Fico às vezes a indagar comigo mesmo sobre a raiz do clima de discórdia, com infindáveis discussões inúteis e ataques por vezes desrespeitosos entre integrantes dos Poderes da República. Pois o mínimo que se espera das autoridades constituídas é que o relacionamento funcional entre elas ocorra de forma civilizada, inclusive porque os bons exemplos precisam vir de cima, a fim de servirem de espelho para os demais segmentos da população.
É oportuno ressaltar que não foi em vão que os constituintes fizeram constar da Carta Magna de 88 o artigo segundo, em nível de cláusula pétrea, determinando que os Poderes da União funcionem entre si de forma harmônica e independente.
Desnecessário enfatizar a importância da harmonia em qualquer organização, especialmente em se tratando das relações institucionais entre o Executivo, Legislativo e Judiciário. No tocante ao requisito da independência – também igualmente importante para o cumprimento da missão específica atribuída a cada um deles – o que se observa na prática e com frequência é a queixa de invasão de competência de um poder sobre o outro. É inegável que existe interferência. Ela sempre existiu. Faz parte da regra do jogo democrático. É utilizada inclusive para combater abuso de poder. Por isso mesmo, não deve servir de motivação para ataques ou acusações recíprocas. Respeitosamente, entendo que não é esse o caminho adequado a ser seguido. Quem se sentir prejudicado pela ação de outro poder, deve, primeiramente, buscar o diálogo e o entendimento para resolver a questão. Caso não consiga, e se cabível, deve utilizar-se de recursos constitucionais e legais pertinentes para tentar solucioná-la. Por outro lado, não se pode deixar de considerar que não existe poder absoluto. Tudo é relativo, tem limites e ninguém é dono da verdade. Nenhum poder é superior ao outro. Os três precisam funcionar dentro do sistema de Pesos e Contrapesos, um fiscalizando o outro para que haja o necessário equilibro no funcionamento do Estado e tudo seja realizado com vistas ao interesse público e em consonância com as disposições da Constituição. Em suma, todos têm o sagrado direito de falar e espernear, mas deve fazê-lo de maneira respeitosa e com educação, como recomendam a liturgia do cargo e as regras gerais da boa convivência. Como cidadão brasileiro, reitero o apelo para deixarmos as desavenças político-eleitorais de lado e centrarmos os esforços nas questões relevantes que precisam ser enfrentadas com urgência possível, destacando-se, entre outras ações: a vacinação em massa contra a Covid-19, as reformas estruturais que estão tramitando em passo de tartaruga no Congresso Nacional e a priorização do equilibro das contas públicas. Sem o atendimento dessas condicionantes o país não voltará a crescer e gerar os empregos que milhões de brasileiros estão precisando. Nosso foco é o Brasil. Brasília, 25 de abril de 2021. José Leite Coutinho.
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