Ser um militante de esquerda é estar — antes de tudo — sempre descontente com a realidade. Militantes estão frequentemente reclamando de tudo e esperando que soluções mágicas venham do governo. Quando as soluções apresentadas não são as condizentes com a sua ideologia política, eles reclamam ainda mais. Basicamente, o que eles desejam é que o mundo, em um passe de mágica, se transforme na sua adorada doutrina de estimação. Ou seja, algo impossível de acontecer.
Sabemos perfeitamente que militantes não levam em consideração as limitações humanas, tampouco compreendem conceitos econômicos básicos, como o fato de que recursos são bens escassos. Adicionalmente, o governo nem sempre é o melhor gestor que existe. Por isso é tão importante deixar o mercado agir de forma orgânica, alocando recursos escassos de forma racional. E isso é especialmente difícil para o governo, dado que governos não estão sujeitos ao sistema de preços, pois sua renda é oriunda de impostos. Portanto, para o governo fica impossível alocar recursos de maneira racional, já que ele não é ordenado por um sistema de oferta e demanda.
Infelizmente, esquerdistas não se importam com fatos, muito menos com o pragmatismo da racionalidade econômica. São como crianças histéricas e exigentes que não se importam em compreender como a realidade funciona. Elas querem que sua utopia seja implementada a qualquer custo, sem se importar em analisar de forma prática a viabilidade do seu projeto político.
A esquerda brasileira celebrou o bolivarianismo venezuelano. Atualmente, 95% da população na Venezuela está soterrada na mais amarga miséria. Da mesma forma, a esquerda brasileira celebrou o retorno dos socialistas ao poder na Argentina, quando Alberto Fernández foi eleito. Hoje, quase um ano e meio depois — Fernández assumiu o poder em dezembro de 2019 —, 45% dos argentinos estão na pobreza. Quem entende economia, sabia perfeitamente que essas nações teriam esse destino. Afinal, é impossível que o socialismo produza prosperidade. Ele possui uma estrutura econômica irracional, que não respeita a ordem natural de mercado. Portanto, sempre será um vetor irremediável de extrema miséria e pobreza, sem a menor possibilidade de produzir resultados diferentes daqueles que ele produz.
Evidentemente, a esquerda brasileira está em um silêncio sepulcral; há um tempo considerável ela não ousa se manifestar sobre os países vizinhos. Ela permanece omissa porque sabe que — se o fizer — teria que encarar a verdade sobre a sua ideologia e admitir que o socialismo não funciona. Não obstante, a esquerda jamais fará isso, porque, coletivamente, ela está em uma busca permanente por uma fantasia utópica, que não pode ser concretizada no mundo real.
Quando através de exemplos práticos — como as tragédias da Venezuela e da Argentina demonstram perfeitamente — a realidade mostra que o socialismo não funciona, a militância nega a realidade. E simplesmente afirma categoricamente que esses países não são representantes do verdadeiro socialismo, ou que o socialismo foi aplicado “errado”. E essa é uma conversa que todos nós já ouvimos centenas de vezes.
Dessa maneira, os militantes vão enganando a si próprios indefinidamente, tudo porque recusam-se ostensivamente a admitir para eles próprios que acreditam em uma utopia, que é simplesmente impossível de ser executada na prática.
Como essas pessoas vivem em um mundo de fantasias, é impossível que elas despertem para a realidade. Elas continuarão indo em busca de sua fantasia utópica, custe o que custar. O militante de esquerda tem uma tendência inata a rejeitar categoricamente qualquer argumento racional capaz de contradizer a sua ideologia, e mostrar o quão equivocada ela está. Para ele, o importante é continuar em busca da utopia, indefinidamente. Quando ela der errado, é só falar que aquilo não era o “verdadeiro” socialismo. E assim a novela vai se repetindo, em um ciclo que jamais termina.
Lamentavelmente — não importa quantos países a ideologia socialista acabe destruindo —, no final das contas, os adeptos da doutrina continuarão sempre se enganando. Ao vislumbrarem o fracasso do socialismo em um determinado lugar, simplesmente dirão que aquilo ali não era o “verdadeiro” socialismo, e seguirão adiante, com a sua fé inabalável na utopia simplesmente intocada.
E essa fé continuará inabável. Afinal — na grande maioria das vezes — não é a vida, o futuro, a segurança e a liberdade do militante que está em jogo, mas a de pessoas que ele nem conhece. A verdade é que arriscar a vida e o futuro dos outros é muito fácil. E socialistas são especialistas nisso.
Socialistas sabem que precisam implantar a sua ideologia política à força em seus respectivos países, porque — se for dada a opção de escolha às pessoas —, como Margaret Tatcher falou em certa ocasião, “elas podem não escolher o socialismo.”
Não podemos nunca subestimar o poder da doutrinação sistemática combinada com o autoengano. A esquerda está aí para mostrar quão poderosa é a crença em fantasias, até mesmo em indivíduos adultos. A rejeição sistemática da realidade é uma das características mais proeminentes da esquerda, e é por essa razão que ela atrai para si tantos desajustados, incapazes de compreender a realidade prática e de enxergar a vida como ela realmente se apresenta.
Seu caráter inerentemente disfuncional a impede de ser um movimento político sério. A esquerda parece mais uma creche em busca de um pai — seja ele um político específico, ou o estado como um todo — do que um agrupamento de adultos maduros, verdadeiramente comprometidos com o progresso e o desenvolvimento da nação.
Por essa razão, a esquerda é tão prejudicial. Ela não passa de um ajuntamento de adultos ressentidos, economicamente ignorantes, que acham que todos podem ser sustentados pelo estado, e que o estado deve ter plenos poderes sobre todos os cidadãos. Nada poderia ser tão irracional e infantil quanto essa crença perigosamente coletivista e ditatorial. Infelizmente, ela tem custado muito caro à sociedade, em todos os sentidos possíveis — humanos, materiais, políticos e sociais. Por onde a esquerda passa, o rastro de destruição é simplesmente imensurável.
Wagner Hertzog
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