O Instituto Paraná Pesquisas divulgou dia 19 deste mês um levantamento sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito da COVID-19, em andamento no Senado Federal e que tem por objetivo investigar supostas omissões e irregularidades cometidas por agentes públicos na condução das ações realizadas no enfrentamento da crise sanitária do coronavírus.
De acordo com a pesquisa, 43,6% dos brasileiros acreditam que a CPI é um jogo político e que não vai dar em nada. Não fui entrevistado, mas me incluo entre aqueles que acham que tudo vai acabar em pizza. Explico as razões do meu ceticismo.
Primeiramente, vale lembrar que o presidente do Senado, com a prudência que lhe é peculiar, de pronto se manifestou contrário à criação do colegiado, sob a alegação de que o momento é inoportuno e que todas as ações deveriam estar voltadas para a vacinação em massa da população. Porém, mesmo a contra gosto, foi compelido a instaurar o procedimento a fim de cumprir decisão proferida pelo STF com esse objetivo.
Historicamente, se voltarmos a recordar fatos ocorridos em outras CPIs , instauradas pelo Congresso Nacional, chegaremos à triste conclusão de que de modo geral os resultados não foram satisfatórios. Membros do colegiado acabam se utilizando dessa condição com a finalidade de aparecer na mídia, tirar proveito eleitoreiro ou até mesmo conseguir vantagens indevidas para atrapalhar o andamento dos trabalhos. A propósito, quem não se lembra do caso em que um senador e membro de uma CPI foi acusado de receber propina para excluir da lista de convocados um empreiteiro envolvido em corrupção na operação Lava a Jato? E por aí vai. A própria CPI da COVID-19 conta com vários integrantes que respondem a processos na justiça. Diante do cenário nebuloso, faço esta indagação: com que autoridade moral os políticos enquadrados nessa situação irão apurar supostos atos de malversação do dinheiro público ? Sinceramente, é muito blablabá para se descobrir o óbvio e que eles fingem desconhecer. Aliás, pelo que sei, investigações estão sendo realizadas pela Polícia Federal em diversas Unidades da Federação para averiguar supostos crimes.
Ora, como sabemos, o Estado dispõe de toda uma estrutura institucional, com profissionais altamente qualificados para investigação, controle e fiscalização da aplicação de recursos públicos. Assim, considerando a amplitude do universo dos entes federativos envolvidos e a complexidade para realização de trabalho dessa natureza, penso que transferir esses encargos para uma CPI, mesmo que temporariamente, me parece um contrassenso ou desperdício de tempo e porque não dizer uma missão operacionalmente inviável, a não ser que vise tão somente desgastar politicamente a imagem do presidente da República, bem como de governadores e prefeitos que serão convocados para prestar depoimento. No meu entender, melhor seria que o precioso tempo dos parlamentares fosse utilizado prioritariamente na apreciação e votação dos projetos de reforma estruturais que lá tramitam e que são de crucial importância para melhoraria do ambiente de negócios e possibilitar que a economia volte a crescer e criar os empregos que muitos brasileiros estão precisando.
Nosso foco é o Brasil
Brasília, 27/5/2021 José Leite Coutinho
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