Cuidado com os falsos consensos científicos

Havia um “consenso científico”, eles nos diziam. De acordo com a imprensa e vários especialistas, não era possível nem questionar a ideia de que o coronavírus (ou SARS-CoV-2) surgiu naturalmente, e qualquer pessoa que suspeitasse de que ele teve origem num laboratório chinês era ignorante, conspiracionista ou negacionista.

Os defensores dessa ideia acreditavam no poder das palavras “científico” e “consenso”, usadas em conjunto como uma arma para ostracizar dissidentes e calar o debate.

Durante boa parte da pandemia, eles pareceram certos. Mas indícios que apontam para um vazamento laboratorial agora estão sendo debatidos com a seriedade que mereciam.

Na semana passada, uma reportagem do Wall Street Journal ressaltava a burrice da unanimidade. A matéria dizia que, de acordo com a inteligência norte-americana, três pesquisadores do Instituto de Virologia de Wuhan adoeceram e procuraram atendimento hospitalar em novembro de 2019, na mesma época em que se acredita que o vírus começou a circular na cidade.

Há duas semanas, 18 cientistas respeitáveis escreveram para a Science Magazine que “temos de levar tanto a hipótese de contaminação natural quanto a de vazamento laboratorial a sério”.

E ninguém menos do que o dr. Anthony Fauci, o queridinho da ciência para metade do país, agora se contradiz e não exclui a possibilidade de um vazamento do laboratório.

O repórter de ciência Nicholas Wade escreveu um longo artigo que revolucionou o debate. Ele observou que uma carta publicada na Lancet em fevereiro e outra publicada na Nature Medicine no mês seguinte foram fundamentais para excluir a teoria do vazamento laboratorial do debate, ainda que as missivas fossem prematuras e cheia de falhas.

Ainda assim a imprensa fez referências constantes às cartas, insistindo na ideia de que os cientistas se manifestaram. Na maior parte da imprensa, a teoria do vazamento foi levada tão a sério quanto a afirmação chinesa de que o vírus escapou de uma base militar em Maryland.

A ortodoxia, contudo, não foi capaz de suportar o peso das contraevidências.

Se o coronavírus foi transmitido naturalmente de morcegos para outros animais e daí para os humanos, então deveria haver algum sinal disso. Mas, como aponta Wade, ninguém encontrou o coronavírus numa população de morcegos original nem em espécies intermediárias, como aconteceu com outros coronavírus, como os da SARS e MERS.

Da mesma forma, as cavernas onde se acredita que vivem os morcegos infectados pelo vírus ficam a 1.600 km de Wuhan, ao mesmo tempo que o laboratório da cidade conduzia pesquisas perigosas com coronavírus — e possivelmente em condições de segurança precárias.

Não que um vazamento laboratorial seja um cenário tirado da ficção científica. Wade observa que isso é incrivelmente comum: “O vírus da varíola escapou três vezes de laboratórios ingleses nas décadas de 1960 e 1970, causando 80 casos e três mortes. Vírus perigosos escapam de laboratórios quase todos os anos. Recentemente, o vírus da SARS provou ser um verdadeiro mágico escapista ao fugir de laboratórios de Singapura, Taiwan e nada menos do que quatro vezes do Instituto de Virologia de Pequim.

Claro que os chineses poderiam ajudar a determinar a origem do coronavírus, que gerou tanto sofrimento, agindo como se não tivessem algo a esconder. Em vez disso, os chineses têm sido tão transparentes no caso do laboratório de Wuhan quanto são em relação ao que acontece em Xinjiang, região do genocídio dos uigures. O laboratório não divulgou seus registros de segurança e ninguém espera que ele o faça.

Nada disso é definitivo. Tanto a teoria da contaminação natural quanto a do laboratório dependem de investigações. Mas uma teoria hoje é mais plausível do que outra, e estamos falando da teoria que atraiu o desprezo de pessoas que se diziam defensoras da ciência – ignorando qualquer teoria contrária.

Rich Lowry é editor da National Review.

Confira a matéria na Gazeta do Povo

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