Pressionado por aliados para escolher logo o partido pelo qual vai concorrer à reeleição em 2022, o presidente Jair Bolsonaro está mais próximo de fechar sua filiação ao Patriota – uma legenda pequena. Nesta semana, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) confirmou sua entrada na sigla e disse que irá negociar a filiação de seu pai. Posteriormente, o próprio presidente Bolsonaro disse que sua filiação ao Patriota está quase acertada.
O presidente nacional do Patriota, Adilson Ribeiro, é o principal articulador para que o presidente feche com a legenda para 2022. No entanto, uma ala liderada pelo vice-presidente da sigla, Ovasco Resende, tem resistido à filiação, sob a alegação de que o Patriota seria totalmente entregue para o grupo político de Bolsonaro.
A filiação de Flávio Bolsonaro ocorreu em uma convenção nacional convocada às pressas por Adilson Barroso no último dia 31 de maio. Nove integrantes do Patriota pediram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para suspender as medidas adotadas por Barroso, que é acusado de cometer irregularidades para obter maioria dentro da legenda, mudar o estatuto e favorecer a entrada do grupo de Bolsonaro.
Segundo o secretário-geral do Patriota, Jorge Braga, os integrantes dos partidos não são contrários à possível filiação do presidente Bolsonaro, mas sim à forma como a negociação foi feita. “O Bolsonaro sempre tratou com o Adilson e não com o partido. Os integrantes sempre quiseram conversar para saber quais seriam as exigências para essa filiação, mas isso até hoje nunca ocorreu”, afirmou Braga.
O que querem Bolsonaro e seus aliados para entrar no Patriota
O presidente Bolsonaro pretende aguardar a homologação do novo estatuto do Patriota antes de anunciar sua filiação. Uma das principais mudanças é a ampliação do poder de voto, em questões nacionais, dos 27 presidentes estaduais da legenda.
Em negociações com Adilson Barroso há pelo menos um ano, o presidente Bolsonaro pretende reorganizar os diretórios estaduais do Patriota para abrigar os seus aliados.
Apesar da resistência da ala ligada ao vice-presidente, Ovasco Resende, deputados bolsonaristas que migrarem para o Patriota querem o controle da legenda para reorganizarem suas candidaturas para 2022. Ao menos 30 deputados que atualmente estão filiados ao PSL pretendem seguir Bolsonaro para a legenda no ano que vem.
Aliados do presidente, no entanto, admitem reservadamente que o Patriota não seria a melhor opção justamente pela falta de estrutura. Parte dos bolsonaristas sonhava com o retorno do presidente ao PSL, legenda que teve nas eleições municipais uma fatia de quase R$ 200 milhões para financiamento de campanhas e terá a maior parte no fundo que for aprovado pelo Congresso para a disputa de 2022.
De antemão, o senador Flávio Bolsonaro alegou que com os novos integrantes o Patriota poderá passar dos atuais seis para até 60 deputados federais em 2022. Do mesmo modo, o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), que vinha trabalhando para que o Patriota fosse escolhido por Bolsonaro, acredita que essa foi a melhor escolha para a reeleição do presidente. “É o partido perfeito para Bolsonaro, onde terá total comando”, avaliou Bibo Nunes.
Qual é a história do Patriota
O Patriota nasceu como Partido Ecológico Nacional (PEN). Obteve o registro no TSE em 2012. A mudança de nome para Patriota veio em meados de 2017, quando o então deputado federal Jair Bolsonaro (RJ) procurava uma sigla para abrigar sua candidatura à Presidência da República.
Bolsonaro assinou uma carta de intenções com a sigla e anunciou, no fim de 2017, que iria se filiar ao Patriota. Mas Adilson Barroso acabou se negando a entregar o controle do partido para os aliados de Bolsonaro. Ele então desistiu da sigla para fechar com o PSL – legenda pela qual disputou e venceu as eleições de 2018. Sem Bolsonaro, o Patriota concorreu à Presidência com a candidatura de Cabo Daciolo. Ele ficou em sexto lugar.
Antes das eleições de 2018, Adilson Barroso já tinha tentando levar outros nomes de peso para sua legenda. A primeira tentativa, em 2014, foi com Marina Silva, que optou por ser candidata a vice-presidente pelo PSB (ela acabou disputando a Presidência após a morte de Eduardo Campos, o cabeça da chapa, em plena campanha eleitoral).
No ano seguinte, o presidente do Patriota tentou atrair o ex-ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas as negociações não avançaram.
Patriota tem poucos deputados e prefeitos
O Patriota tem atualmente quase 335 mil filiados em todo o Brasil. Conta com uma bancada de seis deputados federais. Como a divisão do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão é dividido proporcionalmente à bancada dos partidos na Câmara, o Patriota, sozinho, vai garantir a Bolsonaro uma participação reduzida no horário eleitoral gratuito de 2022 – caso o presidente efetivamente se filie à sigla para disputar a reeleição.
Já nas Assembleias Legislativas estaduais, o partido conta com 21 deputados em todos os 26 estados e no Distrito Federal. Nas eleições municipais do ano passado, conseguiu eleger 50 prefeitos. Isso representou um crescimento de 74% em relação à eleição de 2016. Ainda assim, o Patriota segue sendo muito pequeno, pois o país tem 5.565 municípios.
Apesar de ser um partido pequeno e com poucos eleitos, até abril de 2021, segundo dados do TSE, o partido já havia recebido quase R$ 7,5 milhões do Fundo Partidário. Em 2020, esse montante ficou em cerca de R$ 21 milhões. Além disso, o partido ainda recebeu R$ 27,48 milhões do Fundo Eleitoral, utilizado para bancar os candidatos nas eleições municipais de 2020.
Quem é Adilson Barroso, o presidente do partido
O PEN, rebatizado de Patriota, foi idealizado pelo atual presidente da legenda, Adilson Barroso. Aliás, Barroso sempre ocupou a presidência do partido desde a sua criação.
Em 2018, o Patriota incorporou o extinto Partido Republicano Progressista (PRP). Desde então, Barroso, embora se mantenha na presidência, lidera apenas 30% da sigla. Já o vice-presidente da legenda, Ovasco Resende, domina 50%. Os cerca de 20% restantes estão nas mãos de parlamentares.
A condução do Patriota por Adilson Barroso foi alvo recente de questionamentos. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, as prestações de contas do partido relativas aos anos de 2017 a 2020 indicam que o presidente do partido pode ter destinado dinheiro público da legenda ao próprio bolso e para ao menos dez familiares – incluindo a atual mulher, a ex-mulher, irmãos, filha, cunhada e sobrinhos.
Ao todo, R$ 1,15 milhão do fundo partidário teria sido usado para pagar o salário do próprio Adilson e dos parentes, empregados na estrutura da legenda. Só no ano passado o presidente do Patriota recebeu uma remuneração partidária de R$ 225 mil, com um contracheque mensal de R$ 25 mil. Além disso, na última eleição, a legenda gastou cerca de R$ 1,2 milhão para eleger a filha de Adilson como vice-prefeita de Barrinha (SP) e mais cinco vereadores.
A Folha procurou Adilson Barroso, mas ele não respondeu aos questionamentos da reportagem. A Gazeta do Povo também o procurou. Mas Barroso não deu retorno.
Adilson Barros, além de presidir um partido, já teve cargos eletivos. Foi vereador e vice-prefeito de Barrinha, cidade com cerca de 50 mil habitantes no interior de São Paulo. Elegeu-se em 2002 como deputado estadual pegando carona em Havanir Nimtz, candidata fenômeno do Prona que imitava o estilo da principal liderança daquele partido, o ex-deputado federal Enéas Carneiro, morto em 2007.
Apesar de não ter projeção nacional, Barroso conta com um grande número de seguidores em suas redes sociais. A página do Facebook “Adilson Barroso Ambientalista” tem 8,3 milhões de seguidores. Embora seja menos que o presidente Jair Bolsonaro, que tem 10 milhões, a página do presidente do Patriota tem o dobro de fãs que a do ex-presidente Lula, por exemplo. Apesar disso, as postagens de Barroso raramente envolvem questões políticas.
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