O presidente interino da Venezuela e líder da oposição, Juan Guaidó, anunciou, no início da manhã desta terça-feira (30), que conta com o apoio das “principais unidades militares das nossas Forças Armadas”. A declaração desencadeou um conflito entre militares que agora apoiam Guaidó, identificados com uma faixa azul no braço, e as forças ainda leais ao ditador Nicolás Maduro no leste de Caracas, capital da Venezuela.
“O 1º de maio começou hoje. O cessar definitivo da usurpação começou hoje”, disse Guaidó em um vídeo publicado em sua conta do Twitter, referindo-se a uma grande mobilização convocada para esta quarta-feira (1º). Este novo protesto, segundo ele, será a última fase da Operação Liberdade.
Falando da base aérea La Carlota, em Caracas, cercado por militares, Guaidó continuou: “as Forças Armadas claramente estão ao lado do povo, do lado da constituição… Como legítimo comandante em chefe das Forças Armadas da Venezuela convoco a todos os soldados, a família militar, a acompanhar a nossa luta não violenta”.
Outra figura importante da oposição, Leopoldo López, que até então estava em prisão domiciliar, também apareceu na base militar ao lado de Guaidó. Segundo o presidente interino, ele foi liberado por funcionários da Guarda Nacional Bolivariana na madrugada desta terça-feira.
“Todos a mobilizar-nos. É hora de conquistar a liberdade. Força e Fé”, disse López.
Jornalistas venezuelanos relataram que, após a divulgação do vídeo, o grupo de militares que estava junto a Guaidó foi atacado com bombas de gás lacrimogêneo lançadas do interior da base aérea.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram o confronto entre as forças leais ao ditador Nicolás Maduro e os militares que agora apoiam Guaidó. Um deles, publicado pela jornalista da Fox News, Trish Regan, mostra membros da Guarda Nacional prendendo outros guardas.
O jornal espanhol ABC informou que, até agora, pelo menos uma pessoa ficou ferida nos confrontos em frente à base militar La Carlota. Repórteres da CNN que estão acompanhando a situação relataram que ouviram tiros do lado de fora da base aérea de Caracas, onde estão Guaidó e López.
O conflito desencadeou protestos em outras áreas da capital e em outras regiões do país.
De acordo com o site NetBlock, o acesso à internet e às redes sociais na Venezuela está precário nesta terça-feira – algo que costuma ocorrer nas vésperas das manifestações da oposição. Os serviços do Youtube, Bing, Google, e Android estão restritos.
Reação do chavismo
Em resposta, o ministro da Defesa de Nicolás Maduro, Vladimir Padrino López, disse que as Forças Armadas permanecem firmes “em defesa da Constituição Nacional e de suas autoridades legítimas”.
“Todas as unidades militares implantadas nas oito Regiões de Defesa Integral relatam normalidade em seus quartéis e bases militares, sob o comando de seus comandantes naturais”, tuitou ele.
O ministro das Comunicações do regime, Jorge Rodríguez, disse que está “enfrentando e desativando um pequeno grupo de militares traidores que se posicionaram no Distribuidor Altamira (base La Carlota) para promover um golpe de Estado contra a Constituição e a paz da República”.
O presidente da Assembleia Nacional Constituinte e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, convocou uma manifestação em frente ao palácio presidencial Miraflores, em Caracas.
O ditador Nicolás Maduro não se pronunciou até o momento.
Reação internacional
As declarações de Guaidó e a libertação de Leopoldo López repercutiram internacionalmente.
Em uma série de tuítes, o senador americano Marco Rubio disse que o regime Maduro convocou os “colectivos” para tomar as ruas “em um sinal de que eles perderam a fé no controle que exercem sobre o exército”.
“Povo da Venezuela, seu destino está agora em suas mãos. Chegou a hora de recuperar sua terra natal e sua liberdade”, escreveu em espanhol.
O conselheiro de segurança da Casa Branca e um dos críticos mais vocais de Maduro nos Estados Unidos, John Bolton, fez um chamado direto às Forças Armadas da Venezuela, pedindo que elas protejam “a Constituição e o povo venezuelano” e que apoiem a Assembleia Nacional.
O presidente da Colômbia, Iván Duque, também usou as redes sociais para reafirmar seu apoio a Guaidó e chamar os militares para estar “do lado certo da história”.
Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, saudou a “adesão dos militares venezuelanos à Constituição e ao Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó”. “É necessário o mais pleno apoio ao processo de transição democrática de maneira pacífica”, disse.
Já o italiano Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu, comemorou a libertação de Leopoldo López. “O dia de hoje marca um momento histórico para o retorno à democracia e à liberdade na Venezuela, que o Parlamento Europeu sempre apoiou. A libertação do [ganhador do] Prêmio Sakharov Leopoldo Lopez, por militares [em respeito] à ordem da Constituição, é uma ótima notícia. Vamos libertar a Venezuela!”, escreveu Tajani.
A Espanha fez votos por uma transição pacífica na Venezuela, por meio de uma eleição democrática. Segundo a agência de notícias Associated Press, a porta-voz do governo espanhol, Isabel Celaá, disse que o país segue de perto os acontecimentos em Caracas. Ela salientou, porém, que a Espanha não apoia nenhum “golpe militar”. “Desejamos com todas as nossas forças que não haja um derramamento de sangue”, disse a repórteres.
Também houve críticas à Guaidó. O presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou o que chamou de “tentativa de golpe de estado na Venezuela por parte da direita que é submissa a estrangeiros”.
“Pedimos aos governos da América Latina que condenem o golpe na Venezuela e evitem que a violência leve vidas inocentes. Seria um antecedente nefasto permitir que a intromissão golpista se instale na região. Diálogo e paz devem prevalecer sobre o golpe”, escreveu Morales em sua conta do Twitter.
Da mesma maneira, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, rechaçou as declarações de Guaidó. “Os traidores que se colocaram à frente desse movimento subversivo usaram tropas e policiais com armas de guerra em uma via pública na cidade para criar ansiedade e terror”, comentou.
De acordo com a agência estatal russa Tass, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, informou que presidente Vladimir Putin e os membros permanentes do Conselho Nacional de Segurança da Rússia discutiram os recentes acontecimentos na Venezuela, mas não forneceu detalhes sobre a conversa. A Rússia é o principal aliado do regime Maduro no cenário internacional.
Esta é uma história em desenvolvimento. Mais informações em breve.
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