ICMBio, ligado ao Meio Ambiente, perde terceiro chefe em menos de 10 dias

As ações do ministro também evidenciaram uma disputa interna entre indicados de Salles e a ala militar do ministério do Meio Ambiente (foto: AFP / Yasuyoshi CHIBA)

Além de Régis Pinto de Lima, três diretores também pediram exoneração em resposta à iniciativa do ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, de demitir o chefe do Parque Nacional Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, Fernando Weber

O Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) perdeu o terceiro chefe em menos de 10 dias. Régis Pinto de Lima, que era diretor da Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio) e havia assumido o cargo de presidente interino do órgão pediu exoneração com outros três colegas das diretorias de Criação e Manejo de Unidades de Conservação (Diman), de Planejamento, Administração e Logística (Diplan) e de de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em UCs (Disat).

Os pedidos de exoneração saíram na manhã desta quarta-feira (24/4), em resposta à iniciativa do ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, de demitir o chefe do Parque Nacional Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, Fernando Weber. A saída de Weber ocorre 10 dias após Salles afirmar, em uma palestra para ruralistas do estado, que investigaria agentes que atuam no combate a irregularidades ambientais. A fala também foi um dos motivos que levaram à saída do presidente do ICMBio, Adalberto Eberhard, se demitir em 15 de abril.

Os demais a deixar a pasta são os diretores Luiz Felipe de Luca de Souza, da Diman; Leandro Mello Frota, da Diplan; e Gabriel Henrique Lui, da Disat. Conforme o doutor em política e gestão ambiental e desenvolvimento pela Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB), Aninho Irachande Mucundramo afirmou ao Correio nessa terça (23), tem sido costume do ministro demitir funcionários em vez de buscar um consenso.

“A escolha do ministro não obedeceu as prioridades para a gestão ambiental. Éramos um país líder em vários segmentos ambientais, que protagonizava ações ambientais significativas, e (Jair Bolsonaro) escolheu alguém que representa valores diferentes. É uma pessoa que não procura uma solução. Em vez disso, substitui pessoas”, avaliou o especialista. Para Mucundramo as disputas internas no governo Bolsonaro estão ligadas ao DNA da equipe de gestores do presidente, formado, principalmente, por três núcleos distintos e que competem entre si: os militares, os seguidores do astrólogo Olavo de Carvalho e os evangélicos.

Disputa com militares
As ações do ministro também evidenciaram uma disputa interna entre indicados de Salles e a ala militar do ministério do Meio Ambiente. Régis Pinto de Lima assumiu interinamente a presidência no lugar do coordenador geral de proteção, o coronel da reserva do Exército, Antônio César de Oliveira Mendes que, por sua vez, tinha sido indicado como substituto pelo chefe de gabinete do ministro, o também coronel Antônio Roque Pedreira Júnior.

A comunicação do ministério chegou a publicar um texto informando a nomeação de mendes em 17 de junho. Na segunda (22), porém, Salles chamou Régis para conversar e tirou o coronel reformado do cargo. Em vez de informar qualquer mudança em uma nova nota, funcionários simplesmente deletaram a nota que informava da nomeação do militar. Ontem, por e-mail, a assessoria negou que houvesse qualquer conflito.

A saída do presidente
Além de o ministro ameaçar os próprios funcionários em uma palestra com ruralistas, outros motivos também pesaram na saída do antigo presidente, Adalberto Eberhard. Um deles é a conversa, nos bastidores, de uma possível reestruturação do instituto para aumentar o poder de governadores nos estados, com poder até para indicar as representações regionais, o que não ocorre hoje.

Além disso, Jair Bolsonaro também desautorizou fiscais do ICMBio um dia antes da saída de Eberhard. O presidente da República disse que queria que os funcionários destruíssem veículos usados por desmatadores, ação prevista na legislação. A fala do presidente estava em um vídeo postado nas redes.

“Ontem, o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, veio falar comigo com essa informação. Ele já mandou abrir um processo administrativo para apurar o responsável disso aí. Não é pra queimar ninguém, nada né, ninguém não, nada, maquinário, trator, caminhão, seja o que for, não é esse procedimento, não é essa a nossa orientação”, disse Bolsonaro.

Confira matéria do Site Correio Braziliense.

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