Em uma longínqua cidade imaginária, um filho com fome abre a porta do armário, para ver se há algo para comer e indaga seus pais:
– Pai, mãe, estou com fome!
O pai responde ao menino:
– Meu filho, não há o que comer.
Sem saber o que fazer a criança questiona, novamente ao pai e a mãe:
– Por que vocês não trabalham para termos o que comer?
Surpresos com a nova pergunta e com lágrimas nos olhos os pais respondem ao filho em voz uníssona:
– Trabalhar, meu filho, nós trabalhamos e muito. É que agora estamos impedidos de trabalhar, porque o serviço que fazemos e os produtos que vendemos não são considerados “essenciais” por um governante eleito.
Sem entender nada a criança, simplesmente, se põe a chorar.
Agora vamos olhar a realidade em que vivemos.
Já faz um ano que o Brasil está imerso na pandemia do COVID-19.
E lágrimas não alimentam ninguém.
Enquanto a China construiu um hospital inteiro, em 10 (dez) dias, diga-se de passagem, hospital referência para combater os efeitos do COVID-19, governadores e prefeitos no Brasil ou promoveram diretamente ou indiretamente, através da negligência, da omissão, da apatia, da indiferença ou da conivência, verdadeiras farras com os bilhões e bilhões de recursos públicos que receberam do governo federal, através de transposições de rubricas estapafúrdias e incabíveis legalmente, dos recursos da saúde, com gastos em publicidade, para ululantemente sedimentar campanhas de reeleição ou para adquirir supérfluos e banalidades.
A campanha do “fique em casa” (#FiqueEmCasa) tão importante e necessária no início da pandemia, tinha uma única razão de ser, qual seja, diminuir os deslocamentos das pessoas, para que o poder público agisse com urgência, tomando providências, instituindo políticas públicas e medidas sanitárias, mobilizando-se para aumentar o número de leitos em hospitais, bem como construindo novos hospitais e abrindo hospitais de campanha.
Lamentavelmente, quando o STF decidiu, em 15-04-2020, na ADIN nº. 6341, dando a Estados e municípios autonomia, diante do governo federal, a competência concorrente, para tomar medias de combate contra a COVID-19, o país, que já era há 16 (dezesseis) anos “a casa da mãe Joana”, infelizmente voltou a ser, haja vista que ao se tomar essa decisão, ou não se pensou, ou se sabia, que uma única situação poderia ocorrer: a esculhambação geral.
Ora veja, nada é tão trágico para uma cidade, Estado ou país, do que dar poder para incapacitados, a despreparados, ou a quem quer bancar de “Sassá Mutema Salvador da Pátria”, sabendo que Super-Homem é apenas um personagem da genialidade de quadrinhos e filmes.
O que o Brasil todo viu e ainda vê, lamentavelmente, são exatamente estes mesmos incapacitados, despreparados, biltres, capadócios ou apedeutas, sedizentes “Sassás Mutemas”, ora ocupando os cargos de prefeitos, ora os de governadores, e não raras vezes sem qualquer vocação para a gestão pública, unidos ainda a trêfegos, mal intencionados e outros tantos sem caráter algum, mas com muita destreza para fazer politicagem, maracutaias e expedientes de quinta classe, com desvios de recursos públicos, através de bizarras e criminosas transposições de rubricas, para pavimentar as pretensões de reeleições ou o despeito de se tornar presidenciáveis.
Isso quando não empreendem seus intentos através do sarcasmo, da ironia e do deboche.
O esquadro e o compasso, é bom que se diga, não defende a tirania e não se compraz com tiranos que usurpam o poder.
Muito pelo contrário: os combate!
Verdade seja dita, qualquer pessoa que raciocine e tenha bom senso é favor do distanciamento controlado, das medidas sanitárias efetivas, dos cuidados como o uso de máscara, álcool gel e de constante higienização das mãos ao longo do dia.
Isso se não é, também, particularmente, como sou, convicto apoiador do tratamento precoce, com vasta literatura técnica que o embasa.
O que não se consegue compreender, até hoje, é essa turma do lockdown total e irrestrito. Essa turma que ainda defende o “fique em casa” (#FiqueEmCasa) e obviamente, morra de fome (#MorraDeFome).
Ora veja, todo pai e toda mãe têm o dever de prover o sustento dos filhos enquanto crianças.
Essa turma do lockdown total e irrestrito, do “fecha tudo”, não sabe o que é assinar uma carteira de trabalho, porque nunca deu emprego a ninguém. Sempre se nutriu e sobreviveu de politicagem de quinta classe, através do fisiologismo, para ocupar algum espaço que a insignificância dos próprios méritos compreende muito bem.
Um pai e uma mãe que não conseguem trabalhar, para prover o sustento dos filhos, porque sedizentes “Sassás Mutemas ” consideram a profissão, ou o ofício que eles exercem, ou os produtos que eles vendem, como “não essenciais”, ao fim e ao cabo, só querem saber quem irá prover a comida que falta na mesa, as roupas para vestir, as contas de luz e de água, o condomínio, a gasolina do veículo, o aluguel, o financiamento que foi feito dentro do orçamento que se tinha, a escola que tanto se sonhou, os medicamentos que não se pode ficar sem e todos os compromissos que têm que se honrar.
Essa história hipotética não é só a história de um pai, de uma mãe e de um filho em uma longínqua cidade imaginária.
Ela é uma história que ocorrerá em todo Brasil, enquanto forem alçados e permanecerem no poder inescrupulosos e sem caráter.
E se isso continuar a ocorrer… é só questão de tempo, teremos uma hecatombe civil.
Ninguém mais terá o que comer.
Para uns demorará mais.
Para outros demorará menos.
Fato é que a todos atingirá.
Vivemos em um país de contrastes surreais.
E certamente nada será tão celebrado pelo povo, do que o lockdown da tirania e dos tiranos, na medida em que, se trabalhar não é mais um direito, pagar impostos também já não é mais um dever.
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