A crise de emprego gerada pela epidemia da covid-19 não chegou ao Senado Federal. Os 3 mil assessores dos gabinetes dos senadores custaram R$ 372 milhões em 2020 – menos de 1% abaixo das despesas de 2019. Considerando também os assessores dos gabinetes das lideranças partidárias e cargos da Mesa Diretora, indicados pelos os senadores, as despesas com salários bateram em R$ 463 milhões – média mensal de R$ 35,6 milhões.
A folha de pagamento média nos gabinetes dos senadores ficou em R$ 350 mil. Cerca de 95% desses assessores ocupam cargo comissionado, de livre nomeação – metade deles em exercício nos escritórios de apoio nos estados. Os maiores salários chegam a R$ 27 mil, mas tem vaga a partir de R$ 2 mil, principalmente nos estados.
Mas os 250 servidores efetivos do Senado que trabalham nos gabinetes dos senadores têm renda maior. Pelo menos 130 deles ganham mais que os próprios senadores, que têm salário de R$ 33,7 mil. Um grupo de 34 desses servidores tem renda bruta acima do teto constitucional, chegando a R$ 50 mil, mas sofre o abate-teto e têm que se contentar com o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – R$ 39,3 mil.
Os reis do “cabide de emprego”
Quem mais contratou foi o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), com 83 assessores e uma folha mensal de R$ 624 mil. Ele deu uma despesa de R$ 8,2 milhões ao contribuinte em 2020. Quando foi descoberto pelo blog como líder no ranking do “cabide de emprego”, em 2019, ele comentou: “Se puder, vou ter 100”. Está a caminho de bater a meta.
Mas o gabinete mais caro em 2020 foi o do senador Roberto Rocha (PSDB-MA), com 55 assessores, uma despesa mensal de R$ 626 mil e uma conta anual de R$ 8,5 milhões. O vice-líder do governo no Senado, Eduardo Gomes (MDB-TO), aparece na terceira colocação, com 71 assessores, uma despesa mensal de R$ 570 mil e um gasto anual de R$ 7,7 milhões. Os 66 assessores de Nelsinho Trad (PSD-MS) deixaram uma despesa anual de R$ 7,4 milhões. (veja a lista do cabide abaixo)
Reportagem do blog mostrou que a redução das atividades do Congresso, em consequência da pandemia da Covid-19, resultou em economia mínima. Na execução do orçamento em 2020, os pagamentos caíram de R$ 5,9 bilhões para R$ 5,8 bilhões na Câmara e de R$ 4,4 bilhões para R$ 4,3 bilhões no Senado, em comparação com 2019. Isso ocorreu porque 84% do orçamento das suas casas cobrem despesas com pessoal e encargos sociais. Só os gastos com aposentados e pensionistas ficam em torno de R$ 2 bilhões em cada casa.
Combustível para avião e picanhas
A cota para o exercício do mandato, o “cotão”, teve redução no ano da epidemia, caindo de R$ 27,4 milhões em 2019 para R$ 20 milhões no ano passado. Mas esses gastos não pesam quando comparados com a verba de gabinete. A redução aconteceu principalmente porque as despesas com passagens caíram de R$ 6,6 milhões para R$ 2,2 milhões. Com as sessões remotas no Senado e da Câmara, senadores e deputados vieram menos a Brasília. A verba para locomoção, combustível, hospedagem e alimentação também caiu um pouco, de R$ 3,9 milhões para R$ 3 milhões.
Mas o senador Ciro Nogueira (PP-PI) manteve as suas despesinhas com combustível para avião, que somaram R$ 154 mil. Ele gastou um total de R$ 273 mil com locomoção e alimentação. A despesa mais pesada com alimentação foi no restaurante Marcelo Petrarca, em Brasília, num total de R$ 695 – pouco mais do que uma “ajuda emergencial”. Foram servidos um filé com rapadura, dois estrogonofes de filé e dois “pratos da boa lembrança”. Gastou mais R$ 687 – outra “ajuda” – na churrascaria Rodeio. Só a picanha para duas pessoas saiu por R$ 318.
Os chamados “serviços de apoio ao parlamentar”, que vão de consultorias à contratação de equipes de comunicação social, tiveram pequena redução, de R$ 5,6 milhões para R$ 5,4 milhões. A maior parte da verba de divulgação do mandato está camuflada nessa despesa. Oficialmente, a “divulgação” cresceu de R$ 1,7 milhão para R$ 2,2 milhões. Os gastos com aluguel de escritórios nos estados também caíram pouco – de R$ 3,8 milhões para R$ 3,6 milhões. Uma despesa fora do “cotão”, com correios, teve queda de R$ 1,8 milhão para R$ 1 milhão. O maior gasto foi do senador Irajá (PSD-TO) – R$ 104 mil.
Carros oficiais rodam em Brasília
Houve redução drástica nas despesas com combustível para os veículos oficiais utilizados pelos senadores, mais conhecidos como carros “chapa branca” – uma queda de R$ 580 mil em 2019 para R$ 260 mil em 2020. Mas os veículos de alguns senadores andaram muito em Brasília.
O carro de Ciro Nogueira rodou 20 mil quilômetros e consumiu R$ 10 mil com combustível. O veículo do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) percorreu 29 mil quilômetros e gastou R$ 13 mil. Os dois senadores foram questionados se os carros foram usados por eles ou por servidores. Não houve resposta. O Senado não divulgou as despesas dos três carros do presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP).
O contrato de aluguel de 82 veículos utilizados pelos senadores em Brasília não apenas foi mantido como também teve o valor reajustado de R$ 3,4 milhões para R$ 3,5 milhões por ano em 2020.
As despesas com assistência à saúde de senadores e ex-senadores cresceram de R$ 13,8 milhões em 2019 para R$ 14,9 milhões no ano passado. Além de 78 senadores, há hoje 190 ex-senadores filiados ao plano especial do Senado, mais os seus cônjuges.
Quem mais gastou
senador | cotão* (mil) | assessores (milhão) | total (milhão) |
Roberto Rocha (PSDB-MA) | 372 | 8,5 | 8,9 |
Izalci Lucas (PSDB-DF) | 123 | 8,2 | 8,4 |
Eduardo Gomes (MDB-TO) | 336 | 7,7 | 8,1 |
Nelsinho Trad (PSD-MS) | 405 | 7,5 | 7,9 |
Mailza Gomes (PP-AC) | 375 | 6,7 | 7,1 |
Wellington Fagundes (PL-MT) | 382 | 6,6 | 6,9 |
Telmário Mota (PROS-RR) | 489 | 6,3 | 6,8 |
Fernando Collor (PROS-AL) | 427 | 6 | 6,5 |
Rogério Carvalho (PT-SE) | 485 | 6 | 6,5 |
Irajá (PSD-TO) | 446 | 5,8 | 6,3 |
Plínio Valério (PSDB-AM) | 296 | 5,9 | 6,2 |
Márcio Bitter (MDB-AC) | 461 | 5,7 | 6,2 |
Ciro Nogueira (PP-PI) | 419 | 5,7 | 6,1 |
Zequinha Marinho (PSC-PA) | 422 | 5,7 | 6,1 |
kátia Abreu (PP-TO | 282 | 5,6 | 5,9 |
(*) inclui correios, diárias e passagens | |||
Fonte: Senado Federal |
Lúcio Vaz
Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas. Autor dos livros “A Ética da Malandragem – no submundo do Congresso” e “Sanguessugas do Brasil”. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.
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