Três levantamentos publicados neste ano confirmam aumento da violação à liberdade de imprensa no Brasil e de ataques a jornalistas no exercício da profissão. Os levantamentos foram feitos pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
O “Relatório Abert sobre Violações à Liberdade de Expressão”, publicado nesta terça-feira (30), registrou em 2020 “um caso de assassinato de jornalista pelo exercício da profissão e 150 casos de violência não letal, que envolveram pelo menos 189 profissionais e veículos de comunicação”.
| Reprodução/Relatório Abert
“Os números merecem atenção. Nas redes sociais, houve em média 6 ataques à imprensa por minuto. Intolerância e desconhecimento sobre seu papel são características de quem não aceita o contraditório”, escreveu o presidente da Abert, Flávio Lara Resende, na apresentação do trabalho.
Em relação a 2019, o levantamento da Abert mostra aumento de 167,85% no número de casos não letais e de 142,3% no número de vítimas. Entre os casos registrados, 26% foram agressões físicas (39 casos), que envolveram pelo menos 59 vítimas, um aumento de 67,5 % em relação a 2019. Cerca de 40% das agressões foram classificadas como ofensas (59 casos), um aumento de 637,5% quando comparado com o ano anterior.
“Pela primeira vez, o Relatório da Abert registrou um caso de sequestro, crime que merece toda a atenção da sociedade e das autoridades públicas”, alerta a entidade que representa as emissoras de rádio e televisão do país.
Outro estudo, o “Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil”, divulgado pela Fenaj no final de janeiro, constatou que 2020 foi o ano mais violento para os jornalistas desde o começo da década de 1990, quando a entidade iniciou a série histórica. Foram 428 casos de ataques, o que representa aumento de 105,77% em relação a 2019.
O levantamento da Fenaj registra ainda que, como no ano anterior, a descredibilização da imprensa foi uma das violências mais frequentes em 2020. Foram 152 casos, o que representa 35,51% do total de 428 registros ao longo de 2020. “O presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, foi o principal agressor. Dos 152 casos de descredibilização do trabalho dos jornalistas, o presidente da República foi responsável por 142 episódios”, descreve a entidade.
A violência contra jornalistas no Brasil:
| Reprodução/Relatório Fenaj
“Os jornalistas passaram a ser agredidos por populares e houve aumento nos casos de agressões físicas e de cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais, o que também é muito preocupante”, declarou a presidente da Fenaj, Maria José Braga, ao portal da Fenaj.
O terceiro levantamento publicado este ano, o “Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa”, elaborado pela Repórteres Sem Fronteiras, mostra que o Brasil continua nas listas mundiais de nações perigosas para o exercício do jornalismo.
De acordo com o estudo, entre 180 países avaliados, o Brasil figurou em 2020 na posição 107 no ranking de liberdade de imprensa, a pior colocação desde o início da contagem, em 2002. A lista é elaborada a partir de respostas em um questionário preenchido por especialistas da área e um balanço quantitativo dos casos de violência cometidos contra jornalistas.
A organização contabilizou 580 ataques contra a mídia brasileira e seus profissionais em 2020. De acordo com a RSF, o presidente Bolsonaro e seus três filhos com cargos políticos (Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonato) foram responsáveis por 469 ataques contra jornalistas, número que corresponde a 85% do total de ataques de autoridades contra os veículos de imprensa do país.
Os 10 melhores em liberdade de imprensa:
- 1 – Noruega
- 2 – Finlândia
- 3 – Dinamarca
- 4 – Suécia
- 5 – Países Baixos
- 6 – Jamaica
- 7 – Costa Rica
- 8 – Suíça
- 9 – Nova Zelândia
- 10 – Portugal
Fonte: Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2020, da RSF.
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