença que temos agora, que mesmo as pessoas vacinadas não irão morrer”, destaca.VEJA TAMBÉM:

O que fazer?

Mais para frente, vacinas específicas para os idosos poderão ser desenvolvidas, com cargas antigênicas mais concentradas, segundo explica Lorena de Castro Diniz, médica imunologista e alergista, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.

“Como é feito com a vacina da Herpes Zóster. Essa vacina tem muito mais antígenos [substâncias estranhas ao organismo que geram a produção de anticorpos] do que a vacina da varicela, por exemplo, que é dada depois de um ano de idade. Isso porque a criança não precisa de uma carga viral tão grande quanto uma pessoa com mais de 50 anos”, explica.

Por enquanto, a recomendação é para que os idosos se vacinem com os imunizantes anticovídicos disponíveis e, enquanto os países não atingirem os porcentuais de vacinados com as duas doses que atinjam uma imunidade coletiva, reforcem as medidas de prevenção.

“A tendência é que as pessoas vacinadas tenham uma evolução mais favorável, com menos gravidade e menos mortes. Essa é a tendência que temos observado na vida real. Mas, mesmo pessoas vacinadas podem se infectar e infectar outras. As pessoas que estão relaxando os cuidados, principalmente com relação ao uso das máscaras, isso só vai fazer com a carga do vírus continue alta, mesmo entre os vacinados. Enquanto não tiver a imunidade coletiva, ela pode adoecer”, completa Juarez Cunha, presidente da SBIm.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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