O depoimento do general e ex-ministro Eduardo Pazuello continua nesta quinta-feira (20). No dia anterior, ele foi muito positivo, esclareceu tudo e resistiu às perguntas repetidas sobre o mesmo assunto na CPI da Covid.
Pazuello foi firme, não se dobrou e nem se intimidou, inclusive depois dos gritos de uma senadora. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), até a alertou que ela estava sendo agressiva, mas ela negou e disse que só estava sendo enfática.
Outro senador também tentou colocar uma casca de banana na discussão acerca do contrato com a Pfizer. O parlamentar disse ter um parecer jurídico que afirmava ser viável firmar um contrato.
Ao que Pazuello respondeu que o senador não havia lido todo o documento, porque havia a condicionante de uma legislação para o poder Executivo assumir todas as exigências da farmacêutica.
O senador não queria que ele lesse por inteiro o documento no meio do depoimento. Foi uma típica tentativa de tolher a defesa do depoente. Até o relator Renan Calheiros (MDB-AL) disse que não queria muita explicação. Mas ele fez a pergunta e não quer uma resposta explicativa?
O presidente da CPI chegou a dizer: “para mim, é irrelevante essa quantidade de explicação”. Mas o general só estava tentando explicar que, quando da urgência de repor os estoques de oxigênio do Amazonas, o produto foi comprado num dia e no dia seguinte os cilindros foram encaminhados ao estado em um avião da FAB.
Perguntaram também se Bolsonaro não queria que Pazuello comprasse a vacina Coronavac. O ex-ministro respondeu que, na verdade, o presidente não iria comprar nenhuma vacina sem autorização da Anvisa. Mas é claro, senão ele poderia ser acusado de crime de responsabilidade se fizesse isso. O imunizante da Pfizer só foi autorizado no dia 11 de dezembro nos Estados Unidos e no Brasil só em fevereiro — em março foi firmado o contrato.
Todas essas informações foram amplamente esclarecidas. Aliás, eu recomendo que as pessoas assistam ao vivo a CPI para não ter informação em segunda mão.
Ao assistir ao vivo é possível ver, por exemplo, que o ministro Ernesto Araújo foi transparente na terça-feira (18) e descobrir tudo que Pazuello fez enquanto chefiava o ministério. É muito bom que nós, eleitores e contribuintes, fiquemos sabendo de forma transparente o trabalho de um ministro de Estado.
Além disso, ainda é possível descobrir como é a postura dos senadores, já que lá eles se revelam. Os senadores estão se revelando mais que os depoentes nesta CPI. É tudo muito informativo.
Movimentação financeira de Salles sob suspeita
A Polícia Federal deflagrou uma operação tendo como alvo, principalmente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Foram expedidos 35 mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, sem a participação do Ministério Público.
É a segunda vez que o MP não acompanha casos dessa natureza. Isso contraria a Constituição — o artigo 127 afirma que o MP é essencial no processo. A primeira vez que aconteceu foi no caso do inquérito das fake news, que considero uma excrescência política institucional.
O ministro Salles foi surpreendido pela operação que tinha um mandado de busca e apreensão para a casa dele, em São Paulo, enquanto ele estava em Brasília. O que derruba a tese de que o governo e o presidente Bolsonaro têm informações privilegiadas da PF. Não, todo mundo foi surpreendido
Entre os outros envolvidos no processo estão: o presidente e diversos diretores do Ibama e dois assessores do ministro Salles. Eles são suspeitos de movimentação financeira atípica nas contas do escritório de advocacia em que o ministro é sócio. O montante soma R$ 14,1 milhões desde 2012. Isso dá R$ 1,5 milhão por ano. Para um escritório de advocacia não acho tão suspeito assim.
O processo se baseia em informações de autoridades americanas de que foi apreendida madeira ilegal da floresta amazônica, em um porto da Georgia, sem documentação devida. Uma das empresas envolvidas é a Tradelink Madeiras.
Agora nós precisamos esperar as explicações do ministro Salles, se é verdade que ele facilitou o contrabando ilegalmente de madeira para o exterior.
Eu lembro que no governo Itamar Franco houve uma denúncia contra o ministro-chefe do Gabinete Civil, Henrique Hargreaves, e ele serviu de modelo. Ele saiu do governo, provou sua inocência e voltou a trabalhar com o poder Executivo.
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