A censura e os ataques à liberdade de expressão cresceram de forma tão absurda nesses infindáveis meses de pandemia que a gente mal dá conta de acompanhar. Num piscar de olhos ficamos sabendo de mais e mais pessoas impedidas de publicar, curtir, comentar e compartilhar conteúdos nas redes sociais, porque tiveram o perfil bloqueado. Isso quando publicações não são apagadas sem aviso prévio.
A justificativa sempre é a de que houve infrações às regras da plataforma, sem qualquer detalhamento de quais foram, afinal, as regras desrespeitadas. O colunista da Gazeta do Povo Rodrigo Constantino reclamou recentemente de ter sofrido censura e ter sido punido com agluns dias de proibição de uso do Twitter por supostamente ter divulgado imagens de nudez no meio de uma live de análise política, coisa que obviamente não fez.
Há poucos meses a empresária Renata Barreto teve duas publicações apagadas do Instagram sob acusação de que eram notícias falsas. Não eram. Ela tinha compartilhado matérias da Gazeta do Povo e da CNN sobre as “gotas milagrosas” anunciadas por Maduro como cura da Covid. O ditador venezuelano realmente anunciou isso, tanto que a Gazeta e a CNN noticiaram e não tiveram publicações apagadas.
A empresária, porém, foi punida com uma semana de proibição de fazer lives no canal em que fala rotineiramente, de forma direta, com seus mais de 400 mil seguidores. Precisou acionar um advogado para conseguir recuperar o direito de usar o próprio perfil para se comunicar com sua audiência.
O deputado Reinhold Stephanes Jr. teve um vídeo apagado do Twitter no começo do ano. No vídeo ele apenas declarava os motivos pelos quais votaria em Arthur Lira para a presidência da Câmara. Sofreu censura da plataforma sem qualquer explicação. A assessoria dele entrou em contato direto com o Twitter Brasil reclamando do ocorrido e, também sem explicações, o vídeo reapareceu na timeline.
Esta semana a mesma plataforma fez uma “faxina” em massa apagando milhares de contas. Estranhamente, só perfis de conservadores perceberam o desaparecimento de parte de sua base de seguidores.
Houve quem dissesse que as “limpezas” são costumeiras e visam retirar da plataforma contas de robôs automatizados, que fazem disparos em massa. Não há uma única prova disso. Há, sim, muitas suspeitas sobre o real motivo pelo qual a balança da faxina pende sempre para um único lado.
Seriam tentativas de enfraquecer o alcance de perfis conservadores? Repare na lógica: com menos gente seguindo um perfil conservador, há menos curtidas e compartilhamentos dos conteúdos que publica, o que significa que o alcance das publicações, obviamente, diminui. Apagando perfis tira-se a força e cala-se quem está incomodando.
Censura a médicos
No fim de maio e começo de junho a perseguição veio forte sobre canais do YouTube que deram espaço aos médicos que defendem o tratamento imadiato de pacientes de Covid. Produtores de conteúdo com centenas de milhares (até milhões) de seguidores foram obrigados a deletar vídeos sob ameaça de perderem o canal, o acervo de vídeos e a comunicação com todos os inscritos.
Nessa leva estavam jornalistas e dezenas de médicos e pesquisadores, justamente aqueles que têm pouco espaço na mídia tradicional. São falsas as informações que eles têm a dar? Quem garante isso? As agências “checadoras”? Quem comanda essas agências? Quem financia? Se não há jornalistas de renome, com carreira reconhecida, trabalhando para essas agências por que acreditar nelas e não em médicos e pesquisadores?
Não à toa, ao clicar na live de um médico que trazia a informação mais importante do momento, tudo o que já se sabe sobre vacinas (inclusive as informações das bulas, que quase ninguém acessa), vi uma situação no mínimo bizarra. O médico precisava fazer malabarismos linguísticos para conseguir falar o que queria.
Vacina foi substituída por “faxina”; adenovírus por “adenobicho” e por aí vai. Não era um youtuber qualquer dando pitaco sobre algo que desconhece. Era um médico falando sobre as vacinas de Covid. Qual o interesse da plataforma em calar profissionais de saúde? Por que barrar vídeos que mencionem as palavras vacina e adenovírus? É improtante esclarecer que era uma live técnica, sem qualquer opinião pessoal sobre qualquer das vacinas disponíveis ou mesmo sobre tomar ou não vacina.
E, por incrível que pareça, tudo isso podia ficar (e ficou) ainda pior. Os senadores da CPI conseguiram se superar no quesito ‘censura a médicos’. Ao pedir a quebra de sigilo telefônico e telemático de alguns deles e da Associação Médicos Pela Vida, que reúne milhares de profissionais, deixaram o claro desejo de intimidar toda a categoria.
O que os alguns senadores querem mesmo é fazer com que tenham medo até de ligar para as pessoas ou trocar mensagens. E pensar que o STF negou recurso aos médicos! É inacreditável a que ponto está chegando a censura.
Crueldade em tempos de hiperconexão
Quando uma rede social censura alguém é como se colasse nessa pessoa uma etiqueta de mentirosa, de divulgadora de fatos distorcidos. Além de um erro grosseiro, isso ainda alimenta um exército de verdadeiros mentirosos que passa a difamar o dono do perfil banido.
É o famoso “ódio do bem”, uma corrente apressada em compartilhar a fofoca de que alguém foi banido ou censurado, sem a mínima preocupação de esclarecer se a censura tinha sequer justificativa plausível.
A censura a publicações, vídeos, perfis e canais tem, por si só, potencial de causar um estrago e tanto na vida de uma pessoa. independentemente da repercussão que dêem ao banimento que ela sofreu. Há outro aspecto também extremamante cruel: o fato de que estamos presos em casa e dependentes da tecnologia. Censurados, ficamos ainda mais isolados do mundo.
Não é porque é legal ficar no computador ou no celular acessando a internet que a gente tem usado tanto as redes sociais, acessado tantos vídeos. Simplesmente foi o que nos restou. A onda de pânico que varreu o planeta em 2020 e os decretos de lockdown sem fim, trancaram todo mundo em casa e as pessoas se adaptaram como puderam.
Seguimos a vida de forma cada vez mais virtual, tentando manter um mínimo de convivência com os outros através de mensagens, de vídeos e de publicações nas redes sociais. E aí vem o administrador de uma dessas redes e diz que não pode? Sou obrigada a repetir a frase icônica da ambientalista juvenil Greta Thumberg naquele discurso arrogante na ONU: “How dare you?” Como vocês ousam?
Redes e canais alternativos
Para finalizar esse artigo com uma mensagem que traga alguma esperança lembro que para toda ação há uma reação. Contra a censura estão surgindo novas redes de comunicação, todas com a promessa de não praticar censura ou perseguições, especialmente por motivação ideológica ou política.
O médico do vídeo que eu citei, que tentava tazer informações sobre vacinas falando em “faxinas” e usando muitos outros subterfúgios linguísticos, avisou que, por segurança, publicaria o mesmo vídeo na plataforma Rumble (rival do YouTube, sem algortimos de censura) e nos aplicativos Telegram e Bom Perfil, canais alternativos ao WhatsApp/Facebook/Instagram e ao Twitter.
Outras pessoas que também vêm sofrendo censura têm indicado ainda a COS.TV para vídeos e o Pingback como rede social. Temos alternativas. O negócio é começar a migrar para elas antes que nos calem de vez.
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