Os Estados Unidos são o país mais poderoso da história mundial, contudo não ganhou nenhuma das três principais guerras que travou no último meio século. Suas tropas lutaram no Vietnã por nove anos e no Iraque por doze. Ainda lutam há 20 anos no Afeganistão, onde nossos generais estão pedindo ao Talibã que pare de atacar. Isso não é um sinal de sucesso; um vencedor não faz tais pedidos.
O fato é que no Vietnã, no Iraque e no Afeganistão, os Estados Unidos falharam em sua missão de desenvolver e sustentar democracias.
O que explica esse fracasso triplo? Por sorte e falta de pontaria da parte dos inimigos, fui capaz de testemunhar os combates em terreno real em todas as três guerras e a criação das políticas de alto nível que as moldaram.
Neste artigo, apresento o que acredito ser a raiz dos fracassos. Oscar Wilde certa vez observou: “Dois tipos de pessoas são fascinantes: pessoas que sabem absolutamente tudo e pessoas que não sabem absolutamente nada”. Estou dando a opinião de um homem, mas espero não cair em nenhuma das categorias.
Em termos gerais, a liderança na guerra vem de três centros. O primeiro consiste nos comandantes militares que elaboram a estratégia e decidem como nossas tropas irão lutar. O segundo eixo são os formuladores de políticas, incluindo o presidente como comandante-chefe e o presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos como seu conselheiro militar, além da CIA, do Departamento de Estado e do secretário de defesa, que fornecem dados.
O terceiro eixo é a cultura e o ânimo popular de nosso país, refletidos pelos votos do Congresso e pela tendência da grande imprensa. A imprensa não informa “apenas os fatos”; em vez disso, apresenta um ponto de vista ao selecionar quais fatos focar. O ânimo popular é a base final do poder político, porque o centro de políticas não pode travar uma guerra sem recursos do Congresso.
Dividi as guerras em fases principais e, para cada fase, atribuí uma porcentagem de responsabilidade pelo fracasso a cada um desses três centros, conforme mostrado a seguir.
Elaborado pelo autor
Uma avaliação de 0% indica que não acredito que aquele eixo específico tenha contribuído para o fracasso naquela fase da guerra. Uma classificação “+” significa que o eixo contribuiu para o sucesso, não para o fracasso. Observe que, embora o centro da tomada de decisão errada tenha mudado de guerra para guerra, no geral a responsabilidade mais pesada recaía sobre o eixo político em Washington, incluindo o comandante-chefe.
1. Vietnã, 1965–67. O general William Westmoreland em Saigon, capital do então Vietnã do Sul, empreendeu uma campanha de desgaste impensado, trocando vidas americanas por norte-vietnamitas em incursões aleatórias na selva profunda.
No 1.º Corpo do Norte, os Fuzileiros Navais seguiram uma direção diferente, patrulhando para empurrar os guerrilheiros vietcongues para fora das aldeias. O sucesso foi frustrado, no entanto, quando dezenas de milhares de soldados norte-vietnamitas foram para o sul.
Ordenadas a não flanquear o inimigo por incursões no Laos ou no Vietnã do Norte e a permanecer num fronte estreito, as tropas dos Estados Unidos travaram batalhas defensivas que não faziam sentido estratégico e foram mal executadas.
Qual foi a causa desta luta fútil? Tanto o comandante em Saigon (general Westmoreland) e o comandante-chefe em Washington (presidente Lyndon Johnson) compartilhavam uma crença solipsista de que os norte-vietnamitas desistiriam assim que compreendessem que a América era fisicamente mais forte.
O presidente concedeu ao inimigo um santuário terrestre e recusou-se a bombardear sua infraestrutura econômica e industrial ou minar seus portos para impedir a entrega de suprimentos de guerra da China e da Rússia. Contudo, nenhum oficial superior do lado norte-americano renunciou ou objetou publicamente.
Durante essa fase, a imprensa se concentrou mais no sangue da batalha do que na falta de estratégia. O Congresso e o público basicamente apoiaram a guerra. Os comandantes seniores em Saigon e os formuladores de políticas em Washington tinham a mesma responsabilidade por uma desordem caótica.
2. Vietnã, 1968–75. O inimigo lançou um ataque total contra as cidades do Vietnã do Sul, acreditando que a população se levantaria para apoiá-la.
Em vez disso, a infraestrutura exposta dos insurgentes foi destruída e os soldados do Exército do Vietnã do Norte (NVA) foram dizimados.
O generalato americano errou de 1965 até o início de 1968 e depois se adaptou bem. Nos anos seguintes, as táticas americanas melhoraram drasticamente e o NVA foi levado para as profundezas da selva. Quando os militares americanos retiraram-se em 1972, o tráfego circulava sem ser perturbado na maior parte das áreas povoadas.
O eixo de política, no entanto, havia perdido toda a energia. A imprensa americana retratou o ataque às cidades em 1968 como prova definitiva de que a guerra não poderia ser ganha e exaltou os protestos estudantis contra a guerra e o alistamento militar.
Depois que o presidente Richard Nixon renunciou em desgraça em 1974, o poder Executivo concedeu ao Congresso o controle total da tomada de decisões sobre o Vietnã. O Senado e a Câmara democratas aprovaram uma legislação que proibia os bombardeios dos EUA em qualquer lugar do Sudeste Asiático, independentemente da provocação.
A ajuda militar ao Vietnã do Sul foi reduzida a uma ninharia, enquanto enormes armamentos soviéticos e chineses reconstruíam o NVA.
Em 1975, o NVA tomou o Vietnã do Sul. É historicamente controverso se o Sul poderia ter sobrevivido se tivéssemos continuado a ajuda e os bombardeios. A narrativa do pós-guerra na imprensa americana atribuiu toda a culpa à liderança sul-vietnamita. O centro de políticas desintegrou-se com a renúncia do presidente Nixon. No início dos anos 1970, o ânimo popular, refletido na imprensa e no Congresso, se voltou contra o Vietnã do Sul, garantindo seu colapso.
3. Iraque, 2003–2006. O Iraque teve três fases. Em 2003, o centro político, liderado pelo presidente George W. Bush, invadiu a região para destruir o regime sunita de Saddam Hussein. Nossos líderes políticos, então, imprudentemente dispersaram o exército iraquiano. Os militares americanos tomaram seu lugar, declarando que nossos soldados e fuzileiros navais eram construtores de nações, além de guerreiros.
Nossos formuladores de políticas então estimularam passivamente o surgimento de políticos xiitas astutos e vingativos com a intenção de privar a minoria sunita de seus direitos. Nossos principais generais em Bagdá se atrapalharam, especialmente ao entregar Fallujah à rede terrorista Al-Qaeda no Iraque.
4. Iraque, 2007–2011. Mas no final de 2006, as tribos sunitas no oeste do Iraque aliaram-se aos fuzileiros navais contra os terroristas. O general David Petraeus assumiu o comando e incentivou as milícias sunitas dos bairros no centro e norte do Iraque, controlando as invasões predatórias de milícias xiitas ajudadas pelo Irã. O eixo político, liderado pelo presidente, forneceu firme apoio e recursos.
Em 2008, o Iraque se estabilizou militarmente. Tão importante quanto, a onipresente presença militar americana anulou a ameaça de uma guerra civil sunita-xiita e deteve as ações desestabilizadoras dos políticos xiitas.
Depois de um mau começo, os Estados Unidos conseguiram construir uma frágil nação democrática. A chave para esse sucesso foram nossas unidades militares espalhadas por todo o país, evitando excessos políticos. Nossos soldados foram a força estabilizadora. O eixo político teve um bom desempenho até 2011, exceto por concordar em retirar nossas tropas.
5. Iraque, 2012–2021. No final de 2011, o eixo político, liderado pelo presidente Barack Obama, começou a retirar todas as tropas dos EUA, apesar dos avisos de dentro do Pentágono e do Departamento de Estado. Os políticos xiitas então oprimiram as tribos sunitas, e o Isis voltou, tomando cidade após cidade. Em 2015, os EUA tiveram de apressar a volta de conselheiros e comandos, além de artilharia e apoio aéreo. Depois que o Isis foi esmagado, em 2020, o presidente Donald Trump, criticando nossa presença militar no Oriente Médio, retirou a maioria de nossas tropas.
A opinião popular americana desempenhou um pequeno papel à medida que a Guerra do Iraque aumentava e diminuía nas últimas duas décadas. Sem convocação, não houve movimento de protesto estudantil. Uma grande diferença em relação ao Vietnã foi que o povo americano e a imprensa apoiaram as tropas.
A responsabilidade de decidir em primeiro lugar a construção de uma nação democrática (em 2003) e depois retirar todas as tropas (em 2012 e novamente em 2019) pode ser encontrada no eixo político, liderado por três presidentes sucessivos com pontos de vista distintamente opostos. Em 2021, apenas algumas tropas americanas permaneceram no Iraque. O governo iraquiano era corrupto e ineficaz, e a influência do Irã entre os xiitas era mais forte do que a dos Estados Unidos.
6. Afeganistão, 2001–2021. Esta é uma história marcadamente diferente. Invadimos para destruir a Al-Qaeda, que, devido a decisões militares errôneas, escapou para o Paquistão. O eixo político, fortemente liderado pelo presidente, decidiu então que os Estados Unidos eram obrigados a transformar uma confederação de tribos rebeldes em uma democracia autossustentada. Nossos militares concordaram que poderiam cumprir essa missão.
O país carecia de senso de nacionalismo e não havia recrutamento. Soldados afegãos de tribos tadjiques foram enviados às províncias pashtuns para lutar contra os talibãs pashtuns.
Por dez anos, soldados americanos e aliados patrulharam aldeias disputadas, controlando apenas o terreno em que pisavam. Começando por volta de 2012, a estratégia de campanha americana/aliada se concentrou mais no treinamento do exército afegão.
Mas “a coisa certa” não estava lá. A liderança e o moral do lado do governo permaneceram instáveis, enquanto as lealdades tribais permaneceram mais altas do que as nacionais. Os comandantes americanos aderiram às tentações do “poder brando”, como dinheiro para construção, para cortejar os pashtuns. Não funcionou. Ano após ano, as áreas rurais do sul e do leste do Afeganistão caíram sob o controle do Talibã.
Ainda assim, ao longo do curso de deterioração da guerra, a imprensa e o Congresso permaneceram amplamente solidários. O ânimo popular gradualmente mudou para um cansaço da guerra, não para a oposição política. A derrota do Talibã falhou porque o Paquistão forneceu um santuário, os governos de Cabul foram irresponsáveis e as tribos pashtun, lucrando com o cultivo da papoula, nunca rejeitaram o Talibã em seu meio.
Em mais de uma década de reportagem, estive no Nuristan, Korengal, Kunar, Nuristan, Marjah, Nad Ali, Sangin e lugares intermediários. Em nenhum local nossos soldados acreditaram que os soldados afegãos tomariam conta do campo depois que os americanos partissem. Nove generais americanos ocuparam o comando máximo no Afeganistão. Ainda assim, ao longo de seus mandatos combinados, a doutrina militar subjacente – nossos soldados como construtores de nações – permaneceu incontestada.
Essa lacuna gritante que separa as avaliações dos soldados daquelas dos generais exige explicação. Perder guerras leva à tendência de a próxima geração não se voluntariar para trabalhos difíceis, como infantaria.
No futuro, as forças especiais americanas e aliadas e as aeronaves de ataque, em pequeno número, devem permanecer indefinidamente no Afeganistão para evitar um colapso que prejudique gravemente nossa reputação global. Deve-se evitar uma repetição das imagens de 1975 de Saigon em pânico total. A sorte, entretanto, está lançada.
São os fatos reais, não as negociações, que determinarão o resultado no longo prazo. Os legisladores americanos eram arrogantes e perdulários, acreditando que a força das armas e uma espantosa generosidade de dinheiro poderiam alterar uma sociedade tribal que avançava de cabeça para o século IX. Mais cedo ou mais tarde, o país se dividirá ou o Talibã controlará um governo repressor dos direitos humanos e decididamente antidemocrático.
Em resumo, nas três guerras, o eixo político foi o principal responsável pelas falhas. Em nenhum caso o presidente que iniciou as hostilidades as concluiu antes de deixar o cargo. Nos últimos 70 anos, o ramo executivo acumulou mais poder do que sabedoria. Os Pais Fundadores dos EUA pretendiam limitar o poder do ramo Executivo, com Thomas Jefferson alertando sobre a “idolatria da realeza”.
Das três guerras, apenas no Vietnã o humor popular, conforme refletido na imprensa e nos votos do Congresso, desempenhou o papel final e central no fracasso.
No Iraque, em 2011, nossos militares haviam estabelecido um sólido caminho à frente, enquanto nossas tropas continuassem sendo a força estabilizadora. Em 2012, no entanto, os legisladores deixaram a vitória escapar retirando peremptoriamente nossas tropas, permitindo que os terroristas se reconstituíssem e resultando em uma bagunça em 2021.
No Afeganistão, nosso objetivo de segurança após o 11 de setembro era destruir o movimento terrorista. Esse objetivo foi amplamente alcançado. Mas a Casa Branca exagerou ao ampliar a missão para incluir a construção da nação. Nossos comandantes militares e o eixo político compartilham a mesma responsabilidade por se recusarem a reconhecer que isso era ambicioso demais. Uma nação democrática autossustentável só seria alcançável se, como na Coreia do Sul, estivéssemos dispostos a permanecer em grande número por 70 anos.
O que vem a seguir? É claro que devemos nos empenhar para deter a China, e não para nos envolvermos em outra contra-insurgência.
Em termos de estratégia militar, o Corpo de Fuzileiros Navais emergiu de maneira inovadora ao mudar adequadamente seu foco. Os investimentos de capital, no entanto, da Marinha e da Força Aérea não refletem um ponto central para contrabalançar a China. A administração Trump, embora antagonizasse nossos aliados, despertou o eixo público para a ameaça das ambições da China.
Mas se o fracasso em nossas últimas três pequenas guerras nos diz alguma coisa, é que o eixo político emanado da Casa Branca cresceu muito confiante em sua própria e quixotesca infalibilidade, não desafiada por um Congresso divisivo, que é indiferente em questões de guerra. Quando a América não está determinada, perdemos. Não há sinal de que o eixo político tenha a humildade de compreender esse fato existencial.
Bing West, ex-secretário assistente de defesa e combate da Marinha, é um historiador militar. Ele escreveu dez livros sobre guerras no Vietnã, Iraque e Afeganistão, o último dos quais é “O Último Pelotão: Um Romance da Guerra do Afeganistão“.
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